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Crianças e TV: qual o limite?

30/10/2011

Problemas na atenção, no aprendizado e sobrepeso à criança podem ser algumas das situações mais comuns. Tudo em excesso é prejudicial e a TV não foge a essa regra.
Madson Moraes

A televisão chegou ao Brasil em 1950 e com ela trouxe a possibilidade de se emocionar com as histórias das novelas, de encantar as massas com os festivais de músicas e, por que não, de fazer as pessoas sonharem. Há quem defenda que a televisão democratiza as informações, enquanto outros afirmam que ela "aliena". Mas às crianças, qual a influência da televisão na vida delas? Assistir TV em excesso é prejudicial?

Segundo a Academia Americana de Pediatria, crianças abaixo de 2 anos não deveriam ser expostas à TV e, acima disso, até 5 anos, no máximo uma hora ao dia. O mesmo vale para os outros eletroeletrônicos como videogames e afins. Segundo o pediatra Moises Chencinski, autor do livro "Gerar e nascer - um canto de amor e aconchego" (2008), tudo em excesso é prejudicial e assistir televisão não foge a essa regra.

Para ele, problemas na atenção, no aprendizado e sobrepeso podem ser algumas das situações mais comuns. "Quando a criança come e não presta atenção no que e no quanto está comendo, são grandes as chances de desequilíbrio alimentar, gerando, não raro, problemas posteriores associados ao apetite", explica o pediatra.

Quando falamos em TV, explica Moises, estamos resumindo um problema que hoje é muito mais amplo. Podemos associar, na mesma situação, os computadores, videogames, DVDs, IPods e outros eletroeletrônicos que as crianças acessam com grande facilidade. Segundo o pediatra, vivemos hoje em um mundo onde diminuímos as distâncias e paradoxalmente afastamos as pessoas.

Babás-eletrônicas?

Já há algum tempo, a mulher iniciou sua busca por um espaço de igualdade no campo profissional, estando cada vez mais envolvida e comprometida com as aspirações pessoais, sendo parte importante da renda familiar. O homem, por sua vez, se mantém desde sempre ativo profissionalmente e com responsabilidade no sustento da família.

Dessa forma, o "homem-pai" e a "mulher-mãe" só têm contato com suas "crianças-filhos" no período da noite, quando esses deveriam estar se preparando para dormir e aos finais de semana quando teriam o tempo todo disponível para fortalecer o vínculo familiar. Como ambos chegam em casa à noite cansados, o pouco tempo que possuem dividem-se entre os afazeres domésticos e a atenção que devem dar aos filhos.

"Criaram-se, assim, as babás-eletrônicas como a TV, os DVDs, os computadores, entre outros. Além do "desvínculo familiar", esse hábito, que se inicia cada vez mais cedo, pode trazer uma série de problemas bio-psico-físico-sociais a essa criança-filho a curto, médio e longo prazo", explica o pediatra.

Dessa maneira, ressalta, é importante esclarecer que o excesso de TV e dessas "babás eletrônicas" é uma consequência de todo esse panorama e não sua causa. Uma das razões para as crianças passarem tanto tempo em frente da TV é essa mudança na dinâmica da família. Segundo o pediatra, para os pais é mais cômodo, mais fácil, menos trabalhoso e mais prático do que ter que ajustar uma nova rotina após um dia longo de trabalho.

Proibir a TV é a melhor alternativa?

Proibir nunca é o ideal, esclarece o pediatra. O mais recomendável seria que os pais pudessem se programar melhor para suprir seus filhos do contato, do vínculo e da atenção tão necessárias na fase de formação da criança. "Brincar com eles, contar histórias, desenhar, cantar ou dançar são atividades que geram muito mais interesse e desenvolvem muito mais a imaginação, o lúdico e o vínculo familiar dessa criança em desenvolvimento", afirma Moises.

Dessa maneira, se os pais compreendessem que a partir do nascimento do filho há outras prioridades e, se a rotina fosse outra, certamente não seria necessário proibir a TV. O espaço que sobraria para essa atividade seria certamente engolido por outra mais interessante junto à família.

Para que as crianças não fiquem reféns da TV, o pediatra recomenda aos pais que no momento em que não estiverem em casa, podem pedir às avós e as babás estabelecerem uma rotina que não incluísse a TV pelo menos até os 2 anos e limitasse seu uso após essa idade. A escolinha ou berçário podem ser uma opção para quando houver dificuldade de deixar essas crianças com alguém da família ou com babás.

"A TV não pode ser uma razão para que as crianças não queiram sair de casa, para que elas se privem do contato social, da atividade física saudável e regular, da alimentação equilibrada e do ambiente de refeições calmo para que o alimento possa ser apreciado e não engolido", explica o pediatra.

Para as noites da semana e finais de semana, toda e qualquer programação precisa incluir a criança como parte interessada. Quanto mais nova a criança, maior essa necessidade. Eventualmente ou quando essas crianças crescem mais a ponto de poder ficar sob os cuidados de parentes, algumas programações feitas a dois, homem-mulher (casal não pais), também são importantes. Para o pediatra, deixar um tempo limitado para TV e seus semelhantes é uma possibilidade que pode ser real, simples e gratificante.


Essa matéria foi publicada no site Tempo de Mulher (30/10/2011), no blog Mundo Dehlla (30/03/2012)

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545