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O bisfenol-A (BPA) está proibido nas mamadeiras
08/10/2011
RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA
RESOLUÇÃO - RDC No- 41, DE 16 DE SETEMBRO DE 2011
Dispõe sobre a proibição de uso de bisfenol-A em mamadeiras destinadas a alimentação de lactentes e dá outras providencias.
Art. 1º Fica proibida a fabricação e importação de mamadeiras para a alimentação de lactentes que contenham a substância BPA [2,2-bis(4-hidroxifenil) propano, CAS 000080-05-7] na sua composição.
§1º Os fabricantes e importadores têm 90 (noventa) dias a partir da data de publicação desta Resolução para cumprimento do previsto no caput.
§2º Os produtos fabricados ou importados até o prazo definido no §1º podem ser comercializados até 31 de dezembro de 2011.
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
DIRCEU BRAS APARECIDO BARBANO
Até que enfim o bisfenol-A (BPA) foi proibido.
É isso aí. Agora sim. Dá-lhe ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Tá tudo muito bom. Tá tudo muito bem.
Mas alguém sabe ou pode me explicar o que é o BPA?
E por que esse tal de BPA é tão prejudicial?
Então vamos lá.
Apresentando a vocês ele, o vilão:
Esse é o BPA, produzido pela condensação da acetona (daí o A) com dois fenóis (daí o bisfenol).
Até que ele não parece tão feio, não é mesmo?
Alguns diriam que ele tá com uma cara tristinha, até é simpático, bonitinho, simétrico, nem parece fazer mal.
Adiantou alguma coisa?
Não, né?
Acho que precisamos ir um pouco mais a fundo nessas explicações para entendermos melhor tudo o que aconteceu até chegarmos a esse momento, quase bom, que terminou com a RDC da ANVISA.
O que determina se e quando uma mulher pode ou vai engravidar?
E a hora que o bebê vai nascer?
O que indica se já está na hora de produção do leite?
E a menstruação? E a ereção? E a menopausa?
E a osteoporose? O diabetes?
Essas situações do dia-a-dia que acontecem sem que a gente saiba como, são principalmente reguladas por 2 sistemas: NEUROLÓGICO E ENDÓCRINOLÓGICO.
E na maior parte das vezes é difícil separar a ação de um da ação de outro, razão pela qual costumamos falar sobre o SISTEMA NEURO-ENDÓCRINO.
Vamos, mesmo assim, para simplificar, falar somente sobre o SISTEMA ENDÓCRINO. Ele é composto pelas glândulas que funcionam 24 horas por dia, mesmo que a gente não queira. E elas se comunicam e agem em conjunto para promover nosso crescimento, desenvolvimento e amadurecimento saudáveis.
Mesmo quando um deles não funciona perfeitamente, os outros tentam compensar sua ação.
- Glândulas do nosso corpo
- Hipófise, pineal, tireoide, paratireoide, pâncreas, suprarrenais, timo, ovários, testículos, placenta.
Cada uma dessas glândulas produz, secreta e guarda hormônios que vão agir no nosso corpo em um lugar específico, mas que tem ações no corpo todo.
Por exemplo, a hipófise produz o hormônio do crescimento que faz quase todas as células e tecidos do nosso corpo crescerem. Ela também produz a prolactina que estimula o crescimento da mama e regula a produção do leite.
Entre essas glândulas, vamos ao ovário que produz dois hormônios: o estrógeno e a progesterona.
O estradiol (estrogênio) é o responsável pelo estímulo do desenvolvimento sexual feminino (mamas e caracteres sexuais femininos secundários) – HORMÔNIO MULHER.
A progesterona prepara o útero para a gravidez e lactação, mesmo que ela não ocorra – HORMÔNIO MÃE.
E o ciclo menstrual?
Média de 28 dias de ciclo. A primeira fase (14 dias) dominada pelo estrógeno. Ai vem a ovulação (mais ou menos no 14º dia do ciclo) e depois disso vem o predomínio da ação da progesterona. Aí, no final do ciclo, cai a produção da progesterona e a mulher menstrua.
Para engravidar, quando ocorre a fecundação, entra em ação outro hormônio: a gonadotrofina coriônica humana. É ela que se dosa nos testes de gravidez (beta HCG). Aí a mulher está grávida e a placenta assume o papel hormonal preponderante secretando estrogênio e progesterona até o final da gravidez.
Na menopausa (12 meses sem qualquer sangramento), em média entre 45 e 55 anos, há uma parada de produção do estrógeno. Nessa fase vários sintomas desagradáveis podem afetar a mulher. Várias possibilidades de tratamento – reposição hormonal, homeopatia, acupuntura, fitoterapia. A mulher não deve esquecer os hábitos saudáveis, como realização de exercícios físicos, adoção de uma alimentação balanceada e variada, com baixo teor de gordura, ingestão moderada de álcool e evitar fumar. - Disruptores endócrinos
- São chamados de disruptores endócrinos, desreguladores endócrinos ou interferentes endócrinos substâncias químicas que alteram de alguma forma a ação do sistema endócrino e nos hormônios.Essa ação acontece por mecanismos fisiológicos, ligando-se aos receptores de estrogênio de nosso corpo, substituindo os hormônios do nosso corpo, bloqueando sua ação ou aumentando ou diminuindo a quantidade desses hormônios naturais.
Quer dizer que os disruptores são os vilões do mundo?
Não necessariamente. Nem sempre.
Existem muitos disruptores naturais com os quais nós nos acostumamos durante toda nossa vida (há séculos).Exemplo dos mais conhecidos está na soja, que contém um fitormônio muito usado para...????? Isso mesmo, para os calores da menopausa, agindo como se fosse estrógeno. Essa é uma das razões para ser proibido o leite de soja em crianças abaixo de 6 meses de idade, por exemplo.
Muita gente usa a soja como tratamento para menopausa. Nessa sua ação, a soja, com seu fitormônio, é um disruptor bonzinho. Assim como a soja, podemos citar outros como maçãs, cerejas, ameixas, batatas, cenouras, ervilhas, feijão, salsa, alho, trigo, aveia, centeio e cevada.
A grande diferença é que esse grupo de disruptores não consegue se acumular no nosso organismo e são eliminados de forma natural.
Isso não ocorre entre os disruptores de produtos químicos. Eles também agem como se tivessem a ação de hormônios presentes em nosso corpo, mas se acumulam nos tecidos gordurosos, não são eliminados e passam a funcionar como se fossem os hormônios naturais de nossas glândulas, tomam seu lugar e alteram o funcionamento de nosso corpo.Hoje já há estudos que mostram que o tecido gorduroso funciona como se fosse uma glândula, secretando hormônios que vão interferir em muitas das nossas funções. Essa é uma das razões da briga constante contra a obesidade, o sedentarismo.
E o pior é que muitas dessas substâncias vão para o meio ambiente, muito através de nosso descuido com a natureza, se acumulam no solo, vão para os rios, "viajam" longas distâncias pelo ar também, se acumulam, por exemplo, nos alimentos (isso sem contar os disruptores de inseticidas, pesticidas, fertilizantes) e voltam pra gente, na nossa dieta, por exemplo.
Daí, o estímulo que tem sido dado à alimentação orgânica.
Produto orgânico é o resultado de um sistema de produção agrícola que não utiliza agrotóxicos, aditivos químicos ou modificações moleculares em sementes.
Um cultivo que busca manejar de forma equilibrada, através de métodos naturais de adubação e de controle de pragas, o solo e demais recursos, preservando-os de contaminações e utilizando-os de maneira sustentável, mantendo a harmonia entre homem e natureza. - Agora podemos voltar ao bisfenol-A (BPA)
- Lembram-se dele?
Depois de ser produzido, o BPA é usado, principalmente, na produção de plásticos (policarbonato plástico, que é transparente, resistente, quase inquebrável).
Ele aparece na produção de vários produtos como garrafas de água, mamadeiras, copos infantis de plástico, equipamentos esportivos, obturações e selantes, lentes de óculos, CDs e DVDs e eletrodomésticos.
Resinas epóxi feitas à base de bisfenol são utilizadas como revestimento interno de quase todas as latas de alimento e bebidas, para evitar a ferrugem e prevenir a contaminação externa.
E o BPA pode se desprender desses elementos e aí é ingerido junto com o alimento. Algumas situações especiais podem favorecer essa liberação. O aquecimento é uma delas. Embalagens amassadas também favorecem essa questão. A lavagem das mamadeiras ou recipientes com BPA usando alguns detergentes ou água sanitária também favorecem essa liberação.Ele pode ser usado, também, como inibidor da polimerização do PVC (isso vai ser importante já, já).
O BPA é um desses disruptores endócrinos (agora vocês já sabem o que é isso) que não são naturais e que, se forem ingeridos, se acumulam no nosso corpo, no tecido adiposo e não é eliminado.
O BPA é um desses disruptores endócrinos que tem estrutura parecida com o hormônio da tireoide e ação parecida com a do estrogênio, mas não é nem hormônio da tireoide e nem é estrogênio.
Além da exposição aguda, por exemplo, quando se esquenta uma mamadeira ou copo infantil de plástico, há um agravante muito importante: o efeito cumulativo. Isso quer dizer que quanto mais contato, mais ingestão, mais acúmulo, não havendo eliminação, mais ação prejudicial.
Sentiram o tamanho do problema?
Já está ficando mais claro?
Mas são vários tipos de plásticos, produzidos de formas diferentes e utilizados para os mais variados fins.
Todos eles são policarbonato plástico, ou seja, têm BPA?
Não.Então como eles são identificados?
Sabe aqueles números com umas figuras (símbolo de reciclagem) que aparecem embaixo das mamadeiras ou nas garrafas plásticas de alguns refrigerantes?
Esses números são os identificadores dos tipos de plásticos que existem naquele material, orientando a característica da reciclagem (mas isso é outro assunto que fica para outra vez).
Há uma tabela que explica isso melhor.
Só o 7 (que tem o bisfenol) e o 3 (que, se for metabolizado pode ter o bisfenol na sua composição) são proibidos.
Se for bem observado, ele não está só na composição das mamadeiras. O BPA está presente em revestimento interno de latas, embalagens e utensílios plásticos, copos de plástico para crianças.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) vem, desde o final de 2010, tratando desse assunto em reuniões com as autoridades, especialmente após alguns estudos que mostraram uma possível associação do BPA com abortamentos e malformações do feto, e outras doenças de fundo hormonal, como a endometriose, infertilidade, obesidade, problemas de tireoide, da próstata, diabetes e até ao câncer de mama e não hormonal, como problemas cardíacos, malformações no aparelho auditivo de fetos (esse ainda em estudos com animais).
Em outros países da Europa (França, Dinamarca), no Canadá e em alguns estados dos Estados Unidos, o BPA já foi proibido. No Brasil, a legislação permitia o limite de 0,6 mg da substância em 1 kg de plástico. Essa decisão era baseada no fato de os trabalhos serem feitos com animais e após injeção. Ainda não há trabalhos conclusivos sobre essa ação após ingestão oral, durante a alimentação.
Sabe-se que esses efeitos são mais graves em alguns grupos:
- nas gestantes, que concentram até 5 vezes mais do BPA no líquido amniótico, aumentando o risco, por exemplo, de malformação genital em meninos. E se existe um risco maior de endometriose, isso pode afetar até a fertilidade.
- quem tem histórico de antecedentes familiares de problemas de tireoide ou parentes de primeiro grau (pais, irmão e filhos) que tiveram câncer de mama precisa de maiores cuidados. - E os brinquedos de plástico? Esses não têm bisfenol-A (BPA)?
- Agora que estamos perto do Dia das Crianças, esse é outro assunto bem polêmico. Na Europa, na Argentina foram eliminados das indústrias de brinquedos, todos os que têm BPA e ftalato (outro disruptor endócrino de risco). No Brasil, apesar de não haver essa lei, há a informação que algumas indústrias já substituíram essa dupla por outros componentes e os que ainda não o fizeram deixam essa informação no rótulo.
Só aproveitando a deixa, o ftalato (que está presente em plastificantes do Cloreto de Polivinila e do Acetato de Celulose, vernizes, inseticidas, cosméticos), segundo estudos, estaria associado à redução na qualidade do esperma, com efeitos teratogênicos (malformações dos fetos), podendo causar demasculinização e feminilização. Ele serve para amaciar e tornar maleável o PVC, o tipo de plástico usado na maioria dos brinquedos para bebês e nas bonecas.Mas ainda não há trabalhos conclusivos sobre a ação dessas substâncias tóxicas nos brinquedos.
Há razão para desespero?
Então vamos lá.
- Tem BPA em quase tudo relacionado à conservação e embalagem de alimentos, plásticos, etc.
- Tem BPA nas mamadeiras desde que elas são feitas de material plástico;
- A exposição aguda ao BPA é importante, mas o efeito cumulativo mostra ser pior (pelo menos nos estudos já realizados em ratos, por exemplo);
- O BPA pode ser responsabilizado por muitos problemas de saúde, já estabelecidos, e outros que ainda não são conhecidos, possivelmente pela falta de pesquisa.
Já dá para ficar pelo menos preocupados, não dá?
Mas, como diz aquele ditado, antes tarde do que mais tarde.
O mal que já está feito não tem volta.
Mas podemos nos prevenir desde já contra futuros riscos.
Assim, a RDC da ANVISA vem em uma boa hora e serve como um alerta para esse disruptor endócrino, um entre dezenas conhecidos.
O uso do bisfenol já foi proibido na União Europeia (na Europa essa proibição já tem mais de um ano, mas antes tarde...), no Canadá, na China, na Malásia e na Costa Rica. Onze estados americanos também já vetaram o BPA em mamadeiras e copos infantis.
Por algum lugar precisávamos começar. A retirada das mamadeiras com BPA do mercado, a suspensão de sua fabricação e importação são pequenos primeiros passos para o longo caminho da solução desses problemas. - Dicas para evitar o bisfenol-A (BPA)
- A SBEM sugere, em seu site, dicas importantes de como evitar a exposição ao bisfenol-A, inclusive com dois vídeos bem esclarecedores.
1 - Use mamadeiras e utensílios de vidro ou BPA free para os bebês.
2 – Jamais aqueça no microondas bebidas e alimentos acondicionados no plástico. O bisfenol A é liberado em maiores quantidades quando o plástico é aquecido.
3 – Evite levar ao freezer alimentos e bebidas acondicionadas no plástico. A liberação do composto também é mais intensa quando há um resfriamento do plástico.
4 - Evite o consumo de alimentos e bebidas enlatadas, pois o bisfenol é utilizado como resina epóxi no revestimento interno das latas.
5 - Evite pratos, copos e outros utensílios de plástico. Opte pelo vidro, porcelana e aço inoxidável na hora de armazenar bebidas e alimentos.
6 - Descarte utensílios de plástico lascados ou arranhados. Evite lavá-los com detergentes fortes ou colocá-los na máquina de lavar louças.
7 – Caso utilize embalagens plásticas para acondicionar alimentos ou bebidas, evite aquelas que tenham os símbolos de reciclagem com os números 3 e 7 no seu interior e na parte posterior das embalagem. Eles indicam que a embalagem contém ou pode conter o BPA na sua composição. - E para terminar
- A lista de prováveis disruptores endócrinos químicos é grande e a maioria deles ainda existe por aí, tanto pela sua utilização indiscriminada como pelo nosso descuido com a natureza, jogando e lançando garrafas, restos alimentares e outras substâncias em locais inapropriados e que poderão levar séculos até serem adequadamente destruídos.
Nós não estamos cuidando da Terra e como consequência ela muito em breve vai deixar de cuidar de nós. A Terra está se cansando de nosso descuido, já dando demonstrações muito claras disso através da mudança climática pela nossa agressão à camada de ozônio, com secas, inundações, tsunamis, vulcões voltando a erupcionar.
Já passou da hora de voltarmos a cuidar de nós, da nossa casa e de nosso planeta. Esse pode ter sido um bom primeiro passo. Não vamos deixar isso no esquecimento.
Mas vale ressaltar que apesar de toda essa movimentação e da proibição, ainda não há estudos definitivos e concretos que atestem e associem os danos causados à exposição ao bisfenol-A.
Não há razão para desespero dos pais que usaram a mamadeira até agora ou que deram brinquedos de plástico a seus filhos nos últimos aniversários, natais, dias das crianças. Mas cabe agora uma atitude responsável começando pelo aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, com a introdução da alimentação saudável, com a orientação adequada dos pediatras e dos nutricionistas, evitando, especialmente abaixo de um ano de idade, tudo o que vier em saquinhos, caixinhas ou latinhas.
Além disso, o cuidado com a integridade dos brinquedos das crianças, além da preocupação com acidentes deve ser direcionada à possível liberação do bisfenol
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545