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Cólicas nos bebês. Como resolver? Dá para evitar?

10/12/2011

Poucas são as situações que desequilibram tanto um casal quanto o choro de seus filhos, especialmente nos primeiros 3 meses de vida. E isso acontece independente de ser a primeira gestação ou não.

A sensação de impotência, de estar fazendo algo inadequado, de não ter idéia do que está acontecendo acaba por impossibilitar qualquer raciocínio lógico ou qualquer linha de pensamento mais direcionada a resolver o quadro.

Antes de prosseguirmos, vale a pena um esclarecimento:
-Todos bebês choram.
-Esse choro pode ter várias causas.
-Cada choro é diferente, mas para que se entenda a razão de cada um deles é necessário escutá-los.

Nessa situação, muitas opiniões são dadas, muitos conselhos, até na intenção de ajudar, mas que nem sempre causam o efeito desejado, além de aumentar a angústia dos pais que vêm o problema evoluir sem uma solução adequada.

Assim, familiares mais experientes, como mães, tias, avós, amigas que já tiveram filhos acabam sendo ouvidos para tentar compartilhar essa responsabilidade em busca do alívio do sofrimento de pais e bebês. Mas, a maior parte dessas atitudes é proveniente de crendices populares, sem um embasamento científico e, na maioria das vezes, não atinge seus objetivos, gerando mais e mais ansiedade na mãe, o que pode gerar mais cólicas no bebê.

Chás, ervas, medicamentos, meios físicos (massagens, calor local, pressão, colo) são algumas das tentativas que atuam muito mais na sensação de que os pais estão fazendo algo do que propriamente na situação de cólicas do bebê.

A primeira imagem é a de fome. O leite do peito vem em uma embalagem que não permite saber se ele está sendo utilizado e qual a quantidade que está sendo consumida. Mas o fato de o bebê dormir e de o choro cessar quando amamentado já elucida essa situação.

Porém, o choro de cólicas é um dos que realmente assusta e incomoda por ser constante, ter períodos de melhora e de piora. Esse quadro, que costumava começar por volta da 6ª semana de vida e diminuir muito por volta do 3º mês, terminando por volta do 6º mês, hoje pode aparecer bem mais cedo e até durar mais. Ele é conhecido ainda como cólicas do primeiro trimestre ou cólicas dos 3 meses.

Em caso de aleitamento materno, esse quadro ocorre em menor freqüência e intensidade do que naquelas crianças alimentadas através de mamadeira.

Define-se a cólica do bebê quando ocorrem episódios de choro de mais de 3 horas de duração por dia, durante mais de 3 dias, por semana e que costumam ceder aos 3 meses (regra dos 3). Normalmente, esse quadro ocorre com mais constância à noite (a partir das 18 horas) até de madrugada.

Se fosse só o choro já seria incômodo suficiente, mas as cólicas costumam acompanhar-se de mãos fechadas, perninhas dobradas e se esticando, uma carinha vermelha, parecendo de dor, gases, barriguinha distendida, às vezes alguns episódios de regurgitação ou até de vômitos.

Apesar da evolução da ciência médica, ainda não há uma causa determinante desse quadro. Aparentemente, as cólicas do primeiro trimestre acontecem por uma somatória de fatores, sem que possamos encontrar um único "culpado" para essa situação.

Adaptação do sistema digestivo do bebê
Enquanto na vida intra-uterina o alimento vinha para o bebê através do cordão umbilical, "pré-digerido", agora o alimento vem inteiro para ser aproveitado pelo seu sistema digestório.

Assim, a flora bacteriana intestinal ainda em desenvolvimento, muito estimulada pelo aleitamento materno, pode dificultar a digestão, promovendo aumento da flatulência, gerando mais cólicas.

Também o peristaltismo intestinal, que é o movimento natural dos intestinos, levando o alimento através de todo o trajeto para que ele seja devidamente digerido e aproveitado, está em fase de adaptação. Assim, se a velocidade do trânsito intestinal estiver aumentada, teremos diarréia com possíveis dores e se ela estiver lenta pode promover maior produção de gases.

As enzimas digestivas, como a lactase, também ainda estão em desenvolvimento. A lactose é o açúcar do leite e que pela presença da lactase é quebrada em dois açúcares mais simples (glicose e galactose) que são mais bem absorvidos. Para que haja a formação da flora intestinal adequada (bifidobactérias), uma parte da lactose não digerida vai até o cólon, no final do intestino grosso, e lá promove a colonização do intestino.

Em um grupo de bebês, no entanto, essa insuficiência de lactase, que é transitória, pode acumular muita lactose no cólon, aumentando a incidência de dor abdominal, cólicas, gases e até diarréia.

O próprio amadurecimento do sistema digestório do bebê pode gerar esse quadro. A deglutição de ar durante a mamada quer seja por uma pega inadequada ou pela ansiedade do momento podem contribuir com uma parte.

Trabalhos mostram que crianças em aleitamento materno exclusivo podem ter essas crises de cólicas, porém com início mais tardio (6ª semana de vida) se comparadas às crianças com aleitamento misto ou só artificial (2ª semana de vida).

A alimentação materna é outra questão a ser discutida. Alguns estudos associam o leite de vaca, cebola, chocolate, repolho, brócolis e carnes vermelhas da alimentação materna com um aumento na incidência e intensidade da cólica.
Outros fatores
O fumo durante a gestação e no período da amamentação pode aumentar o risco de o bebê apresentar cólicas, segundo concluem alguns trabalhos.

O fator emocional e a dinâmica familiar também podem interferir nesse prognóstico.

Fatores como insatisfação sexual, experiências estressantes, traumas de parto, isolamento social, insegurança ou excesso de interferência na vida das mães enquanto cuidam de seus bebês são devem ser levados em conta nessa situação.

Como curiosidade, um trabalho mostrou que recém-nascidos de mães solteiras apresentaram 70% a mais de chance de terem cólicas do que bebês de mães casadas ou com relacionamento estável.
Quais as conseqüências das cólicas?
As cólicas e o choro intenso podem ter um impacto significativo no desenvolvimento, na saúde e bem-estar do bebê, bem como de toda a sua família.

Alterações de sono, de humor, do apetite podem acabar interferindo na saúde física, social e até na dinâmica familiar.

Pela ansiedade, a automedicação, a mudança ou introdução de alimentos novos sem a devida orientação médica podem causar mais problemas do que a própria cólica que tem prazo para sumir.
O que fazer?
Sempre e em qualquer caso, o médico deverá ser consultado.

Após afastar outras causas para esses sintomas (alergia à proteína do leite de vaca, técnicas inapropriadas de aleitamento, doença do refluxo gastro-esofágico, doença celíaca, entre outros), e após avaliação adequada, algumas orientações gerais e medicamentosas podem ser dadas.

Alopatia, homeopatia, fitoterapia, acupuntura são todas possibilidades terapêuticas desde que receitadas pelo profissional de confiança e habilitado para isso.

Mas, o mais importante nessa situação é que o casal se sinta amparado e seguro para que possa passar por essa fase, junto com seu bebê, de forma menos sofrida possível.


Essa matéria foi publicada na Materlife nº 86 e na revista digital páginas 20, 22 e 24 (fevereiiro/2012).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545