12/01/2012
Todo ano cerca de 20 mil pessoas morrem vítimas de automedicação no Brasil. Entenda os riscos!
Madson Moraes
É batata: apareceu aquela dor de cabeça diária e lá vamos nós tomar aquele comprimido sem orientação médica. Até quanto automedicar-se é prejudicial para a saúde? Tratar da saúde por conta própria é um risco e, dependendo de certos casos, pode até mesmo ser fatal. O que pode ocorrer é que a automedicação pode até anular momentaneamente os sintomas, mas pode também mascarar a doença.
Só para ter uma ideia, o Brasil está entre os cinco maiores consumidores de medicamentos no mundo. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), todo ano cerca de 20 mil pessoas morrem vítimas da automedicação no Brasil. Mas por que a automedicação é tão utilizada pelos brasileiros?
De acordo o médico Yechiel Moises Chencinski, uma definição precisa da automedicação é o uso de medicamentos sem orientação ou prescrição médica, por conta própria ou indicação de pessoas não habilitadas profissionalmente. As causas para isso ser um costume do brasileiro são várias, mas Moises explica que há duas que são bem comuns. "Há questões culturais envolvidas. Os chás, emplastros entre outros tratamentos alternativos, que eram inócuos (não faziam mal), usados desde os tempos antigos, passados de geração a geração e que supriam essa falta de médicos", explica o médico.
Há outra característica, antiga e ao mesmo tempo bem atual, que é a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Não era comum haver médico em todas as cidades e ainda há muitos locais onde esse acesso à orientação médica é bem difícil. Outro fator preponderante, explica o médico, é o custo elevado do tratamento (pagamento de convênios, remédios, internações) que não é acessível a todos e o atendimento público também não é, por enquanto, o mais adequado em todo o país.
Os riscos
Quando sua geladeira quebra ou seu carro para na rua sem explicação, mas com tanque cheio, você, por acaso, se anima em consertar? Entre as vezes que você tentou, quantas delas resolveu de fato o problema? Imagine isso transportado para o corpo humano, que tem suas particularidades, suas características e, associado a isso, uma substância desconhecida que será colocada dentro desse corpo para "consertá-lo".
Além de pensar na automedicação, a "autodesmedicação" também tem um papel importante na falha do tratamento médico. O paciente sente-se melhor e "resolve" suspender o tratamento por conta própria sem nem saber os males que essa atitude pode provocar. Tratamentos como alopatia, homeopatia, fitoterapia não devem ser utilizados (e nem suspensos) sem orientação médica. "Todo caso de automedicação é potencialmente grave", reforça Moises.
Além de poder retardar o reconhecimento de um quadro potencialmente mais grave, o tratamento pode não ser o mais apropriado. Sem contar que nem sempre a dose é a mais adequada e o tempo de tratamento pode não ser correto (se melhoram, costumam suspender o tratamento, mesmo antes do prazo, a auto-desmedicação). Nem todos os efeitos colaterais são previsíveis podendo, inclusive, haver interação com outras drogas que, em conjunto, provocam quadros graves ou induzir alergias.
Reações adversas
Nos casos em que houver reações adversas ao medicamento ingerido por conta própria, a pessoa deve ser tratada imediatamente com o médico. O Dr. Chencinski faz até um alerta para as mães: crianças podem se intoxicar ao tomar medicamentos ao seu alcance como curiosidade, chupando achando que são balinhas, por exemplo. "Como não é possível saber a consequência da intoxicação, o médico deve ser sempre consultado para uma orientação adequada. Se houver risco de morte, o pronto-socorro deve ser procurado o mais rapidamente possível", ressalta.
Mesmo em caso de risco de morte e, talvez até principalmente aí, ninguém que não seja da área médica ou de saúde deveria indicar remédios, mesmo que sejam bem simples como os comprimidos para dor de cabeça. O médico oferece um exemplo para ilustrar: você entraria em um avião dirigido por um motorista de ônibus? Nada contra o motorista de ônibus, mas ele também sabe dirigir, só que não está habilitado a pilotar aviões. "Todos os medicamentos têm contraindicações, efeitos colaterais ou, pelo menos, efeitos indesejáveis. Assim, apenas o médico está habilitado a indicar tratamento medicamentoso", observa Moises.
O que deve ficar claro é que automedicar-se é um risco e nenhuma situação justifica a automedicação. Há uma grande série de medicamentos que não devem ser usados em conjunto e alguns deles dependem, inclusive, do tipo de patologia e do tipo de paciente, se ele tem algum histórico pessoal ou familiar de problema associado.
Essa matéria foi publicada no site Tempo de Mulher - Ana Paula Padrão (11/01/2012)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545