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Entre cães, gatos... e bebês

06/04/2012

Seu filho nasceu e você tem um cachorro, ou as crianças querem muito um. O que fazer? Fomos investigar e a boa notícia é que sim, não tem problema nenhum ter animais em casa. Apenas fique de olho nos cuidados necessários
Por Samantha Melo, filha de Sandra e Tião


Quando a pequena Renata nasceu, a família da psicóloga Sandra Assis teve problemas em saber o que fazer com o adorável vira-lata da família, que a fazia chorar com seus latidos e, anos mais tarde, a fazia espirrar. A solução foi mantê-lo longe do bebê, deixando-o no quintal.Porém, depois que ele morreu e todos já estavam acostumados sem o bicho de estimação, o maior desejo da caçula virou: ter um cachorro. Nenhum jogo, brinquedo ou desenho animado a distraiu e sua vontade foi transmitida aos quatro cantos. No Natal daquele ano, uma pequena Cocker Spaniel a esperava dentro de uma caixa embaixo da árvore. O aparente medo dos primeiros meses de vida não durou e os espirros acabaram. Mas será que é sempre assim? Consultamos especialistas e descobrimos alguns truques para garantir que a convivência seja boa para todo mundo.

Ter ou não ter
É consenso entre pediatras, veterinários e psicólogos que ter um bichinho em casa pode ser muito bom para as crianças – se observados os cuidados necessários de higiene, adaptação e segurança, claro.Para o pediatra Moises Chencinski, pai de Renato e Danilo, os animais de estimação podem influenciar diretamente no desenvolvimento das crianças.

"Além de ajudar a criar noções de responsabilidade e companheirismo, já que a criança terá sob seus cuidados um outro ser vivo, essa relação também impulsiona a coordenação motora e o gasto de energia, já que eles vão querer acariciar, brincar e correr atrás do bichinho", diz o médico. De fato, não são raros os casos em que as crianças dão os seus primeiros passos porque estão buscando se aproximar do animal.

De acordo com a psicóloga clínica Lídia Volpato, mãe de Giovana, estudos também apontam que crianças com bichos de estimação em casa têm mais equilíbrio emocional. "Ou seja, elas são mais tranquilas, e não sentem tanto a pressão dos pais. Outro ponto positivo é a sociabilização: o animal permite que a criança possa visitar outros lugares como o parque ou o veterinário, e ter contato com donos de outros bichos", aponta.

Porém, antes de tomar a decisão de adquirir um, é preciso considerar as necessidades da criança. Há espaço suficiente e adequado para o animal, de modo que ele não fique o tempo todo na área social da casa? A criança tem algum problema de saúde que seria agravado pelo bicho? O pediatra não tem objeções?

E ainda há as questões práticas que não podem ser esquecidas: quem ficará responsável pelos cuidados reais do animal, como alimentar e levar para passear? Você está ciente dos custos com vacinas, alimentação e veterinário? E, principalmente, existe a disponibilidade de ficar com o animal por toda a vida dele?
Quando o animal chega antes
Quando a criança nasce e ele já está lá, quem sofre mais é o bicho. "Naquele momento, o bebê tem pouca interação com o mundo, e não será capaz de entender aquele ser vivo até os quatro, cinco meses", diz Moises.

Já o bicho, que era o "bebê" da casa até então, se depara com uma situação diferente, em que recebe menos atenção, é proibido de entrar em lugares que tinha acesso e ganha mais broncas. "Não é à toa que a maioria dos animais de famílias de recém-nascidos de repente mudam de comportamento e passam a ser mais arredios e a fazer mais barulho", diz a veterinária Isabela Vincoletto, filha de Sônia e Luiz. E aí sim, eles afetam as crianças, que podem se assustar com o barulho, sentir o clima de tensão e ter seu sono e alimentação prejudicados pelo estresse.

Para evitar que o cachorro entre em guerra contra o novo habitante, uma boa estratégia, segundo Isabela, é adiantar essas mudanças para antes do bebê chegar. Os animais ficam confortáveis com rotinas, por isso, interceda aos poucos. Se ele é do tipo que gosta de pular, ensine-o a se conter, sempre demonstrando que você aprecia a companhia dele.

Conforme o enxoval for sendo comprado, você pode ir apresentando o futuro membro da família ao animal. Isabela ensina: "Deixar que o pet cheire o carrinho, o berço e os brinquedos do bebê pode ajudar nesse processo de adaptação. Isso facilita o entendimento do animal, que pode ser recompensado por petiscos a cada bom comportamento."
Quando a criança chega antes
Nesse caso, é preciso que haja adaptação das duas partes. Se o pequeno pediu por um bicho, ela precisa entender que também terá algumas responsabilidades. Pra começar, você pode convidar o seu filho a ajudar a escolher o animal. Mas sem deixar que ele escolha sozinho. É importante que a família toda participe, para que a criança entenda que ela divide a casa com outras pessoas, e que o bicho será de todos. Outra dica bacana é levar a criança junto na hora de comprar ou adotar o bicho.

Já a escolha do nome do mascote pode ser inteiramente por conta dela; dessa forma, ela pode desenvolver autonomia Mas a psicóloga Lídia alerta para que os pais fiquem de olho na maneira como o filho trata o animal: jamais permita que ele seja tratado como um brinquedo descartável. Muitas vezes, as crianças machucam os animais simplesmente porque ninguém as ensinou que são seres vivos e, portanto, sentem dor.

Outras crianças podem assustá-los com sua euforia. Lembra da Felícia, a personagem da Looney Tunes que vivia apertando os bichos de estimação de tanto amor? Pois é, elas não fazem por mal, mas podem acabar mordidas ou arranhadas. Por isso, a psicóloga acredita que uma uma conversa com exemplos práticos é fundamental: "imagina se um amigo seu te desse um susto, você também ficaria bravo, não?"

Eduque a criança a agir sempre de modo gentil, a fazer carinho no pet e brincar com o pet, e a corrigi-lo se ele se comportar de maneira inadequada ou não obedecer.
Quando a criança tem medo do animal
Na maioria das vezes, as crianças têm medo de animais domésticos porque não tiveram contato suficiente com eles ou tiveram uma experiência negativa. Em primeiro lugar, os pais devem disfarçar sua ansiedade com a situação. Acaricie e brinque sempre com o bichinho. Chame seu filho para assistir filmes que falem sobre o relacionamento entre animais e crianças, leve-o ao zoológico e compre livros sobre o tema. Se isso despertar a curiosidade no seu filho, a aproximação tende a ser mais fácil.
Higiene e saúde
Eles podem ser fofos, mas gatos e cachorros abrigam diversos micro-organismos que podem causar doenças, principalmente nas crianças. O pelo, a saliva, as patas, as fezes e a urina dos animais podem esconder alguns perigos a que devemos ficar atentos. Por isso, nunca leve um animal para casa antes de vaciná-lo e vermifugá-lo; isso por si só evita vários problemas. De acordo com a veterinária Isabela, os vermífugos combatem os principais endoparasitas, como vermes, presentes no trato intestinal.

Outros cuidados básicos de higiene são fundamentais: o animal deve ter um local específico para fazer suas necessidades, isso evitar o contato das crianças com as fezes e urina do animal. A escovação previne a queda de pelos, além de auxiliar na manutenção da saúde dos animais. Aspirar tapetes e limpar o chão com pano úmido combate a proliferação de bactérias.

Produtos específicos podem ser utilizados para prevenir pulgas, carrapatos, sarna e micoses, que não chegam a ser parasitas perigosos, mas incomodam muito e se não forem identificados podem evoluir para alergias graves. E claro, manter a periodicidade das visitas ao veterinário é importantíssimo para verificar a saúde do animal e evitar as doenças mais graves. Algumas como a toxoplasmose e a toxocaríase são transmitidas pela urina e fezes de cães e gatos, respectivamente. E nem é preciso falar dos banhos: para os cachorros, o ideal é a cada 20 dias, e para os gatos, recomenda-se no mínimo a cada cinco meses.

O pediatra Moises também recomenda não deixar o pequeno compartilhar alimentos ou a cama com os bichos. Mostre ao seu filho como evitar os "beijos" e lambidas do animal, principalmente próximas ao rosto, e em crianças com menos de 6 meses."E é sempre importante que o animal tenha o seu canto, que sirva para que ele se aproprie, se alimente, faça suas necessidades e durma", diz a veterinária Isabela.

Além disso, os pais devem ter também a noção de que crianças e cães não devem conviver sem supervisão, independentemente da raça. Por mais responsável que seja uma criança, criar um cão é uma tarefa de adultos, portanto, dos pais, que devem zelar pela segurança e saúde dos filhos.

Se você for alérgico a algo, há probabilidades do seu filho também ser. De acordo com o imunologista Michel Dracoulakis, pai de Helena, os sintomas mais comuns são bem amenos. Coriza clara, espirros, coceira no nariz e lacrimejamento são indícios de que talvez o pequeno seja alérgico. No geral, quem já tem reações alérgicas, costuma piorar na presença de animais. Nesse caso, procure o pediatra, que saberá se é preciso tomar um anti-histamínico ou doar o animal.

Com o crescimento, as alergias costumam se modificar em intensidade e causas. Assim, uma criança pode deixar de ser alérgica a pelo de gato quando crescer um pouco. Só o médico pode dizer a gravidade da alergia e se é possível que o pequeno conviva de forma saudável com um animal, hoje ou daqui uns anos.
Melhores raças
Até cães de grande porte podem ser treinados para a chegada do bebê, mas algumas raças têm temperamento mais dócil.

• Bernese
Um dos cães com temperamento mais pacífico e alegre. Eles se dão muito bem com crianças pequenas.

• Basset Hound
Esse cão tem personalidade pacata e é carente. Eles amam crianças.

• Golden Retriever
A sua melhor qualidade é ser tolerante: ele aceita brincadeiras e responde com docilidade.

• Cocker Spaniel
Dificilmente você presenciará maior cumplicidade do que entre uma criança e um Cocker.

• Labrador
É um dos cães mais inteligentes. Eles adoram interagir e são carinhosos com crianças.

• Pug
É supertranquilo e paciente. Eles se dão bem com crianças e têm temperamento doce, embora sejam um pouco frágeis.

• Shi-Tzu
Adoram de colo. Provavelmente é um dos cães que mais vai aguentar os apertões do seu filho.

• West Highland/White Terrier
Rivaliza com as crianças no fator energia. Adapta-se a qualquer ambiente e pessoa.

Gatos das raças Balinês e Siamês também são recomendados. Coelhos e hamsters são ótimos animais para espaços pequenos e crianças mais frágeis.
Consultoria
Isabela Vincoletto, filha de Sônia e luiz, é médica veterinária do laboratório Vetnil. TEL.: 0800-109197, vetnil.com.br; Lídia Volpato, mãe de Giovana, é psicóloga e educadora da Paraná Clínicas. TEL.: (41) 3340-3000, paranaclinicas.com.br; Michel Dracoulakis, pai de Helena, é médico imunologista da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. TEL.: (11) 2613-5110, alergologia.med.br; Moises Chencinski, pai de Renato e Danilo, é pediatra e homeopata. TEL.: (11) 3285-2105, doutormoises.com.br


Essa matéria foi publicada no site da Revista Pais & Filhos (02/04/2012), e na Revista Pais & Filhos nº 505, páginas 44 a 48 (abril/2012), no site Keko Blog (29/06/2012).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545