12/05/2012
O pediatra Moises Chencinski aponta porque o uso da chupeta nos primeiros meses de vida do bebê pode sim prejudicar o aleitamento materno
Quando dizemos que o Dr. Google é um problema para o médico, pois ele não tem filtro e divulga a informação que recebe, estamos nos referindo a toda informação que não venha de uma fonte segura e fidedigna ou as que necessitam de um olhar crítico sobre os seus resultados e consequências.
A bola da vez é o estudo feito por médicos da maternidade da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, nos Estados Unidos, sobre se a chupeta pode estimular o aleitamento materno. Os pesquisadores americanos analisaram os dados de 2.249 crianças nascidas entre junho de 2010 e agosto de 2011 na maternidade e os resultados mostraram que a taxa de aleitamento natural diminuiu de 79% para 68% após a abolição das chupetas, em dezembro de 2010. Além disso, a proporção de bebês que receberam alimentação suplementar aumentou de 18% para 28%. Os autores desse estudo disseram que eles ainda não entenderam o mecanismo que está por trás dessa mudança encontrada em seu hospital, nem eles reivindicam que seus achados devam provocar mudanças radicais imediatas na política relacionada às chupetas. Ao invés disso, eles dizem que os resultados dos seus estudos indicam a necessidade de continuar a pesquisa sobre o papel das chupetas no aleitamento materno para que os hospitais – e, mais importante, os pais – possam ter decisões adequadas sobre como proceder.
O que chama a atenção aqui é que este é apenas um trabalho, realizado em apenas uma instituição, em que os próprios autores colocam suas dificuldades em entender o processo que levou a esse resultado. Portanto, é preciso que fique claro para os pais qual foi o universo da pesquisa e comparar os resultados com os dados concretos que levaram as mais respeitadas instituições de saúde no Brasil e no mundo a recomendar restrições no uso da chupeta, sob pena de prejudicar o aleitamento materno.
A Organização Mundial de Saúde e o Fundo Infantil das Nações Unidas reconhecem instituições que promovam os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, entre os quais está não alimentar as crianças com alimentos ou bebidas externas a não ser que haja indicação médica, e não prover chupetas ou mamilos artificiais. Grupos como a Academia Americana de Pediatria também recomendam adiar a introdução da chupeta. Essas recomendações foram feitas a partir de estudos amplos feitos com grupos variados, em diferentes instituições. Por isso não se pode, de forma alguma, colocar em dúvida a eficácia do programa de aleitamento em que dos 10 passos, a recomendação de não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas é apenas o nono passo.
Por mais trabalhoso que possa ser, por mais difícil que possa parecer, ainda vale a pena investir na orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e evitar ao máximo a introdução das chupetas. Enquanto não houver um estudo mais abrangente e conclusivo é preciso manter o Aleitamento materno exclusivo até o 6º mês, em livre demanda, esticado até o 2º ano de vida como ferramenta indispensável para a promoção da saúde de nossas crianças.
**link para o estudo divulgado nos Estados Unidos
Essa matéria foi publicada no ste Meu bebezinho (08/05/2012).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545