24/06/2012
O inverno abre a temporada de gripes e, consequentemente, corrida às farmácias; médico alerta para riscos da automedicação
Érika Gonçalves
Reportagem Local
Com a chegada do inverno começa também a temporada de tosse, coriza, febre, dores de cabeça, mal-estar e prostração. As doenças respiratórias como alergias, resfriados, gripes, entre muitas outras, levam milhares de pacientes aos consultórios médicos, mas como os sintomas já são conhecidos, é comum as pessoas recorrerem aos remédios usados das outras vezes e que deram bons resultados. Ou ainda seguir a dica do balconista da farmácia, da vizinha ou da avó. Essas são práticas corriqueiras de automedicação que merecem uma atenção especial e muito cuidado, pois pode-se estar colocando a saúde em risco.
"O inverno é a estação que mais favorece a automedicação. Mas o que as pessoas desconhecem é que os sintomas comuns de um simples resfriado também podem indicar algo mais sério como gripe, broncopneumonia, tuberculose e até meningite meningocócica em sua fase inicial", alerta o médico Moises Chencinski, do Rio de Janeiro.
Encontrar quem assuma a compra sem receita não é difícil. A professora aposentada Maria Luiza Moraes Ferreira admite que visita a farmácia por conta própria, mas compra apenas analgésicos e relaxantes musculares. "Como já sei quais funcionam e são melhores para cada sintoma, acabo comprando sem indicação médica, mas nunca tive problemas. Geralmente são conhecidos que disseram que foi bom e então compro também. Mas para outras coisas, além de dor de cabeça ou muscular, procuro o médico", garante.
A também aposentada Maria de Lurdes Fiamengo afirma que o único medicamento que compra sem receita é um antialérgico que já usa a bastante tempo, mas foi indicado pelo médico. "Sempre fui muito saudável, então não precisava ficar tomando remédio. Agora com a idade chegando que a gente começa a ter uma dorzinha aqui e outra ali e nesses casos procuro o médico mesmo", afirma.
Edson Taramelli, comerciante, acredita que o brasileiro é hipocondríaco, por isso consome tanto medicamento sem receita. "Os únicos remédios que tomo são para diabetes, que uso com indicação médica, e laxante, que compro sem receita mesmo. Quem disser que não se automedica está mentindo."
Efeitos colaterais
O especialista destaca que na composição química de medicamentos que são vendidos sem receita médica aparecem substâncias que podem ameaçar a saúde das pessoas. "Dipirona, ácido acetilsalicílico (AAS) e cafeína, entre outros, podem apresentar efeitos colaterais graves. Eles têm contra-indicações de uso por gestantes, mães no período da amamentação e por crianças de até dois anos de idade. E o pior: muitas vezes, o uso desses medicamentos elimina os sintomas que serviriam de alerta para uma doença mais grave", afirma Chencinski.
Ele dá exemplos de outros medicamentos que podem causar riscos por conta do uso indiscriminado. "Medicamentos que apresentam em sua composição a tartrazina (corante amarelo), muito utilizados até em crianças, podem causar reações de natureza alérgica, entre as quais asma brônquica, especialmente em pessoas alérgicas ao ácido acetilsalicílico."
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz e ao Ministério da Saúde), nas estatísticas de 2009, divulgadas em 2011, o uso de medicamentos corresponde a 26% dos casos de intoxicação e a 17,57% dos casos de morte informados. "A automedicação deveria ser mais controlada no Brasil porque a demora na procura do médico pode significar um maior risco, inclusive de morte, se a doença não for detectada e tratada a tempo", avalia Chencinski.
Para o especialista, para acabar com a automedicação é necessário haver um grande debate com a participação dos vários segmentos da sociedade, além de implementação de ações governamentais, levando-se em conta os benefícios e riscos da atual legislação. Um melhor acesso da população aos serviços médicos e a educação também são fundamentais, segundo ele.
"O que podemos garantir é que a automedicação é uma prática de risco, amplamente difundida na cultura de nosso povo e que, assim como as campanhas para a conscientização do uso de preservativos, o uso do cinto de segurança, das cadeirinhas nos automóveis e do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, mereceria uma maior atenção", conclui Chencinski. (Com informações do Canal Saúde/Fiocruz)
Essa matéria foi publicada no site Folha Web (22/06/2012).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545