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20ª Semana Mundial de Aleitamento Materno - 2012.
28/07/2012
20ª Semana Mundial de Aleitamento Materno – 1 a 7 de agosto de 2012
ENTENDENDO O PASSADO - PLANEJANDO O FUTURO.
Celebrando 10 anos da Estratégia Global Para a Alimentação na
Infância da OMS e da UNICEF.
Errando é que se aprende.
Mesmo?
E acertando não se pode aprender também?
É realmente necessário errar antes para aprendermos só depois disso?
Se não prestarmos atenção em nossos acertos e não os incorporarmos de forma adequada, corremos o risco de eles virarem erros e só então aprendermos com eles.
E se acreditarmos que precisamos errar para aprender, levaríamos muito mais tempo e correríamos mais riscos na busca do caminho mais adequado.
Que tal pensarmos a respeito de PLANEJAMENTO.
Assim, a campanha da 20ª Semana Mundial de Aleitamento Materno em 2012, comemorada sempre na primeira semana de agosto, nos remete a essa reflexão
Os objetivos da campanha desse ano são relembrar o que ocorreu nos últimos 20 anos a respeito da alimentação infantil, celebrar os sucessos e metas atingidas no contexto regional, nacional e mundial, implementar essa estratégia global, agira para suprir as falhas ainda existentes na política de aleitamento materno e alimentação infantil e chamar a tenção para as políticas e programas de aleitamento materno.
Essa ação requer uma observação e análise sobre o que já foi feito nas semanas anteriores, desde 1992.
- 20 anos de Semana Mundial de Aleitamento Materno
- 1992 – Iniciativa Hospital Amigo Da Criança.
1993 – Mulher, trabalho e amamentação.
1994 – Faça o código funcionar.
1995 – Amamentar fortalece a mulher.
1996 – Amamentação: uma responsabilidade de todos.
1997 – Amamentar é um ato ecológico.
1998 – Amamentar é um barato… o melhor investimento!
1999 – Amamentar é educar para a vida.
2000 – Amamentar é um direito humano.
2001 – Amamentação na era da informação.
2002 – Amamentação: mães saudáveis, bebês saudáveis.
2003 – Amamentação: promovendo a paz em um mundo globalizado.
2004 – Amamentação exclusiva: satisfação, segurança e sorrisos.
2005 – Amamentação e alimentos complementares.
2006 – Amamentação: Garantir este direito é responsabilidade de todos.
2007 – Amamentação na Primeira Hora, Proteção sem demora.
2008 – Amamentação: Participe e Apoie a Mulher!
2009 – Amamentação em todos os momentos: mais carinho, saúde e proteção.
2010 – 10 passos para o sucesso do aleitamento materno.
2011 – Fale comigo! Amamentação – experiência "3D".
Desde a implantação dessa campanha no Brasil observamos uma evolução muito pequena dentro do que se considera como ideal pela Organização Mundial de Saúde que é atingir 95 a 100% das crianças com aleitamento materno exclusivo até 6 meses de vida.
Só para se ter uma ideia, pesquisas mostraram que a média de aleitamento materno exclusivo de 1996 para os dias de hoje passou por uma evolução muito pouco significativa em ternos absolutos, apesar de ser positiva em termos relativos, tendo, por exemplo, quase dobrado nos últimos 2 anos.
1996 – 1,1 mês
1999 – 23,4 dias
2006 – 1,4 meses
2008 – 30,7 dias
2010 – 54,1 dias.
Apesar de ter quase dobrado nos últimos 14 anos, isso repercutiu em um aumento de 33 para 54 dias de aleitamento materno, muito pouco perto dos 6 meses propostos. E isso, mesmo após a meta ter passado de 4 para 6 meses já há quase 10 anos.
- Vantagens do aleitamento materno exclusivo
- Apesar da importância do tema, da evolução da ciência favorecendo pesquisas e novas descobertas e de cada dia mais termos a certeza dos benefícios do aleitamento materno, quase que diariamente temos que travar uma luta para que os resultados finais ainda sejam pouco animadores.
Em 1980, quando foi criado o grupo Amigas do Peito pela atriz Bibi Vogel, fiquei indignado e respondi uma matéria escrita em uma revista (não me recordo qual), considerando que os pediatras eram os maiores responsáveis pelo desmame precoce.
Recebi uma resposta com estatísticas estarrecedoras sobre o assunto e, desde essa época, tenho me proposto a estimular, de todas as formas possíveis, o aleitamento materno, agora exclusivo até o 6º mês de vida e prolongado até 2 anos de idade (ou mais).
Em minha prática diária de consultório observo, entre entristecido e decepcionado, que essa situação não se modificou de forma significativa nesses últimos 30 anos, mesmo com a instituição de políticas favoráveis a uma mudança.
Ainda temos maternidades de grande peso e de reconhecida capacidade técnica aqui em São Paulo que, além de não estimularem o aleitamento materno, chegam a estimular a prática do aleitamento artificial para mães que desejam amamentar com orientações como oferecer complemento caso o recém-nascido passe duas mamadas sem urinar ou como oferecer apenas um seio por mamada (prática não recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo).
Além disso, assim como outros colegas pediatras com quem tenho contato, atendo pacientes que já passaram por outros profissionais não comprometidos com a prática de aleitamento materno exclusivo (AME) até o 6º mês de vida recomendada pela OMS, pela UNICEF, pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e que ao primeiro sinal de dificuldade optam por complementar a mamada com leites artificiais em detrimento de dedicar algum tempo a mais de seu atendimento a orientar formas viáveis de estimular e manter o AME, promovendo a saúde e prevenindo quadros comuns nos dias de hoje como alergias alimentares, obesidade infantil, anemia entre outros. - Licença-maternidade
- Avaliando apenas dois fatores nesse panorama, conseguimos ter uma ideia do todo.
Temos garantida para as mães no Brasil uma licença-maternidade de 120 dias (17 semanas) desde 1998 com salários pagos pelo empregador e descontados por ele (empregador) dos recolhimentos devidos à Previdência Social.
Lei sancionada em 2008, mas que entrou em vigor apenas a partir de 2010 para empresas privadas, concede licença-maternidade não obrigatória de 180 dias (25 semanas) a essas mães em troca de benefícios fiscais para os empregadores.
Em relação a outros países do mundo temos boas e más notícias.
Mesmo se a lei de 2010 fosse obrigatória, as 25 semanas de licença-maternidade nos colocaria em uma posição interessante, porém ainda aquém em relação a muitos outros países, que primam pela qualidade de vida, segundo critérios estabelecidos por pesquisas.
Países como a Alemanha (47 semanas remuneradas), Suécia (47), Noruega (44), Grécia (36), Finlândia (32), Canadá (28), Japão (26), Itália (25), por exemplo, estão à frente de nossa atual legislação de 25 semanas.
Se compararmos com as reais 17 semanas, ainda estamos atrás de países como a França (22 semanas remuneradas), Irlanda (21), Dinamarca (20), Bélgica (18), Espanha (18), Portugal (18).
Mas as boas e surpreendentes notícias é que ainda superamos países como a Áustria (16 semanas remuneradas), Holanda (16), Nova Zelândia (14), Reino Unido (13), Suíça (11) e, espantosamente Austrália (0) e Estados Unidos (0).
Há ainda muitos países que permitem a licença-maternidade de até 1 ano ou mais, porém sem remuneração e nem vamos entrar nessa pesquisa. - A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IAHC)
- A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IAHC) foi uma proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS) em conjunto com o Fundo das Nações Unidas (UNICEF) para promover a adoção de práticas facilitadoras da amamentação nas maternidades em 1990. O Brasil, através do Ministério da Saúde, foi um dos primeiros países que incluíram a IHAC em sua prática governamental de proteção e apoio ao aleitamento (desde 1992).
Para ser considerado Hospital Amigo da Criança, a instituição tem que cumprir os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno/Iniciativa Hospital Amigo da Criança.
1 – Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe do serviço.
2 – Treinar toda a equipe, capacitando-a para implementar essa norma.
3 – Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação.
4 – Ajudar a mãe a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.
5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.
6 – Não dar a recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tenha indicação clínica.
7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia.
8 – Encorajar a amamentação sob livre demanda.
9 – Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.
10 – Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas por ocasião da alta hospitalar.
Entre 1992 e 2004, com a IHAC, foram credenciados no Brasil 301 hospitais (139-na região Nordeste, 59 na Sudeste, 50 no Sul, 37 no Centro-Oeste e 16 na Região Norte).
Em 2012, essa taxa chegou a 335 hospitais, ou seja, um aumento de 34 unidades entre credenciamentos e descredenciamentos nos últimos 8 anos e a atual distribuição mudou pouco em relação à de 2004 (Nordeste – 145, Sudeste – 79, Sul – 52, Centro-Oeste – 38, Norte – 21) com apenas um aumento mais significativo na região Sudeste.
Para que se tenha uma ideia, essa quantidade (335 HAC) representa em média 6 a 7% dos hospitais que temos no Brasil dedicados à maternidade e sua distribuição no país é bem irregular, variando desde 1% no Mato Grosso, passando por taxas de 4 a 5% em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, 7% em São Paulo, Goiás e Amazonas e chegando aos mais altos índices na região Nordeste com 13% no Ceará, 14% na Paraíba e 18% no Rio Grande do Norte.
Segundo a II Pesquisa Nacional de Prevalência de Aleitamento Materno em Municípios Brasileiros, realizada em 2008, essa iniciativa apresenta benefícios reais no estímulo ao Aleitamento Materno Exclusivo (AME):
- A duração média do aleitamento materno exclusivo (AME) em crianças que nasceram em HAC é de 60,2 dias, contra 48,1 dias em crianças que não nasceram em HAC.
- Crianças que nascem em HAC aumentam a chance em 9% para a amamentação na 1ª hora de vida;
- Crianças que nascem em HAC aumentam a chance em 13% para o AME em menores de 2 meses, 8% para o AME em menores de 3 meses e 6% para o AME em menores de 6 meses.
- Redução nas compras de fórmulas infantis, mamadeiras e glicose.
- Redução no tempo de hospitalização neonatal, principalmente pelo contato pele a pele e amamentação na primeira hora de nascimento.
E esses são apenas dois fatores que podem ser observados. - CONCLUINDO
- Se o tema é ENTENDENDO O PASSADO - PLANEJANDO O FUTURO, podemos observar que apesar de muito já ter sido feito, ainda estamos na fase de engatinhar no que diz respeito ao aleitamento materno. Está na hora de nos levantarmos e caminharmos com passos firmes na direção da real solução dos problemas e do real interesse em resolver os problemas.
Muitas perguntas precisam ser respondidas para que possamos planejar e nos preparar para definitivamente atingirmos nossas metas.
- Por que ainda não é OBRIGATÓRIA a LICENÇA-MATERNIDADE de 6 meses (180 dias) como foi decretada a lei dos 120 dias?
- Por que ainda há profissionais que não entendem a importância do ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO até o 6º mês?
- Por que temos apenas 6% dos hospitais que têm leitos de maternidade no país sensibilizados como HOSPITAIS AMIGOS DA CRIANÇA?
- Por que muitas mães ainda preferem que seus filhos nasçam por partos cirúrgicos e não optam pelo parto via vaginal (parto normal)?
O Brasil é campeão mundial de partos cesariana, com uma taxa de 45% (meta da OMS é de 15%), sendo que 32% dos partos são cesarianas no SUS contra 82% na rede particular. 82%.
- Ainda é verdade que os pais buscam o melhor para seus filhos? Então por que muitas mães ainda não estão conscientizadas da importância do ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO até o 6º mês para a promoção de saúde de seus filhos?
Para que possamos buscar, de fato, a saúde de nosso país, diminuindo os índices de doenças crônicas não transmissíveis como a alergia alimentar, obesidade infantil que estão assumindo taxas alarmantes no Brasil temos que buscar um esforço coletivo de todos.
Esse objetivo só será conseguido se todos assumirem sua parcela de responsabilidade. Sem a participação do indivíduo, da família, da sociedade, das escolas, dos pediatras, dos hospitais, dos poderes públicos, do governo e da mídia não será possível reverter esse panorama e a tendência é de riscos gravíssimos para a saúde do país, em um futuro muito mais próximo do que imaginamos (final retirado de outro artigo que escrevi a respeito da obesidade infantil que cabe para finalizar esse artigo).
Essa matéria foi publicada no site Vizinhos de Útero - Gêmeos (31/07/2012)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545