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Educar não é simples e nem fácil

22/07/2012

Se assim fosse, não haveria tantas linhas, tantas abordagens e tantos estudos na área e não precisaríamos recorrer a orientações profissionais para tentarmos solucionar os "problemas de nossos filhos".

Nem todos podem ter acesso a acompanhamento psicológico e educacional de bom padrão, mas um dicionário todos conseguem acessar, se não comprado nas livrarias, pelo menos através da internet (afinal quem não tem computador em casa hoje em dia, não é mesmo?).

Assim, já nas definições dos dicionários (Michaelis, Aurélio, por exemplo) nota-se a abordagem ampla que o termo assume, não se referindo apenas a ministrar conhecimentos, mas também, talvez até mais importante, de criar cidadãos, pessoas capazes de conviver de forma harmoniosa em sociedade.

Michaelis e Aurélio: Educar / Educação
Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Formar a inteligência, o coração e o espírito de alguém. Aperfeiçoamento integral de todas as capacidades humanas. Conhecimento e prática dos usos de sociedade; civilidade, delicadeza, polidez, cortesia.

Porém, ai porém, assim como as artes, a ciência, os esportes evoluem, a educação também teve sua evolução histórica. E por mais que nos "revoltemos" com as atitudes de nossos pais e de nossos avós no que diz respeito às atitudes em relação à nossa criação e educação, não raro nos pegamos repetindo os mesmo modelos, "camuflados" e "justificados" pelos "disfarces" criados pelos "tempos modernos".

Até por não terem acesso à informação ou por ser essa a forma correta de educar, o modelo de família de nossa árvore genealógica era, normalmente, pelo menos em nosso país, um padrão pós-guerra, formado por imigrantes (desde nossa descoberta nos idos de 1.500), onde a sobrevivência era responsabilidade do pai e os cuidados com a casa e com a família era a função da mãe. Meninas criadas para serem mães e meninos educados para serem pais. Assim, o "pátrio poder" era quem determinava os rumos da vida da família. O provedor que se responsabilizava pela manutenção da família também ditava as regras nesse núcleo.

O pai educava e a mãe criava.

E, na maioria dos casos, talvez até pelo fato de os pais não terem a estrutura, o conhecimento e tempo para isso, a educação era exercida pelo poder do medo, da força e o cuidado materno à base do carinho, da compreensão.
Ah! No nosso tempo... Que saudades...
Será que é motivo para saudades mesmo?

Quantos de nós podem dizer e sustentar, de fato, usando a razão, que os nossos tempos eram melhores do que os de hoje?
Melhores segundo que padrões?
Hoje, como antes, temos pessoas "boas" e pessoas "más", honestas e desonestas, calmas e violentas, desigualdades sociais, guerras, lazer, prazer...
Enfim, nós mudamos ou mudou o mundo? Isso é evolução ou involução?
Talvez um dos principais fatores de diferença entre o tempo de nossos antepassados e os de hoje seja a INFORMAÇÃO.

O conhecimento, os estudos o saber não tem nenhum sentido se não puderem ser compartilhados e isso é conseguido através da informação, cada dia mais veloz, cada dia mais imediata.

No "nosso tempo passado" quem controlava a informação e até a censurava de acordo com seu conhecimento era o pai, o homem da casa.

A mulher-mãe assumindo um papel mais ativo nessa educação, o pai se voltando um pouco mais para a criação de seus filhos mudam, aos poucos, esse panorama.

Hoje ambos (pai e mãe), na maioria das vezes, trabalham e a "tarefa de educar" passa para os avós (mais comum A AVÓ), as babás ou berçários (mesmo em crianças de muito baixa idade, lactentes menores de 1 ano de idade). E como dependem desses "auxiliares" sentem-se muitas vezes impotentes para mudar essa situação, por mais desconfortável que ela seja.

E hoje, até nossos filhos são capazes de receber e deter essa e qualquer outra informação de forma muito mais ágil, rápida, eficaz, e sem censura, através do seu controle da internet e suas mídias sociais. Cada vez mais nos aproximamos de pessoas distantes e nos distanciamos das pessoas próximas, pela evolução dos "meios de comunicação".
E qual a relação de tudo isso com a educação de nossos filhos?
A princípio, o processo de educar fragmentou-se em vários responsáveis:

- Os pais permanecem como centro desse processo, porém com muito mais informações sobre modelos, estudos divulgados sobre consequências de suas atitudes nesse processo e uma diversidade maior nas opções e possibilidades.
- A escola mantém e amplia seus "poderes" não só pela questão formal, mas pelo convívio social de nossos filhos com outros filhos ou filhos de outros pais que não necessariamente compactuam com a mesma forma de pensar e educar.
- A mídia que cada vez mais dita comportamentos, tendências, nem sempre (para ser otimista, rsrsr) se preocupa em filtrar a INFORMAÇÃO. A meta é a audiência, em busca do patrocínio que possa garantir a continuidade de sua "liberdade de expressão".
- As autoridades governamentais que estabelecem e devem fazer cumprir as leis através dos conhecidos 3 poderes (aprendemos isso na nossa educação, lembra? – executivo, legislativo e judiciário) também têm o poder de modelar o processo educacional.

Dessa forma, os pais perderam o "poder exclusivo" sobre a educação de seus filhos. Não que isso não acontecesse antes também, mas os tempos eram outros, as ideias e os ideais eram outros, talvez mais adequados à época.
Não nascemos sabendo ser pais. Seguimos modelos
Não se faz cursos para pais ou se faz cursos sim, mas o acesso não é facilitado à população de forma geral (custo, principalmente).
Assim sendo, apesar de os tempos terem mudado, costumamos seguir os modelos que já conhecemos, que são os de nossos pais e avós.
E, se não se bate mais, por ser politicamente incorreto (e de fato inadequado), busca-se outras formas de "opressão" para "educar".
Gritar, castigar, xingar, ofender, humilhar.

Como é que é o nome mesmo hoje em dia de alguém que atinge seus objetivos através de seu poder?

Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, "zoar").
Físico e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima).
Psicológico e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar).
Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar).
Virtual (realizado por meio de ferramentas tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.).

Isso mesmo: Bullying (informações retiradas da cartilha do Ministério da Justiça, publicada em 2010).Era um termo utilizado inicialmente apenas se referindo à pressão que crianças sofriam nas escolas de crianças maiores, mas que hoje pode englobar outras atitudes com a mesma intenção, não é mesmo?
Humilhação (vamos aos dicionários novamente?)
Michaelis e Aurélio: Humilhação
Tornar(-se) humilde. Abater, oprimir a. Vexar, rebaixar, oprimir, abater, sem motivo aparente. Referir-se com menosprezo a; tratar desdenhosamente, com soberba. Submeter, sujeitar. Tornar-se ou mostrar-se humilde; render-se à discrição; humildar-se. Prestar obediência.

Quem gosta de se sentir assim?
Quem aprende algo se sentindo assim?
Quem pode ser feliz sendo tratado dessa forma?

A base tanto do bater, quanto dessas outras práticas que alguns pais utilizam em relação à educação de seus filhos, passa pela necessidade de demonstração do poder na tentativa de manter a hierarquia familiar e indicar qual o caminho "certo" a seguir, na visão desses pais.

Acredito que, na imensa maioria dos casos, a intenção dos pais seja apenas realmente educar, sem o objetivo da humilhação.

Então como ficamos?
Educar continua sendo uma prerrogativa principalmente familiar.
Como competir com a escola, os grupos sociais, a mídia, a internet, trabalhar e ter pouco tempo para ficar com os filhos durante a semana, e muitas vezes aos sábados e domingos também, e ainda assim ser respeitado e admirado pelos filhos?

Não é fácil e, por conta disso, não é rara a busca por ajuda.

Mas há algumas dicas interessantes e mais simples que podem ser postas em prática para "minimizar os danos" e tentar mudar o panorama que se apresenta.
Educar continua sendo uma responsabilidade dos pais
É importante que essa questão nunca fuja do centro da discussão. Independente de tudo o que cerca essa criança, desde a fase de recém-nascido até a adolescência, é fundamental que os pais entendam sua importância nesse processo.
Fortalecimento do vínculo familiar
Conhecemos ex-presidentes, ex-jogadores de futebol, ex-maridos e ex-esposas. Não há ex-pais ou ex-filhos. Relembrando que as famílias são o núcleo de nossa sociedade, poderíamos começar por fortalecer esse vínculo. Mesmo sendo um trabalho de "formiguinhas", mesmo que ele não seja a curto prazo, se cada família fizer a sua parte, com toda certeza podemos iniciar uma "revolução pacífica", uma "guerra de amor" que pode nos trazer benefícios.
Limites são importantes
Essa é uma regra que vale em qualquer tipo de situação ou de relacionamento. E serão os pais a demonstrarem, de forma clara e simples, quais os limites a serem seguidos. Conversar, orientar, sempre, de acordo com a idade de cada criança. Se necessário, uma punição que consiga mostrar à criança a gravidade de sua atitude. Não adianta a criança obedecer aos pais apenas pelo medo e sim por entender o que seja o certo e o errado.
Não se pune erro e sim transgressões
Se depois de analisar a situação a conduta for a punição, tenha sempre a certeza de que a criança sabe exatamente o que aconteceu, se foi intencional ou não. Mas para que a criança consiga distinguir o que é certo do que é errado, para cada padrão familiar e cultural, ela precisa ser orientada. E isso só se consegue com o dia-a-dia, com a constância, a coerência, a conversa, muitas vezes com firmeza no discurso e na atitude. Porém não se deve confundir autoridade e firmeza com violência (física, verbal, moral ou psicológica). Assim, punições cruéis não serão mais eficazes do que uma conversa firme e esclarecedora.
Não aja pelo instinto. Use o coração E a razão como moderadores
Bom senso. Esse é o mote principal. Problema? Cada um de nós tem o seu bom senso. Verdade. Mas nas questões capitais, se ele não for idêntico será muito próximo. Raramente teremos, dento de uma mesma cultura, bons sensos antagônicos ou inconciliáveis. É importante aquela velha história do contar até 10. E é fundamental que os pais conversem e alinhem uma forma de atuação que seja cabível para a maioria dos casos e situações mais comuns antes mesmo de elas acontecerem. Agindo assim, dificilmente serão pegos de surpresa e terão reações tão inesperadas que possam interferir de forma prejudicial na vida de seus filhos.
Em caso de dúvida, um profissional poderá ser consultado
Quando as tentativas foram quase esgotadas ou quando houver uma divergência familiar quanto ao próximo passo a ser tomado ou sempre que o casal sentir necessidade, não há nenhum demérito em buscar ajuda de um profissional. As consultas pediátricas de rotina já podem identificar algum tipo de problema. Questões de alimentação (meu filho não come ou come demais), sono (meu filho dorme tarde, só dorme na cama com os pais, não consegue acordar cedo), problemas na escola (queda de aproveitamento, mudanças no comportamento), por exemplo, podem ser detectadas e orientadas em uma forma inicial durante as visitas regulares ao pediatra. Por indicação desse profissional ou até mesmo por orientação da escola, uma avaliação psicológica ou psicopedagógica pode ser extremamente benéfica nesse processo. Ninguém nasce sabendo ser pais e não é vergonhoso admitir desconhecimento. A busca de ajuda pode ser um ótimo recurso para orientar ou corrigir detalhes que podem fazer a diferença.

Em tempo, vale ressaltar que essa é a abordagem e opinião de um pediatra (mais de 30 anos de formado), homeopata (cerca de 15 anos de experiência), pai de 2 filhos (30 e 28 anos de idade), sem nenhuma pretensão de ser ou parecer um psicólogo.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545