28/07/2012
O Pediatra Moises Chencinski luta para que as mães dêem apenas o leite materno aos filhos até o sexto mês de vida e o aleitamento prolongado até mais de dois anos de idade. A Semana Mundial de Aleitamento Materno completa vinte anos com motivos para celebrar os resultados, mas propondo uma reflexão que possa corrigir falhas e chamar a atenção para as políticas e programas de aleitamento materno e alimentação infantil.
A semana do aleitamento materno em 2012 vai ocorrer entre os dias 01 e 07 de agosto e tem como lema "Entendendo o Passado – Planejando o futuro". O principal objetivo é relembrar o que ocorreu nos últimos 20 anos a respeito da alimentação infantil. Para os organizadores do evento é hora de celebrar os sucessos e metas atingidas, mas também de agir para suprir as falhas ainda existentes na política de aleitamento materno e alimentação infantil.
Desde 1996 a média de tempo de aleitamento materno no Brasil subiu mais de 70%, passou de 33 para 54 dias. Mas ainda bem longe da meta proposta pela Organização Mundial de Saúde, pelo UNICEF, pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que é de 180 dias. "Em minha prática diária de consultório observo, entre entristecido e decepcionado, que essa situação não se modificou de forma significativa mesmo com a instituição de políticas favoráveis a uma mudança", afirma o Dr. Moises Chencinski. O Pediatra relata que uma das causas para esse resultado está na postura de alguns médicos, "atendo pacientes que já passaram por outros profissionais não comprometidos com a prática de aleitamento materno exclusivo e que, ao primeiro sinal de dificuldade, optam por complementar a mamada com leites artificiais".
Outra postura que, segundo o Dr. Moises, contribui para desestimular as mães a vencer as dificuldades e manter o aleitamento é o procedimento adotado por algumas instituições. "Ainda temos maternidades de grande peso e de reconhecida capacidade técnica aqui em São Paulo que, além de não estimularem o aleitamento materno, chegam a estimular a prática do aleitamento artificial para mães que desejam amamentar com orientações, como oferecer complemento caso o recém-nascido passe duas mamadas sem urinar ou como oferecer apenas um seio por mamada (prática não recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria)".
O Dr. Moises Chencinski não tem dúvidas que a alta incidência de obesidade infantil, alergias alimentares, anemia e outros problemas de saúde que acometem nossas crianças nos dias hoje estão relacionados ao desmame precoce.
Os 10 Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno
335 unidades hospitalares no Brasil receberam o título de Hospital Amigo da Criança por seguirem normas e procedimentos que favorecem o pleno desenvolvimento infantil. As instituições estão distribuídas assim: 145 no nordeste, 79 no Sudeste, 52 no Sul, 38 no Centro-Oeste e 21 no Norte do Brasil.
"Para que se tenha uma ideia, essa quantidade (335) representa em média 6 a 7% dos hospitais que temos no Brasil, dedicados à maternidade e sua distribuição no país é bem irregular, variando desde 1% no Mato Grosso, 4 a 5% no Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, 7% em São Paulo, Goiás e Amazonas e chegando aos mais altos índices na região Nordeste com 13% no Ceará, 14% na Paraíba e 18% no Rio Grande do Norte", explica o Dr. Moises.
Para alcançar o título de hospital amigo da criança a unidade deve seguir os seguintes passos:
1 – Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe do serviço.
2 – Treinar toda a equipe, capacitando-a para adotar essa norma.
3 – Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação.
4 – Ajudar a mãe a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.
5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo que sejam separadas de seus filhos.
6 – Não dar a recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tenha indicação clínica.
7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia.
8 – Encorajar a amamentação livre.
9 – Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.
10 – Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas por ocasião da alta hospitalar.
Segundo a II Pesquisa Nacional de Prevalência de Aleitamento Materno em Municípios Brasileiros, realizada em 2008, os hospitais amigos da criança (HAC) apresentaram benefícios reais no estímulo ao Aleitamento Materno Exclusivo (AME):
- A duração média do aleitamento materno exclusivo (AME) em crianças que nasceram em HAC é de 60,2 dias, contra 48,1 dias em crianças que não nasceram em HAC.
- Crianças que nascem em HAC aumentam a chance em 9% para a amamentação na 1ª hora de vida;
- Crianças que nascem em HAC aumentam a chance em 13% para o AME em menores de 2 meses, 8% para o AME em menores de 3 meses e 6% para o AME em menores de 6 meses.
- Redução nas compras de fórmulas infantis, mamadeiras e glicose.
- Redução no tempo de hospitalização neonatal, principalmente pelo contato pele a pele e amamentação na primeira hora de nascimento.
As análises estatísticas Mostram o quanto ainda é importante sensibilizar os médicos e hospitais sobre a importância de estimular o aleitamento materno. Para o Dr. Moises encarar o desafio de mudar esse panorama é a melhor forma de planejar as próximas campanhas de amamentação. "Se o tema deste ano é ENTENDENDO O PASSADO - PLANEJANDO O FUTURO, podemos observar que apesar de muito já ter sido feito, ainda estamos na fase de engatinhar no que diz respeito ao aleitamento materno. Está na hora de nos levantarmos e caminharmos com passos firmes na direção da real solução dos problemas e do real interesse em resolver os problemas", conclui.
Os 20 anos da Semana de Aleitamento Materno
1992 – Iniciativa Hospital Amigo Da Criança.
1993 – Mulher, trabalho e amamentação.
1994 – Faça o código funcionar.
1995 – Amamentar fortalece a mulher.
1996 – Amamentação: uma responsabilidade de todos.
1997 – Amamentar é um ato ecológico.
1998 – Amamentar é um barato… o melhor investimento!
1999 – Amamentar é educar para a vida.
2000 – Amamentar é um direito humano.
2001 – Amamentação na era da informação.
2002 – Amamentação: mães saudáveis, bebês saudáveis.
2003 – Amamentação: promovendo a paz em um mundo globalizado.
2004 – Amamentação exclusiva: satisfação, segurança e sorrisos.
2005 – Amamentação e alimentos complementares.
2006 – Amamentação: Garantir este direito é responsabilidade de todos.
2007 – Amamentação na Primeira Hora, Proteção sem demora.
2008 – Amamentação: Participe e Apoie a Mulher!
2009 – Amamentação em todos os momentos: mais carinho, saúde e proteção.
2010 – 10 passos para o sucesso do aleitamento materno.
2011 – Fale comigo! Amamentação – experiência "3D".
A licença Maternidade pelo mundo
Temos garantida para as mães no Brasil uma licença-maternidade de 120 dias (17 semanas) desde 1998 com salários pagos pelo empregador e descontados por ele (empregador) dos recolhimentos devidos à Previdência Social.
Lei sancionada em 2008, mas que entrou em vigor apenas a partir de 2010 para empresas privadas, concede licença-maternidade não obrigatória de 180 dias (25 semanas) a essas mães em troca de benefícios fiscais para os empregadores.
Em relação a outros países do mundo temos boas e más notícias. Mesmo se a lei de 2010 fosse obrigatória, as 25 semanas de licença-maternidade nos colocaria em uma posição interessante, porém ainda aquém em relação a muitos outros países, que primam pela qualidade de vida, segundo critérios estabelecidos por pesquisas.
Países como a Alemanha (47 semanas remuneradas), Suécia (47), Noruega (44), Grécia (36), Finlândia (32), Canadá (28), Japão (26), Itália (25), por exemplo, estão à frente de nossa atual legislação de 25 semanas.
Se compararmos com as reais 17 semanas, ainda estamos atrás de países como a França (22 semanas remuneradas), Irlanda (21), Dinamarca (20), Bélgica (18), Espanha (18), Portugal (18).
Mas as boas e surpreendentes notícias é que ainda superamos países como a Áustria (16 semanas remuneradas), Holanda (16), Nova Zelândia (14), Reino Unido (13), Suíça (11) e, espantosamente Austrália (0) e Estados Unidos (0).
Há ainda muitos países que permitem a licença-maternidade de até 1 ano ou mais, porém sem remuneração.
Essa matéria foi publicada no site Jornal Saúde e Lazer (27/07/2012), no site Guia Viver Bem (30/07/2012), no site Plena Mulher (01/08/2012), no portal Fator Brasil (03/08/2012).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545