13/08/2012
A insônia também acontece na infância e as causas vão de doenças até o descuido dos pais com a rotina. Saiba como melhorar o sono das crianças
Por Marisa Sei
Estima-se que um terço da população mundial sofra de insônia, que se caracteriza pela dificuldade de iniciar ou manter o sono. E esse problema não é exclusivo dos adultos: segundo dados da Associação Mundial de Medicina do Sono, 25% das crianças dorme menos do que deveria. Isso pode prejudicar o desenvolvimento, já que 90% do hormônio do crescimento nessa fase é liberado durante o sono.
"Cada um de nós, incluindo nossos filhos, tem sua necessidade própria de sono. A orientação é que crianças de 1 a 6 anos durmam de 10 a 12 horas por noite e, após essa idade, de 8 a 10 horas, mas isso não é uma regra", ensina o pediatra Yechiel Moises Chencinski. Mais importante é que os pais percebam que a criança está conseguindo manter uma noite tranquila e acordando disposta.
Não quer dormir por quê?
As causas da insônia na infância são diversas. "Problemas emocionais, atividades extracurriculares, cobranças, ambiente familiar conturbado e doenças (desde as mais complexas como o refluxo gastroesofágico até as mais simples, como um nariz entupido) podem ser fatores que influenciam no sono", lista o pediatra. Portanto, os pais devem ficar atentos caso a criança apresente irritabilidade excessiva, choro sem causa aparente, mudança de comportamento e piora no desempenho escolar. O ideal é procurar ajuda médica para verificar a causa da insônia e tratá-la.
No entanto, noites maldormidas também podem ser resultado de maus hábitos, como dormir com a televisão ligada. Assim, descartadas as patologias que atrapalham o sono infantil, a causa pode ser a falta de cuidados dos pais. "Muito depende da rotina e dos rituais estabelecidos pelos pais para que a criança adquira o bom hábito do sono regular. É preciso colocá-la na cama na hora certa", diz Chencinski. Ou seja, é importante que os pequenos caiam no sono sempre no mesmo horário, especialmente se têm compromissos logo de manhã, como ir à escola.
Durante o dia, rever os hábitos também pode melhorar o descanso noturno. Segundo estudo realizado pela Academia Americana de Pediatria, crianças que assistem a conteúdos violentos na televisão, internet ou videogame durante o dia estão mais propensas a ter problemas de sono, como pesadelos, acordar durante a noite e sonolência diurna. É dever dos adultos, portanto, controlar o tempo de uso desses aparelhos pela criançada e estimular atividades relaxantes antes de dormir.
Barrando as consequências
"A criança que não dorme direito pode ter alterações de humor e de apetite, desatenção nas atividades escolares e cotidianas e problemas no crescimento. Os sintomas devem ser informados ao pediatra, que dará os encaminhamentos necessários para resolver esse quadro", indica o médico. Assim, se a falta de sono for frequente, consultar um pediatra é essencial para detectar problemas de saúde ou emocionais.
O tratamento começa sempre com a revisão dos hábitos da criança e dos adultos que convivem com ela. "Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mostra que a disponibilidade emocional das mães na hora de colocar seus filhos para dormir foi importante fator para que eles adormecessem mais facilmente e não acordassem à noite. Podemos entender como disponibilidade emocional o fato de os pais prestarem atenção e atenderem suas crianças de forma tranquila, promovendo atividades calmas e que envolvam algum contato com elas antes de dormir", comenta Chencinski. Isso quer dizer que, ordenar sem paciência para as crianças irem para a cama pode não trazer bons resultados. O melhor é ensiná-las desde cedo o horário correto para dormir, além de fazê-las descansar em seu próprio quarto, sozinhas.
Para ajudar os pequenos a relaxarem, o pediatra pode recomendar medicamentos homeopáticos ou fitoterápicos. "É comum a indicação dessas medicações para o tratamento de distúrbios do sono, estresse e ansiedade em crianças, pois são de fácil acesso e não apresentam contraindicações e nem efeitos colaterais", afirma o pediatra.
Para dormir bem
- Controle a ingestão de líquidos antes de os pequenos se deitarem.
- Alimentos ricos em cafeína, como chocolate, chá preto e chá-mate, café e refrigerantes devem ser evitados à noite, pois são estimulantes.
- Ao invés de cansar as crianças com atividades que exigem energia, incentive-as a fazer algo relaxante antes de dormir, como ler ou ouvir uma música suave.
- Chá de camomila ou um copo de leite morno pode ajudar os pequenos a dormirem melhor. O leite contém triptofano, aminoácido que participa da produção de serotonina que, por sua vez, regula o sono e dá sensação de bem-estar.
- Desligue a televisão e o computador pelo menos uma hora antes da criançada se deitar. A luz desses equipamentos impede que o cérebro entenda que já é hora de descansar.
Curiosidades
- Ao adormecer, os sentidos se perdem na seguinte ordem: visão, paladar, olfato, audição e tato. E, ao despertar, o tato é o primeiro a voltar. Por isso, encostar nas crianças pode acordá-las.
- A maior parte da liberação do GH, o hormônio do crescimento, ocorre na fase do sono profundo. O GH evita o acúmulo de gordura, melhora o desempenho físico e mantém o tônus muscular.
- Crianças que não dormem pelo menos 10 horas aos 3 anos de idade têm mais chances de serem obesas aos 7 anos. Isso porque a leptina, hormônio que dá sensação de saciedade, também é liberada durante o sono.
Essa matéria foi publicada na revista Na Mochila - edição 22 de agosto de 2.012, páginas 24 a 26 (12/08/2012) e no site da Revista Na Mochila (12/08/2012)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545