12/10/2012
Especialistas esclarecem que a febre é um sintoma e não uma doença e dizem quando a medicação é indicada
Entre os quadros que mais preocupam os pais e que mais os levam a uma consulta de emergência, talvez a febre ocupe um dos primeiros lugares. E, em grande parte das vezes, os pais já medicam seus filhos para esse quadro, até mesmo sem medir a temperatura das crianças. É só eles estarem um pouco mais quentinhos e os pais dão logo um "remedinho".
O pediatra e homeopata Moisés Chencinski, de São Paulo, defende que não é necessário nem recomendável usar o antitérmico para qualquer febre. Segundo ele, o antitérmico receitado pelo homeopata não tem a intenção de curar a doença nem de tratar a febre, mas de aumentar o bem-estarda criança febril, para que possa se alimentar melhor, dormir bem e utilizar suas energias no combate à doença. "A febre, por si só, não agrava a doença, não determina a gravidade dela e nem causa agravações neurológicas. É apenas um indicativo de um processo em andamento e esse, sim,deve ser pesquisado, diagnosticado e tratado. Com a evolução e resolução desse quadro, a febre, juntamente com todos os outros sintomas, irá ceder", afirma.
Em artigo publicado em março de 2011 no jornal Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria (Febre e o uso de antipiréticos em crianças), os autores Janice E. Sullivan e Henry C. Farrar explicam que a febre não é uma doença, mas um mecanismo fisiológico que tem efeitos positivos quando nosso organismo tenta combater a infecção. Ainda segundo o artigo, a febre pode ser benéfica, pois retarda o crescimento e a reprodução de bactérias e vírus, estimulando a produção de neutrófilos e a proliferação de linfócitos. Entre os efeitos benéficos em potencial da redução da febre, os autores destacam o alívio do desconforto do paciente e a redução da perda hídrica insensível, que pode diminuir a ocorrência de desidratação. Por outro lado, os riscos da diminuição da temperatura incluem um atraso na identificação do diagnóstico subjacente e início do tratamento apropriado, além da toxicidade da droga.
Moisés Chencinski afirma ainda que a medicação contra a febre não é uma obrigação e que ela não evitará a convulsão febril, complicação benigna, porém tão temida pelos pais. O pediatra londrinense Milton Macedo de Jesus, no entanto, lembra que crianças que já sofreram convulsões febris estão mais propensas ao agravamento deste quadro clínico e, portanto, devem ser medicadas a partir dos 37,5º de febre. "Já no caso de crianças com doença viral benigna, essas que causam sintomas como coriza, o que predomina nos primeiros anos de vida, só devem ser medicadas se a febre for elevada. Alguns especialistas consideram a febre elevada somente a partir dos 39º, por exemplo", defende.
O homeopata Paulo Elias de Azevedo Albuquerque, de Londrina, também ressalta a individualidade do processo, considerando algumas ressalvas antes de eliminar o uso do medicamento em qualquer caso. "Entre os pontos positivos da medicação está a proteção da criança de uma eventual convulsão, a que estão mais propensas crianças que já apresentaram esse quadro clínico. Por outro lado, a febre é um mecanismo de defesa tentando bloquear o que está ameaçando o organismo, e a medicação pode mascarar o quadro clínico, dificultando o trabalho do médico", afirma.
Para os médicos londrinenses, a febre só deve ser medicada quando trouxer perigo à criança. Para o homeopata, esse perigo deve ser identificado pelo profissional da saúde que conheça o quadro clínico da criança e o comportamento habitual de seu organismo. O pediatra Milton Macedo lembra que vale ainda a sensibilidade dos pais, ao reconhecer a necessidade ou não de medicação e não tomar medidas desesperadas: "A febre é um sinal de que o organismo da criança está reagindo. É frequente que pais corram ao pronto-socorro com a criança que está com febre há poucas horas. O mais adequado é esperar e procurar o médico da família, no horário normal. Febre no pronto-socorro só se estiver causando um sofrimento intenso à criança, que é risco de vida", afirma Milton.
Osprofissionais da saúde concordam ao considerar inadequada a prática de pais que medicam seus filhos com antitérmicos antes mesmo de procurar atendimento médico. Além de mascarar sintomas que podem levar o médico ao diagnóstico correto, camuflando a real causa que deve ser tratada, essa prática aumenta ainda o risco de uma hipotermia, como lembra Paulo Elias. "Existem métodos, além da medicação, para aumentar o conforto da criança febril sem interferir no quadro clínico, como o banho morno", cita. A esta indicação, Milton Macedo acrescenta o aumento da ingestão de líquidos e o cuidado de manter a criança em ambientes com temperatura adequada e bem agasalhada.
Essa matéria foi publicada no site Sucesso Londrina (08/10/2012)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545