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Febre: sinal de alerta

23/10/2012

Especialistas falam sobre quando é realmente necessário o uso de antitérmicos para amenizar a febre em crianças e ensinam a como proceder em casos de crises convulsivas
BEATRIZ VASCONCELOS


Segundo o pediatra Alexandre Nikolay, algumas crianças têm maior propensão genética a convulsões decorrentes da febre.

Sensação de fraqueza, falta de apetite e a vontade de ficar na cama. Quando a criança apresenta esses sintomas, a primeira providência dos pais é aferir a temperatura e, dependendo do caso, levar logo o filho a uma consulta pediátrica de emergência. Alguns só buscam a ajuda médica quando a febre é contínua e permanece por mais de três dias, ou quando existe um outro sintoma associado. O uso de antitérmicos, nesses casos, é uma medida recorrente para aliviar o sofrimento dos pequenos durante algumas horas. Contudo, esse procedimento não é uma recomendação unânime.

O pediatra e homeopata Moises Chencinski diz que muita gente se espanta, quando ele diz não ser obrigatório usar antitérmicos para febre. "Uma criança febril pode ficar mais amuada, alimentar-se mal e tomar poucos líquidos. Dessa forma, quando um pediatra homeopata receita um antitérmico junto com o tratamento homeopático, a intenção não é curar a doença e nem tratar a febre. A ideia é melhorar o conforto da criança para que ela se alimente bem, se hidrate bem, durma bem e consiga usar suas energias no combate à doença", argumenta. Segundo ele, a febre, por si só, não piora a doença, não determina a sua gravidade e nem causa problemas neurológicos a longo prazo.

Para Moises, a medicação contra febre não evita convulsão, que ele considera como complicação benigna, embora seja tão temida pelos pais. Baseado num artigo publicado no Pediatrics, jornal oficial da Academia Americana de Pediatria, o médico justifica que a febre é um mecanismo fisiológico com efeitos benéficos no combate à infecção. O aumento da temperatura corporal retarda o crescimento e reprodução de bactérias e vírus, estimula a produção de neutrófilos e proliferação de linfócitos, ajudando na reação aguda do corpo. "Muitas febres são de curta duração, benignas, e podem realmente proteger o indivíduo. Dados mostram efeitos benéficos em certos componentes do sistema imune na febre, e alguns dados revelaram que ela realmente ajuda o corpo a se recuperar mais rapidamente de infecções virais", observa.

De acordo com o pediatra, entre as vantagens da diminuição do estado febril estão o alívio do desconforto do paciente e a redução da perda hídrica insensível, evitando a desidratação. Amenizar a temperatura, porém, traz como riscos o atraso na identificação do diagnóstico subjacente e o início do tratamento apropriado.

MÉTODOS PALIATIVOS

Segundo a pediatra e alergista Jeanne Alecrim, da Clínica Clinikids, se a febre for baixa e a criança estiver bem, medidas paliativas podem ser suficientes, como tirar agasalhos e reforçar a ingestão de água. "Mas, mediante sinais de queda do estado geral da criança e sonolência excessiva, sou a favor do uso de antitérmico, mesmo com febre baixa, principalmente se houver histórico familiar de convulsão febril", opina.

A médica alerta sobre algumas práticas popularmente conhecidas e contraindicadas, como a utilização de álcool sobre a pele. "Isto pode causar intoxicação, caso o álcool seja aspirado ou absorvido pela pele. Além disso, a temperatura da criança tende a subir mais rapidamente após resfriamento rápido", avisa. O banho para baixar a temperatura, por sua vez, deve ser morno e nunca frio ou gelado, a fim de não causar vasoconstrição na pele e impedir a vasodilatação, que é o mecanismo de defesa para o processo febril.

Convulsão e Delírio

Quanto à convulsão, ela pode ocorrer tanto em febre baixa ou alta, sendo que algumas crianças têm maior propensão genética a esse tipo de ocorrência. O médico Alexandre Nikolay, coordenador da Pediatria do Hospital Santa Lúcia, explica que o mecanismo exato do desencadeamento da convulsão febril não está totalmente elucidado. "A literatura não evidencia qualquer diminuição da inteligência ou aumento da mortalidade entre os que apresentaram este problema, que ocorre entre 2% a 5% das crianças em idade de 6 meses a 5 anos de vida", afirma.

De acordo com o pediatra, crianças maiores de 5 anos não sofrem convulsão em decorrência de febre e não existe correlação entre o valor da temperatura e a crise convulsiva. "Como a convulsão febril é autolimitada e dura menos de 15 minutos, os pais devem proteger a criança de traumas, como pancadas e quedas, procurar o serviço médico mais próximo, e jamais tentar puxar a língua da vítima", orienta. Já o delírio oriundo da febre, diferentemente da convulsão, está ligado à temperatura, sendo observado geralmente quando a criança está com temperatura corporal acima de 39º C. Outra diferença é que, no delírio, o paciente fala coisas sem sentido, mas permanece consciente; nas crises convulsivas, por outro lado, a criança fica inconsciente.

Dicas importantes - O naturopata Augusto Vinholis, que atuou como pediatra durante mais de 30 anos, recomenda não medicar para a febre, caso ela seja de até 38,5ºC, mas, acima desse grau, é importante intervir, devido ao risco de convulsão. "A crise é apavorante para os pais que, muitas vezes, não sabem o que fazer. Nesta situação, a criança corre risco de complicações, como, por exemplo, vomitar e aspirar isso para o pulmão", alerta. "No caso de uma convulsão, vire o rosto da criança para o lado, evitando que ela aspire líquido, e jamais ofereça algo para beber", ensina.


Essa matéria foi publicada no Portal da Comunidade VIP (19/10/2012).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545