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Conhecendo melhor nossa digestão

18/11/2012

Os órgãos do sistema digestório (é assim que se chama agora) propiciam a ingestão e nutrição do que ingerimos, permitindo que seja feita a absorção de nutrientes, além da eliminação de partículas não utilizadas pelo nosso organismo, como a celulose.

Para que haja a digestão, o alimento deve passar por modificações físicas e químicas ao longo deste processo, iniciado na boca.

O trato gastrintestinal é um tubo longo e sinuoso de 10 a 12 metros de comprimento desde a extremidade cefálica (cavidade oral ou boca) até a caudal (ânus).

O trato digestório e os órgãos anexos constituem o sistema digestório. O trato digestório é um tubo oco que se estende da cavidade bucal ao ânus, sendo também chamado de canal alimentar ou trato gastrintestinal. As estruturas do trato digestório incluem: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus.

O comprimento do trato gastrintestinal (medido no cadáver) é de cerca de 9 metros. Na pessoa viva é menor porque os músculos ao longo das paredes dos órgãos do trato gastrintestinal mantém o tônus.

Os dentes auxiliam no rompimento físico do alimento e a língua auxilia na mastigação e na deglutição. Os outros órgãos digestórios acessórios (as glândulas salivares, o fígado, vesícula biliar e o pâncreas) nunca entram em contato direto com o alimento. Eles produzem ou armazenam secreções que passam para o trato gastrintestinal e auxiliam na decomposição química do alimento.

Funções do sistema digestório

1- Destina-se ao aproveitamento de substâncias estranhas ditas alimentares pelo organismo que asseguram a manutenção de seus processos vitais.

2- Transformação mecânica e química das macromoléculas alimentares ingeridas (proteínas, carboidratos, etc.) em moléculas de tamanhos e formas adequadas para serem absorvidas pelo intestino.

3- Transporte de alimentos digeridos, água e sais minerais da luz intestinal para os capilares sanguíneos da mucosa do intestino.

4- Eliminação de resíduos alimentares não digeridos e não absorvidos juntamente com restos de células descamadas da parte do trato gastrintestinal e substâncias secretadas na luz do intestino.

Conheça as fases da digestão

Mastigação
Desintegração parcial dos alimentos, processo mecânico e químico.

Deglutição
Condução dos alimentos através da faringe para o esôfago.

Ingestão
Introdução do alimento no estômago.

Digestão
Desdobramento do alimento em moléculas mais simples.

Absorção
Processo realizado pelos intestinos.

Defecação
Eliminação de substâncias não digeridas do trato gastrintestinal.

Como é o processo da alimentação?

Visão, Olfato, Tato, Audição - a mensagem no cérebro que já faz organismo se preparar para digestão. Aumenta salivação e inicia a produção de suco gástrico.

O alimento sofre na boca ação mecânica (mastigação, trituração – língua - principal órgão do sentido do gosto e um importante órgão da fala, além de auxiliar na mastigação e deglutição dos alimentos, dentes – até 2 anos já estão com 20 dentes e adultos com 32 dentes) e ação enzimática (ptialina e amilase – digestão inicial de carboidratos – açúcar e farinhas).

Faringe e esôfago – Esses órgãos ainda trituram e misturam o alimento, até chegar ao estômago (movimentos peristálticos).

Estômago – Aí ocorre mais trituração e mistura e o alimento fica lá (retido por cerca de 3 horas) para sofrer a ação do suco gástrico (acidez e enzimas digestivas) onde se quebra principalmente a proteína formando o bolo alimentar e isso favorece a absorção de cálcio e ferro. O alimento então é levado pelo intestino através de movimentos peristálticos.

Intestino delgado (6 a 7 metros entre duodeno, jejuno e íleo)
Duodeno – O suco intestinal com enzimas quebram as proteínas em aminoácidos e açúcares, a vesícula biliar quebra gorduras e o suco pancreático neutraliza a acidez, ajudando na digestão de proteínas, gorduras e carboidratos.
Jejuno e Íleo – Aqui, o suco intestinal com enzimas transformam as moléculas em nutrientes que vão ser absorvidos e lançados no sangue. 

Fígado
Os nutrientes ou substâncias que foram absorvidas no intestino para o sangue passam sempre pelo fígado onde ocorre a metabolização dos macro e micronutrientes, mas também de drogas e xenobióticos (substâncias químicas que não são produzidas pelo organismo – drogas, hormônios de alimentos, disruptores endógenos - bisfenol das mamadeiras, por exemplo).
Após essa metabolização essas substâncias saem pela corrente sanguínea e podem ser eliminadas pelo suor (pele), urina (rins) e fezes ou serem absorvidas nos órgãos. 

Intestino grosso (1 a 2 metros)
Ceco (aqui fica o apêndice) 
Cólon (ascendente, transverso e descendente) – Ocorre aqui a absorção de sais e líquidos com fermentação e absorção de fibras pela ajuda de bilhões de bactérias que vivem aí e produzem muco para ajudar a movimentação das fezes.
Reto – onde se acumulam as fezes que esperam para ser eliminadas.

Fezes e gases

Depois que o alimento foi digerido e a parte boa foi absorvida, o que não foi digerido é levado até o intestino grosso onde ocorre a absorção de água, e sais minerais e eliminação do que não foi absorvido na alimentação pelas fezes. 

Aqui estão as bactérias da flora intestinal que ajudam na produção de vitaminas (K, B-12) e favorecem a eliminação das fezes. Aqui a velocidade de movimentação é mais lenta do que no intestino delgado (peristaltismo é menos eficaz porque apesar de ser mais curto do que o delgado é mais largo).Quando as fezes permanecem aqui por muito tempo, boa parte da água é absorvida e elas acabam ficando duras.

Fezes
As fezes são constituídas de três partes de água e uma de sólido. A receita da porção sólida é 30% de bactérias (mais numerosas do que as células que temos em nosso organismo), 30% de material não digerível (como o excesso de fibras) e 40% de resíduos inorgânicos (como substâncias químicas mal processadas) e resíduos do corpo (como alguns glóbulos vermelhos velhos)

Gases – Flatulência
Hidrogênio, dióxido de carbono e metano são produzidos durante a quebra do alimento no intestino grosso. Quando o reto sente o excesso de gases, o cérebro recebe um sinal, para analisar se é uma boa hora para soltá-los. Se for, o esfíncter relaxa, o reto se contrai e o gás é liberado. Em média, uma pessoa pode expelir gases de 10 a 25 vezes por dia.

Composição ideal da alimentação - MACRONUTRIENTES

Proteínas – 10 a 20% - elemento principal na construção e reparação dos tecidos do corpo. As enzimas atacam primeiramente essas moléculas no estômago e elas são quebradas no intestino delgado com a ajuda das enzimas e dos sucos produzidos (do revestimento intestinal e pancreático) no intestino delgado ou no pâncreas criando pedaços menores conhecidos como aminoácidos - pequenos o suficiente para serem absorvidos pelo intestino delgado e irem direto para o sangue.

Carboidratos – 50 a 60% - começam a se quebrar na primeira mordida, continuam a ser quebrados pelos sucos digestivos produzidos no pâncreas e intestino delgado e, depois, são absorvidos no intestino delgado, onde entram na corrente sanguínea. O amido é quebrado da mesma maneira, porém, com mais uma etapa – a quebra produz a glicose, que é armazenada no fígado gerando energia.

Gordura – 25 a 30% - essa é a principal fonte de energia. A bile dissolve a gordura, quebra as moléculas em pedaços menores que são absorvidos pela mucosa do intestino e vão para o sangue e são depositadas em diferentes áreas do corpo todo. 

IDEAL: Gorduras INSATURADAS (líquidas em temperatura ambiente). As gorduras saturadas, ruins, são sólidas em temperatura ambiente (manteiga, margarina, carne, gordura vegetal). 
Outras boas fontes de gordura (ômega 3): castanha, nozes e peixes.

Composição ideal da alimentação - MICRONUTRIENTES

Vitaminas – A, C, B - absorvidas no intestino delgado. Existem dois tipos básicos de vitaminas no alimento que consumimos: a solúvel em água e solúvel em gordura. As vitaminas solúveis em água (vitaminas B e vitamina C) são absorvidas com facilidade junto com a água no intestino delgado, onde são distribuídas pelo corpo através dos vasos sanguíneos. As vitaminas solúveis em gordura (vitaminas A, D, E e K) são absorvidas exatamente como a gordura que mencionamos acima. Entretanto, uma vez absorvidas, elas são armazenadas por longos períodos nas células chamadas adipócitos. As vitaminas solúveis em água (vitaminas B e vitamina C) não ficam no corpo por muito tempo - a quantidade excedente geralmente é eliminada pela urina em uma rápida ida ao banheiro.

Sais minerais – Sódio, Ferro, Cálcio, Fósforo, Magnésio, Zinco.

Composição ideal da alimentação - OUTROS

ÁGUA

FIBRAS

Peixe, carne, frango: Proteínas, gorduras, minerais (ferro), vitaminas (B-12) e xenobióticos.
Leite: Carboidratos, proteínas, gordura, minerais (cálcio e fósforo e pode ser acrescido de ferro nas fórmulas infantis), vitaminas (A, B2 e B-12). 
Leites fermentados com Probióticos. Não é qualquer iogurte que tem Probióticos. 
Ovo: Proteínas, gorduras, minerais e vitaminas.
FLV (frutas, legumes e verduras): Carboidratos, vitaminas, minerais e fibras. Frutas com casca e bagaço sempre que possível (comer melhor do que beber)
Alimentos integrais: Fibras (arroz, macarrão, pão) cereais integrais (com casca).Feijão, ervilha, lentilha, grão de bico – são fontes de proteína vegetal, com minerais (ferro) e fibras (na casca). Mas podem provocar mais gases (fibras).Linhaça e granola (mistura de sementes) – fibras, carboidratos, proteínas e gordura.

O excesso de ____ pode atrapalhar

MACRONUTRIENTES
Proteínas – Rins.
Carboidratos - Sistema digestório (gases), metabolismo (aumenta insulina que aumenta transformação em gorduras).
Gordura – Sistema circulatório (Hipertensão, Acidente Vascular Cerebral, Infarto do Miocárdio), Fígado (esteatose).

MICRONUTRIENTES
Vitamina C – Rins (cálculo renal).
Ferro – Fígado (hemossiderose). 
Cálcio - Rins (cálculos), coração.
Vitamina D - enjoo, desidratação, prisão de ventre e pode aumentar a quantidade de cálcio, elevando a pressão arterial. Pode também gerar pedras nos rins.

O Leite Materno

Não dá para não falar sobre o leite materno.

O colostro é o primeiro leite que a mãe secreta e tem um papel definido na proteção do recém-nascido (contém mais anticorpos e mais células brancas). É rico em proteínas e vitaminas A, E e K além de minerais como zinco e sódio, sendo assim contém menos gorduras e carboidratos. É secretado em quantidades que variam entre 10 e 100 ml/dia, ocorrendo maior produção em multíparas (mães de segunda viagem em diante). Permanece até o 4° ou 7° dia pós-parto.

O leite de transição permanece entre 7° e o 21° dia pós-parto. Nesse período, ocorrem alterações como o aumento da gordura e da lactose, e a diminuição do teor proteico e de minerais.

O leite maduro tem características próprias como diferentes concentrações de nutrientes em uma mesma mamada, sendo eles o leite do começo, rico em proteína, lactose, vitaminas, minerais e água e o leite do fim que contém mais gordura. Por isso é tão importante a recomendação da livre demanda.

Os macronutrientes do leite materno

As proteínas são secretadas entre 1,2 a 1,5 g/100ml/dia, sendo a caseína a proteína mais importante entre elas. A relação entre as concentrações de caseína/proteínas do soro (enzimas, imunoglobulinas, alfa-lacto-albumina) no leite materno e no leite de vaca são LH ~ 40:60% e LV ~ 80:20%; favorecendo o tempo de esvaziamento gástrico no leite humano.

O leite materno também possui a alfa-lacto-albumina que ajuda na síntese de lactose.

As gorduras são secretadas nas quantidades de 2g/100ml/dia no colostro, aumentando para 3,5g/100ml/dia 15 dias após o parto, responsáveis por fornecer 35 a 50% da ingestão energia diária.

São divididas entre triglicérides (90%), colesterol e fosfolípides. Os triglicérides, por sua vez, são divididos entre ácidos graxos (AG) e glicerol. A composição dos ácidos graxos é de 43% saturados e 57% insaturados [láurico (12:0), mirístico (14:0), palmítico (16:0), palmitoléico (16:1), esteárico (18:0), oléico (18:1), linoléico (18:2), linolênico (18:3).

Aspectos nutricionais do Aleitamento Materno

Componente mais variável do leite humano, portanto são necessários cuidados especiais na duração das mamadas e na ordenha manual.
Os carboidratos (lactose, galactose, frutose, oligossacarídeos) aparecem em concentrações de 4% no colostro e 7% no leite maduro, perfazendo 40% das necessidades energéticas. São secretados em quantidades de 7g/100ml/dia de lactose sendo 0.8% de oligossacarídeos, que associados aos peptídeos formam o fator bífido que tem papel protetor do trato gastrointestinal, inibindo infecções oportunas.

Os micronutrientes
As vitaminas estão em concentrações geralmente adequadas, variando conforme dieta materna.
A quantidade de vitamina A no colostro é o dobro da do leite maduro.
A vitamina K protege o bebê da doença hemorrágica do RN, diminuindo as chances de desenvolvimento da patologia.
A vitamina E geralmente atende às necessidades do bebê e a vitamina D quando associada à luz solar evita que os bebês amamentados exclusivamente desenvolvam a deficiência (mas a quantidade de vitamina D do leite materno não supre, sozinha, as necessidades dos lactentes).
As vitaminas hidrossolúveis geralmente são suficientes mesmo em mães vegetarianas ou desnutridas.
A concentração dos minerais não é significantemente afetada pela dieta materna.
A boa relação cálcio:fósforo (2:1) favorece absorção do cálcio e diminui o teor de fósforo contribuindo para a manutenção pH intestinal mais ácido que por sua vez favorece flora benéfica intestinal.Apesar de o ferro apresentar concentrações pequenas no leite humano sua biodisponibilidade é alta, evitando anemia.

Sendo assim, pode-se afirmar que o leite materno é, sem dúvida, o melhor alimento!

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545