25/11/2012
Distraídos com celulares e smartphones, muitos pais expõem seus filhos a riscos desnecessários. E os especialistas creditam o aumento no número de quedas das crianças à popularização de dispositivos móveis. Saiba como evitar acidentes.
Por Camila Carvas
Recentemente, apareceram na internet fotos da modelo Peaches Geldof, 23, passeando com o filho de quatro meses no carrinho pelas ruas de Londres, na Inglaterra, enquanto falava ao celular. Até aí, tudo bem. O problema é que o carrinho virou e o bebê caiu no chão. E Peaches não soltou o telefone em nenhum momento, nem mesmo quando pegou a criança no colo! Pode não parecer, mas ficamos mesmo distraídos ao falar ou escrever no celular. Para muitos especialistas, inclusive, a popularização desses dispositivos móveis tem a ver com o aumento de acidentes não fatais com crianças menores de cinco anos nos últimos anos.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, eles cresceram 12% entre 2007 e 2010. Aqui no Brasil, Renata Waksman, pediatra do departamento materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein, também se pergunta por que o número de atendimentos emergenciais devido a quedas tem crescido anualmente. E a resposta pode estar na palma das nossas mãos. "Quando cuidamos de uma criança, precisamos conhecer os riscos para estarmos atentos e prevenir acidentes", diz o pediatra Moisés Chencinski. "As estatísticas mostram que a maior parte dos acidentes é provocada pela não observação adequada dessas situações. Pais e cuidadores devem estar preparados para agir de forma rápida e eficaz. Enquanto nossa atenção é distraída pelo celular (ou pela TV, ou por outros fatores), uma pequena fração de tempo é suficiente para que ocorra um acidente", explica.
Dados da ONG Criança Segura mostram que as três principais causas de hospitalização de crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos são quedas (48%), queimaduras (17%) e acidentes de trânsito (12%). E por quedas, entenda não apenas quedas de escadas, degraus, árvores, móveis e brinquedos de playgrounds, mas também escorregões, tropeços e passos falsos. "Uma criança no andador que cai num desnível entre duas salas, por exemplo, pode fraturar um membro", diz Renata Waksman, pediatra do Einstein. "É por isso que é fundamental estar sempre atento. Um ambiente seguro é importante, mas é preciso ficar de olho o tempo todo", completa.
Já é sabido que dirigir ou atravessar a rua mexendo no celular aumenta o risco de acidentes. O Código de Trânsito Brasileiro, inclusive, considera infração média dirigir com apenas uma das mãos ou usar fones de ouvidos conectados a telefones. Pensamos que somos multitarefas e realmente não percebemos que estamos distraídos de verdade com esses dispositivos móveis. Ao contrário do que acontece quanto estamos lendo jornais ou assistindo TV, pouca gente se considera distraído quando está "só vendo se algum e-mail chegou". E é aí que mora o perigo.
Em questão de segundos, uma criança pequena pode se virar e cair do trocador, se afogar na banheirinha ou num balde na área de serviço, pode engolir uma peçinha que estava no chão e se sufocar. Por isso, se a mãe está trocando o bebê e o celular avisa que uma mensagem chegou, por exemplo, o ideal é que ela termine a tarefa, coloque a criança no berço e só então cheque o recado. "Pode parecer ridículo, mas concentramos, sim, nossa atenção no aparelho e uma criança pode cair até do colo", diz Renata. Dirigir um veículo – e cuidar dos pequenos - envolve processamento de informação através de nossos sentidos e também atividades motoras. "A atenção dedicada ao celular, quer seja para conversas ou, muito pior, para escrever ou ler mensagens, acessar o Facebook ou o Twitter, pode afetar a percepção da pessoa, que demora mais para prever e identificar riscos e fica mais lento e alheio ao que está ocorrendo", explica o pediatra Moisés Chencinski.
A boa notícia é que pesquisas mostram que cerca de 90% desses acidentes podem ser evitados com atitudes de prevenção. Talvez valha começar desligando o celular! Uma medida simples e ponderada que, além de diminuir os riscos, melhora a qualidade do tempo de convívio com os pequenos. Combinemos: seus e-mails aguentam esperar.
Essa matéria foi publicada no blog da Revista Caras (21/11/2012), no site da Rádio Cultura FM - Maranhão (22/11/2012).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545