Do site JorNow
por Márcia Wirth
28/01/2013
A falta de privacidade em UTIs neonatais pode fazer com que as mães percam o estímulo de tirar leite do peito para alimentar os recém-nascidos de baixo peso. O fato agrava o estado de saúde dos prematuros, que ficam privados de receber o leite enriquecido com anticorpos da mãe, o que ajudaria seu organismo a evitar infecções e problemas gastrointestinais.
"O significado de privacidade pode ser diferente para as mães e para o hospital. E isso exige novas formas de criar privacidade para essas mães que querem amamentar", defende Donna Dowling, autora de um estudo sobre o tema publicado na revista Advances in Neonatal Care.
Para realizar o estudo, Dowling reuniu dados de 40 mães de primeira viagem: 15 que estavam com o bebê internado em salas coletivas da UTI neonatal e 25 que estavam alojadas em quartos privativos.
A princípio, a pesquisadora esperava que as mães internadas nos quartos privativos achariam mais fácil tirar leite do peito para o bebê, pois encontravam-se em locais mais silenciosos. Mas elas não acharam esta tarefa fácil.
A maioria esmagadora das novas mães relatou que o lugar ideal para tirar o leite materno era o lar, sempre destacando a necessidade de privacidade e conforto, pois elas faziam isto muitas vezes ao dia: entre oito e dez vezes por dia, durante 15-20 minutos, para os recém-nascidos nas primeiras semanas e entre seis e oito vezes por dia para manter a fonte de leite depois disso.
As mães relataram que as eventuais interrupções do bombeamento de leite as impediram de fazer o procedimento adequadamente. Muitas mães disseram que tinham medo de se ausentar durante a troca de plantão do intensivista para a retirada do leite, pois a sua ausência num desses momentos significaria horas sem notícias do bebê. As entrevistadas também alegaram desconforto para tirar o leite na frente do médico ou da equipe médica que atendia o bebê na UTI.
Resultado: das 40 mães, 75% disseram que antes de dar à luz planejavam amamentar. Mas quando seus bebês receberam alta, apenas 45% conseguiram atingir o objetivo do aleitamento materno exclusivo.
Interrupções durante o processo e falta de privacidade não eram as únicas preocupações das mulheres. Mães com recém-nascidos na UTI neonatal também tinham que conciliar casa, família e responsabilidades de trabalho, fatores que contribuíram para o insucesso da amamentação exclusiva dos recém-nascidos.
Muitos obstáculos pelo caminho
"As informações reveladas pelo estudo, apesar de desanimadoras, são muito importantes e servem de alerta para todos, dos profissionais de saúde, passando pelos familiares e chegando aos empregadores: as mulheres precisam de condições adequadas para amamentar", defende o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349), que também é autor do blog Mama que te faz bem.
A família, a escola, os profissionais de saúde, a mídia, os órgãos governamentais são parte integrante dessa rede pró-aleitamento. Cada um tem um papel a cumprir: informar, fiscalizar, propiciar condições econômicas, sociais, emocionais para que o bebê possa usufruir do leite materno, permitindo que ele cresça e se desenvolva dentro da totalidade de seu potencial.
"Ainda temos maternidades de grande peso e de reconhecida capacidade técnica aqui em São Paulo que, além de não estimularem o aleitamento materno, chegam a forçar a prática do aleitamento artificial para mães que desejam amamentar. Estas instituições chegam ao cúmulo de orientar as mães a oferecer complemento caso o recém-nascido passe duas mamadas sem urinar ou oferecer apenas um seio por mamada (prática não recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo)", diz o médico.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545