Do site Bebe.com
Quando as crianças ficam doentes, muitas famílias preferem correr para o hospital a marcar uma consulta com o médico dos pequenos, mesmo nos casos mais brandos. Mas é a melhor opção?
por Thais Szegö
21/01/2013
É noite de domingo. A sala de espera do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, está cheia, e muitas das pessoas presentes estão acompanhadas por crianças. A advogada paulista Katia Mourão, 30 anos, é uma delas. Trouxe com o marido a filha Isadora, 2 anos, porque a menina estava com febre. "Notei que ela começou a ficar muito manhosa, que o seu corpinho estava quente, daí o termômetro confirmou as minhas suspeitas", conta. "Achei mais prático vir direto para cá, pois, do contrário, teria que falar com o pediatra somente amanhã. Ele provavelmente marcaria uma consulta, mas nossa agenda está lotada na semana que vem e não há outra pessoa que possa acompanha-la." A publicitária carioca Fernanda Coelho, 28 anos, decidiu ir ao pronto-socorro por puro medo e ansiedade de esperar até o dia seguinte para falar com o médico que acompanha seu filho, Arthur, 1 ano e meio. "Como a maioria das mães de primeira viagem, fico bastante assustada diante de qualquer sintoma e tenho receio de dar remédio por conta própria", diz. "Como o Arthur está muito abatido, com febre e um pouco de diarreia, preferi procurar ajuda hoje mesmo."
Assim como Katia e Fernanda, muitos pais, seja pela praticidade, seja pela falta de tempo ou ainda pela ansiedade, preferem correr para o hospital a entrar em contato com o pediatra e, se necessário, agendar uma consulta. "O fato de o pronto-socorro funcionar 24 horas e ser de fácil acesso faz com que seja bastante atrativo para muitos pacientes que poderiam, tranquilamente, aguardar uma consulta com seu médico de confiança", afirma a pediatra Milena De Paulis, do Hospital Israelita Albert Einstein, que também é membro do Departamento de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo e médica do pronto-socorro do Hospital Universitário da USP. "O problema é que se trata de um local de atendimento de emergências: ou seja, quando há, de fato, risco de a pessoa morrer ou de o quadro se complicar, o que faz com que a atuação do médico tenha que ser imediata", explica a dra. Milena. "Mas, como muitas pessoas procuram o serviço em outras situações, é inevitável que ele fique lotado e haja um grande aumento na insatisfação dos pais e dos pacientes e também um desgaste da equipe." Outro inconveniente: o excesso de gente faz com que a espera fique muito maior. "Assim que o paciente chega, é feita uma triagem e os quadros urgentes são atendidos com prioridade", conta o dr. José Luiz Setúbal, presidente do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. "Os outros demoram cerca de 40 minutos para serem recebidos pelo médico." Em algumas épocas do ano, como o inverno, em feriados, finais de semana e às segundas-feiras, e em alguns períodos como a hora do almoço ou após as 18 horas, em que a procura é ainda maior, o tempo que as pessoas permanecem na sala de espera se torna muito mais longo. "Os casos classificados como menos graves costumam aguardar cerca de 30 minutos, e os sem gravidade, dependendo da época, podem aguardar entre uma e duas horas, em média", calcula a dra. Milena De Paulis. "Os atendimentos mais comuns no pronto-socorro acabam sendo de doenças simples, como resfriados e quadros respiratórios, bronquites, ou infecciosos, como as pneumonias ou diarreias", completa o dr. José Luiz Setúbal.
Além de deixar profissionais, pacientes e acompanhantes bem desgastados, a permanência no pronto-socorro aumenta o risco de os bebês piorarem o quadro. Isso porque a maioria das pessoas que procura o hospital está com alguma doença infecciosa, e aquele tempo na sala de espera faz com que os pequenos entrem em contato com algum outro vírus ou bactéria que esteja no ambiente. "O contágio pode ocorrer por via respiratória, por meio da tosse, por exemplo, ou pelo contato com secreções contaminadas, como a saliva e a coriza", alerta a dra. Milena. "Em se tratando de crianças que, mesmo doentes, gostam de explorar o ambiente e interagir umas com as outras, existe uma possibilidade grande de adquirirem nova infecção."
Por tudo isso, o ideal é sempre procurar primeiro o pediatra que acompanha a criança e conhece seu histórico de saúde. "Assim, a puericultura, que é a pediatria da promoção à saúde e da prevenção, terá sua validade", afirma o dr. Moises Chencinski, pediatra homeopata de São Paulo. Claro, é preciso ter critério antes de ligar no meio da madrugada para o médico, mas você não precisa se constranger de contatá-lo caso seu bebê apresente um sintoma mais forte ou haja um agravamento do quadro, você fique preocupada com alguma reação que a criança apresente após ingerir remédios ou alimentos, ou tenha dúvidas sobre certos cuidados que o especialista recomendou. Os pediatras estão acostumados a ouvir o telefone tocar a qualquer hora do dia ou da noite. Ter um médico atencioso é essencial – assim os pais se sentem seguros e não pensam em recorrer ao pronto-socorro diante de qualquer alteração.
"Na maioria das vezes, é possível resolver tudo com uma orientação pelo telefone e, se for o caso, marcar uma consulta para o dia seguinte", diz a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, da UTI Pediátrica e Neonatal Cirúrgica do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Agora, se o profissional escolhido para cuidar de seu filho não atende o celular, não retorna as ligações nem se mostra disponível para ajudá-la, procure outro. Foi o que fez a advogada paulista Silvana Di Pietro, 33 anos, mãe de Lucas, 3 anos, e Georgia, 1 ano e meio. "Quando o Lucas nasceu, tinha uma médica que sempre parecia incomodada em me atender fora do horário das consultas, mesmo por telefone", lembra Silvana. "Uma vez ele teve febre e uma diarreia muito forte por volta das 22 horas. Como tinha apenas 6 meses, achei melhor entrar em contato. Em vez de me acalmar e orientar, ela disse para eu ir ao hospital, onde existem médicos de plantão a qualquer hora." Depois desse episódio, Silvana trocou de pediatra e hoje conta com um profissional que se mostra mais disponível para ajudá-la com o que for preciso — e em qualquer horário.
Há, sim, situações em que vale a pena correr para o hospital. "Quando o estado geral da criança estiver muito alterado (com prostração, febre alta persistente, oscilação grande de temperatura ou ainda convulsões), procure o serviço de emergência", recomenda o presidente de hospital José Luiz Setúbal. "No caso da febre, se a criança tiver menos de 3 meses de idade e apresentar mais de 37,8º ou se tiver idade inferior a 3 anos e com temperatura maior do que 39°, sem nenhum sintoma como tosse, coriza ou alteração intestinal, também justifica procurar o PS", acrescenta a pediatra Milena De Paulis. "O mesmo vale para recém-nascidos apáticos, pálidos ou roxinhos de repente e sem explicação aparente, em quadros de vômitos incontroláveis (mais de três episódios por hora) ou muita dificuldade para respirar", diz a dra. Milena. Queimaduras, cortes, engasgos, fraturas, traumas na cabeça seguidos por sonolência e reações alérgicas com placas vermelhas pelo corpo ou falta de ar também não podem esperar. Em casos mais brandos, adotar um pediatra atencioso é mais vantajoso do que frequentar esse ambiente nada agradável.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545