Do site da Revista Hospitais Brasil
Mais de 50% da população possui sobrepeso, assim como uma em cada três crianças de 5 a 9 anos.
Por Márcia Wirth - MW CONSULTORIA DE COMUNICAÇÃO
21/02/2013
Desde 1990, a Organização Mundial de Saúde, OMS, através do GBD (Global Burden of Disease Study – Relatório sobre o Ônus Global das Doenças) estuda a influência de doenças e de seus fatores de risco no mundo, em especial em oito grandes regiões. Esse estudo estabelece estimativas de medidas que relacionam a perda de saúde associadas à morbidade e à mortalidade na população mundial.
Através de índices específicos, o relatório mostra o número de anos de vida saudável que uma pessoa poderia esperar perder como resultado de uma doença ou morte precoce.
Em 1990, esse estudo avaliava a influência de 107 doenças e 10 fatores de risco selecionados. No estudo de 2010, publicado em dezembro de 2012 no The Lancet, houve um grande aumento nesses parâmetros. Entre eles:
• 291 doenças e agressões;
• 67 fatores de risco;
• 1160 sequelas (consequências não-fatais à saúde);
• Estimativas para 21 regiões e 20 faixas etárias.
Várias conclusões de grande importância para nossa saúde foram demonstradas através desse estudo:
• Temos menos pessoas morrendo, mas mais pessoas vivendo com problemas de saúde;
• Dores, doenças mentais e ferimentos interferindo na saúde das pessoas;
• Obesidade e alto nível de açúcar no sangue substituindo a falta de alimento como riscos preponderantes.
E esse último item é, hoje em dia, um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil, como têm demonstrado vários estudos, por exemplo, o último POF (Programa de Orçamento Familiar), publicado em 2010, com mais de 50% da população com sobrepeso assim como uma em cada três crianças de 5 a 9 anos.
Divulgado em abril de 2012, o estudo realizado pela Vigitel em 2011 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), promovido pelo Ministério da Saúde em parceria com Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, também demonstra o crescimento dos índices de sobrepeso e obesidade no Brasil entre 2006 e 2011 (54.000 adultos entrevistados).
De acordo com o estudo, houve um aumento de 42,7% (2006) para 48,5% (2011) de pessoas acima do peso e de 11,4% (2006) para 15,8% (2011) de obesos, independente de faixa etária, apesar de todos os programas já instituídos e realizados no país, nesses últimos seis anos.
Foi publicado recentemente, levantamento realizado por nutricionistas do programa Meu Prato Saudável, em outubro de 2012, com 15 mil paulistanos, coordenado pelo Instituto do Coração (InCor) e pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP, que apontou que 66,3% dos entrevistados estão acima do peso (37,4% com sobrepeso – IMC entre 25 e 29,9 e 28,9% estão obesos – IMC acima de 30).
De acordo com o relatório GBD, desde 1990, essa foi a primeira vez que o número de anos de vida com saúde perdidos pelo excesso de peso foi superior ao de pessoas desnutridas transformando a obesidade em um problema de saúde pública mais grave do que a desnutrição.
Em 1990, a subnutrição era a principal causa de anos saudáveis perdidos enquanto que o IMC elevado ocupava a décima posição nesses índices. Em 2010, a desnutrição "despencou" para o oitavo lugar, enquanto o aumento do IMC atingiu a sexta posição. Isso sem contar que o excesso de peso pode causar hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (AVC) e doenças cardíacas que são responsáveis por cerca de 25% de todas as mortes no mundo.
Segundo esse estudo, a influência da desnutrição na questão de problemas de saúde teve uma queda de 2/3. Por outro lado, dietas pobres e inatividade física contribuem para um aumento das taxas de obesidade. Os riscos dietéticos e o sedentarismo aumentaram em 10% o seu ônus enquanto que os riscos pelo excesso de peso e as altas taxas de açúcar no sangue aumentaram significativamente.
Segundo o Dr. Majid Ezzati, um dos autores do estudo, "em 20 anos, passamos de um mundo onde as pessoas não tinham alimentos suficientes para um em que, mesmo em países desenvolvidos, o excesso de comida e o alimento não saudável estão nos tornando doentes".
Assim, não é difícil prever que, se não conseguirmos controlar a obesidade infantil com suas atuais consequências já muito danosas para a saúde das crianças (hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemias, para citar algumas), nos próximos 20 anos teremos, certamente, um painel muito mais grave do que o atual, com uma evolução catastrófica dos índices obtidos nos últimos 20 anos do GBD, e teremos o excesso de peso atingindo os primeiros lugares entre os "ladrões de anos de vida saudável", em um patamar "nunca antes imaginado".
Só para lembrar, a OMS considera a obesidade como a doença crônica epidêmica não transmissível de maior risco e mais prevalente para o século 21.
Ou seja, nós já sabemos como começou, o que está acontecendo e como isso pode terminar. Vamos nos programar para o OBESIDADE ZERO?
E como sempre isso depende não só do paciente (se estamos falando sobre obesidade infantil, muito pouco mesmo do paciente, a criança), mas também da família, da escola, da mídia, da sociedade e, para que isso possa se transformar em um programa mesmo, principalmente das autoridades.
E devemos nos lembrar de que essa proposta requer uma abordagem multiprofissional com a participação de médicos (pediatras, nutrólogos, endocrinologistas), nutricionistas, psicólogos, educadores físicos, assistentes sociais, dentre muitos outros profissionais.
Assim, esse é um esforço conjunto que nosso povo já está tão habituado em situações de catástrofes. E, se pensarmos bem, essa já não pode mais ser prevenida. Ela já está em andamento. Dessa forma, já temos que nos preparar para a "fase 2", ou seja, o combate à epidemia. E quanto mais tempo passar, maior vai ser o peso da obesidade infantil em nosso potencial de adoecimento como adultos.
E só para não deixar passar em branco, tudo pode começar pelo maior e efetivo estímulo ao aleitamento materno exclusivo desde a primeira hora de vida, em livre demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais de idade.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545