Do blog Sempre Belezinha
por Tati Valente
04/02/2013
A obesidade infantil tem sido uma das maiores preocupações da primeira dama americana Michelle Obama. Já citei aqui, no Sempre Belezinha o movimento "Lets Move" que se preocupa em tirar as crianças do sedentarismo além disso ainda há a preocupação e investimento do governo americano em renovar as cozinhas das escolas para que possam oferecer às crianças alimentos que não sejam fritos.
A correria da vida moderna torna os "fast-food" outra fonte eficaz para que os pais possam alimentar seus filhos, sem contar nas guloseimas e propagandas que estimulam o consumo de alimentos que não são saudáveis. Pensando em esclarecer o tema, procurei o Pediatra Moisés Chencinski, que acompanha o caso do menino Miguel, que aos 3 anos pesa 37 quilos mesmo peso do irmão de oito anos,exibido no programa Hoje em Dia da Rede Record.
O Pediatra esclareceu a importância da amamentação, do uso de vitaminas com o aval de médicos e destacou o perigo de dietas "milagrosas" e suas consequências na saúde dos nossos pequenos. Vejam a seguir a entrevista exclusiva que Doutor Moisés deu ao nosso Blog!!!!
Dr Moises- O primeiro passo nesse longo caminho é a informação. Hoje, no Brasil, uma em cada 3 crianças entre 5 e 9 anos apresenta sobrepeso ou obesidade. Segundo dados recentes, mais de 50% da população adulta no Brasil apresenta sobrepeso ou obesidade. Há muitos fatores envolvidos nessa questão (culturais, ambientais, familiares, hereditários, emocionais entre outros) e não será apenas com uma atitude isolada que conseguiremos evitar o que é considerada hoje pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como a doença epidêmica crônica não transmissível mais prevalente desse século, gerando graves problemas de saúde (diabetes tipo 2, hipertensão, infartos, acidentes vasculares cerebrais, só para citar alguns).Então a sugestão é começar... pelo começo. Parece óbvio não é mesmo? Mas apesar disso ainda é muito complicado.
Tudo deveria começar pela diminuição do índice de cesarianas no Brasil (média de 52% no Brasil em levantamento feito pela FIOCRUZ em 2010, chegando a 85% na rede particular, apesar da recomendação da OMS de uma meta de 15%). O relatório "Situação Mundial da Infância", realizado pelo UNICEF em 2011, mostra que a taxa de cesarianas no Brasil, entre 2005 e 2009, foi de 44%, a maior do mundo.
Trabalhos realizados não só no Brasil apontam para uma influência muito importante do parto cesariana nas chances de obesidade no adulto. A alimentação da gestante também pode influenciar nesse quadro. Assim, o pré-natal deve ser realizado de forma adequada, com profissionais comprometidos com essas questões e com a orientação a respeito do aleitamento materno exclusivo até o 6º mês.
O segundo fator em cronologia, mas provavelmente o principal em importância, é o aleitamento materno exclusivo (AME), desde a 1ª hora de vida até o 6º mês, em livre demanda (LD), estendido até 2 anos de idade.Apesar dos esforços nos últimos 10 anos, a média de AME no Brasil é de 51 dias (nem 2 meses) e aos 6 meses, apenas 41% das crianças estão em AME (meta da OMS – 95 a 100%). Assim, isso seria apenas o começo.
As consultas de rotina com o pediatra, a orientação adequada de introdução alimentar a partir apenas do 6º mês, a licença-maternidade de 6 meses (180 dias) que ainda não é obrigatória para as empresas, uma alimentação familiar equilibrada, orientação para uma atividade física regular, menos sedentarismo (menos tempo de TV, videogames, computadores), um comprometimento maior da escola, da sociedade, da mídia, dos órgãos governamentais complementam o painel que ajudaria os pais a evitar a obesidade de seus filhos desde a infância. E essa é uma orientação que deve ser levada pela vida toda.
Passamos por muitas fases durante esses últimos 50 anos que modificaram os critérios de "normalidade". Estudos mostraram que os parâmetros que tínhamos no século passado não se adaptam aos dias de hoje e que as consequências de nossas atitudes na época são sentidas atualmente. Quando eu me formei (1979), a orientação adequada dada em faculdades de medicina era a introdução de suco de frutas com um mês, papa de frutas aos 2 meses, almoço aos 3 meses e jantar aos 4 meses de vida. Além disso, a criança saudável era a "gordinha" ou "fofinha", como se chamava carinhosamente. Após mais de 30 anos de estudos e pesquisas, essa rotina mudou. Hoje, a introdução de alimentos deve ocorrer apenas após o 6º mês de vida e a criança "gordinha" ou "fofinha" ou até mesmos a "fortinha" requerem uma atenção no que diz respeito à sua saúde.
O acompanhamento pediátrico de rotina (mensal, durante o primeiro ano de vida, trimestral durante o 2º e 3º e semestral até o 5º e 6º anos de vida) é fundamental para essa avaliação. É durante essas consultas que o pediatra irá avaliar o crescimento e o desenvolvimento de cada criança em particular e orientar, a cada família, caso a caso, a alimentação, vacinação, cuidados de higiene, atividade física, escola, entre outros. Dessa forma, os dados relativos a peso, estatura e IMC (índice de massa corporal) são levados em conta para definir estado de saúde.
Estudos em países nórdicos (Noruega, Dinamarca) mostraram que 75% dos pais não conseguem avaliar que seus filhos estavam acima do peso. Essa mesma estatística pode ser considerada aqui no Brasil, especialmente quando o parâmetro de saúde é o bom peso da criança. Só o profissional capacitado e habilitado a essas avaliações (nesse caso, o pediatra, enfermeiras e nutricionistas que acompanham crianças) é quem deve receber e orientar essas famílias.
Agora, com a volta às aula, esse passa a ser um problema importante. Mais estudos mostram a influência inadequada das cantinas na alimentação das escolas. Infelizmente alguns projetos para o controle e a regulamentação dos lanches servidos nas cantinas ou não foram aprovados ou não funcionaram a contento. O lanche faz parte do cardápio do dia. É uma das refeições importantes na alimentação infantil. Assim, ele deve contemplar, da mesma forma, uma refeição equilibrada, contendo também fontes de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras, vitaminas, sais minerais e água.
Além disso, cada faixa de idade tem suas necessidades e suas características próprias e isso deve ser respeitado e orientado, de acordo com avaliações pediátricas e nutricionais.Vale salientar que tanto o excesso como a falta de nutrientes pode acarretar problemas de saúde. É fundamental que desde cedo se evitem alimentos que tenham muito sal ou açúcar, gordura saturada e gordura trans, além de frituras, salgadinhos, doces que, entre outros alimentos contribuem para o ganho de peso inadequado.
Alimentos naturais, integrais, com boa conservação devem compor a lancheira. Assim pão de forma integral (fácil de preparar, levar e mastigar), com algum derivado de leite até em forma de patê (requeijão, queijos brancos), e uma fruta podem oferecer uma refeição saudável, variada e de boa aceitação para qualquer faixa de idade.
As vitaminas receitadas rotineiramente pelo pediatra, recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) não interferem no peso. A suplementação de vitamina D (para os ossos) e de vitamina A (para os olhos) que não vem em quantidade suficiente no leite materno são importantes para o crescimento e desenvolvimento adequados da criança. Em determinadas situações especiais, a suplementação de ferro na dieta para a prevenção de anemia, doença prevalente e comum no Brasil, também não tem efeito na questão de excesso de peso para a criança.
A automedicação deve ser evitada a todo custo pelos riscos que pode traze a quem usa. É nesse grupo que podemos encontrar medicamentos que podem interferir e propiciar maior risco de obesidade, entre outros problemas até mais graves. Mães que acham que seus filhos não comem adequadamente, ou não ganharam peso ou estatura suficientes em suas avaliações, muitas vezes mesmo contra a orientação do pediatra, recorrem a esse tipo de "vitaminas". Muitas delas contém substâncias inadequadas para o uso infantil com riscos para a saúde e a vida dessas crianças.
Essa é uma orientação muito importante. Devemos sempre nos lembrar que cada criança é uma criança e deve ser avaliada individualmente, em uma consulta médica, por um profissional (pediatra) qualificado e de confiança. Em casos de criança obesa, maior ainda a razão para essa individualização. Não há uma dieta ou um cardápio adequado para crianças obesas de forma geral. Isso depende da idade, do grau de obesidade, de outros problemas comumente associados ao sobrepeso (diabetes, hipertensão, alterações nas taxas de colesterol, triglicérides, vitamina D, entre outros).
Essa orientação alimentar, juntamente com a de atividade física regular, hábitos de vida saudáveis só devem ser dadas após uma avaliação, em consulta, com análise dessas e de muitas outras variáveis. Muito cuidado com receitas medicamentosas e dietas milagrosas. ELAS NÃO EXISTEM.
A obesidade é hoje uma epidemia mundial e que cada vez mais precoce projeta um futuro "doente" para nossas crianças. Temos que tomar uma atitude mais firme, mais definitiva, mais geral para que possamos tanto conter o quadro atual como prevenir que ele se agrave e traga consequências cada vez mais danosas à nossa saúde. Parece já muito batido, mas é cada vez mais verdadeiro:
- PREVENIR É MELHOR DO QUE REMEDIAR.
- O MINISTÉRIO DA SAÚDE, A OMS, A SBP e porque não EU recomendamos – ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO DESDE A PRIMEIRA HORA ATÉ O 6º MÊS DE VIDA, EM LIVRE DEMANDA, ESTENDIDO ATÉ PELO MENOS 2 ANOS DE IDADE.
Começar pelo começo é sempre mais adequado e eficaz.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545