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As Crises do Primeiro Ano de Vida - parte 3

Do site Guia do Bebê

A crise ou angústia da separação.

03/04/2013

E chegamos assim à mais conhecida crise infantil – a crise ou angústia da separação – que costuma acontecer por volta dos 8 a 9 meses, ou em algum momento no 3º trimestre de vida desse bebê, podendo ser a mais duradoura, com sintomas mais intensos quando a criança que dormia a noite toda chega a acordar 8, 10 ou mais vezes, apavorada, gritando, em desespero, chorando muito, assustando tanto os pais quanto a criança. E a falta, nesse momento, é mesmo da mãe (ou da “figura de apego”).

Esse é o momento quando o bebê percebe que ele e a mãe são seres diferentes. Até agora, sempre que havia alguma questão com o bebê (fome, sede, fraldas sujas, sono) ele abria os olhos e quem estava lá? A mamãe. A super-mamãe. A sempre-mamãe. Mas agora, com a percepção de que ele está acordado e a mamãe que estava lá não está mais. Cadê ela? Onde ela foi? Ela volta? Quando? E se ela não voltar? Quanta insegurança, não é mesmo?

Por não entender o que está acontecendo, muitos pais tentam várias "soluções mágicas" que, na maior parte das vezes, se é que têm algum efeito, além de não solucionarem a situação podem criar um novo problema para eles. Quando se muda uma rotina de uma criança (dar de mamar, trazer para sua cama, por exemplo, sem que isso seja realmente necessário), podemos ter alguns transtornos, chegando, em não poucos casos, a interferir até na dinâmica do casal.

Nessa fase, quando se apaga a luz e se fecha a porta do quarto da criança à noite, ela passa a ter a sensação de que sua mãe não voltará mais. Então ela testa para saber se ela volta e isso pode se repetir por muitos ciclos de sono durante uma mesma noite. Nesse caso, como a "perda é da mãe", se outro alguém (pai, avós, babá) vai até o quarto da criança, o problema não se resolve, se confirma a sensação de "perda" que só é resolvida quando a mamãe aparece. Aí, em meio a soluços, sustos da criança a situação se acalma, gerando um sentimento de culpa, desnecessário e irreal. 

Além do problema do sono, a falta de apetite, alterações de humor com agitação e até certa agressividade podem compor essa crise. Isso faz parte do desenvolvimento cerebral da criança, depende de cada setor neurológico e do sistema límbico que é estimulado e do aprendizado de comportamento que ocorreu nesse curto período da vida da criança. Assim sendo, é importante que essa fase seja encarada como algo positivo na vida da família e do bebê e não só como um sofrimento pelo choro observado. Esse é o momento da separação, mas também da individualização. É aqui que a criança começa seu caminho próprio, único, sem igual.

A proximidade e o contato podem favorecer a passagem por essa fase. Após 3 a 6 semanas, essa fase será superada por todos, sempre que o suporte adequado seja dado tanto pela família quanto pelos profissionais da área de saúde procurados. Mesmo assim, há relatos de crises que duram muito mais ou até começam em fases diferentes, por exemplo, quando a mãe volta ao trabalho, com a entrada na escola, com a mudança de babás, de cuidadores, de escolinhas, com a chegada de um irmãozinho e qualquer outra situação em que o bebê tome consciência do risco de separação da sua mãe.

E por mais que dê vontade de “sair de fininho” para que o bebê não perceba a ausência da mamãe, essa não é uma opção interessante. Por mais sofrido que possa parecer é importante que o bebê a veja sair, e isso pode ser feito aos poucos, para ele entender que ela volta. Assim, o bebê pode manifestar a sua ansiedade e sua insegurança e compreender e curtir a sua conquista quando conseguir superar essa fase.

Agora podemos ficar tranquilos. Nós vamos ficando por aqui, mas na semana que vem voltamos, sem angústia de separação. Vocês estarão aqui quando eu voltar, não é mesmo? É só uma semana..

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545