Do Portal Vital
12/04/2013
Em relação à educação dos filhos, você pode até se manter superatualizado sobre os métodos mais modernos, mas, muitas vezes, o que acaba vindo à cabeça no auge daquela birra são as mesmas frases que a sua mãe usava quando você era pequeno. Ou vai dizer que nunca evocou o bicho-papão para convencer uma criança a fazer alguma coisa?
Pois é, apesar de serem parecidas, muitas máximas reproduzidas ao longo das gerações não são tão inocentes assim. "Se analisarmos bem, o princípio delas são chantagens, ameaças e manipulações. Isso não só faz com que a criança copie esse comportamento como também aprenda a reagir a ele", conclui Solange Ramounoulou, psicóloga, psicopedagoga e psicoterapeuta de família.
Para debater melhor esse assunto, o Portal Vital perguntou a internautas de diferentes idades e profissões quais eram as frases que eles mais escutavam na infância e , convidamos especialistas para analisarem alguns desses ditos e como eles influenciam na formação da garotada.
“Olha que o monstro vem te pegar!”
Para a psicóloga Marina Tschiptschin Francisco, a invenção de monstros (ou de figuras como o famoso “homem do saco”) acaba revelando as inseguranças dos adultos em lidar com a realidade. “Os pais se sentem impotentes em relação às ameaças do mundo e, por isso, buscam a ajuda de seres imaginários”, diz a especialista.
O melhor seria: Em vez de assustar o seu filho, dê uma explicação realista sobre porque ele deve obedecer você. Segundo a profissional, “Um indivíduo com conceitos formados é mais estável emocionalmente”.
“Papai do céu não gosta de criança que faz birra!”
Essa máxima pode criar uma noção de que a divindade é algo ameaçador, que vigia as pessoas incansavelmente para puni-las e castigá-las. "Você está destruindo uma imagem que poderia ser positiva", acredita Marina.
O melhor seria: Ser honesto e dizer ao pequeno que as birras dele entristecem e envergonham você.
“Se você não deixar sobrar nada do almoço, ganha sobremesa depois!”
Os especialistas apontam dois erros nessa frase: a primeira observação é de que talvez a quantidade de comida imposta seja maior do que a necessária. "Exigir que a criançada coma mais do que está com vontade pode até estimular a obesidade infantil", alerta Marina.O outro problema é o fato de que esse dito não deixa de ser uma chantagem. “Os pequenos refletem as ações dos pais e, com isso, entre os 2 e 3 anos já terão aprendido a manipular os outros para satisfazer as suas necessidades”, afirma a psicopedagoga Solange Ramounoulou.
O melhor seria: Deixe a criança comer e, quando ela quiser parar, peça que explique o porquê. É importante também respeitar quando ela não gostar de algo que experimentou.
“Coma tudo para ficar forte como o Homem-Aranha!”
"A associação com heróis que as crianças admiram auxilia na aceitação dos alimentos", revela o pediatra Moises Chencinski. Entretanto, melhor do que recorrer ao Batman, Superman ou ao Ben 10, é educar o seu filho e orientá-lo a se nutrir corretamente – um processo que começa no aleitamento materno.
O melhor seria: Sentar para comer com os pequenos e deixar que eles curtam a experiência de fazer uma refeição.
“Se você engolir o chiclete, ele grudará no seu estômago!”
Falso. A goma de mascar não é digerida, pois é eliminada nas fezes. No entanto, para o pediatra, o ideal é que crianças evitem o doce açucarado para não estragarem os dentes. “Além disso, há o risco de os menores de 3 anos se asfixiarem caso o chiclete vá para a traqueia”, complementa.
O melhor seria: Explicar para a garotada os malefícios reais da guloseima.
“Se não escovar os dentes, a barata virá comer o resto de comida da sua boca!”
"Isso é uma mentira deslavada”, argumenta Solange Ramounoulou. “Quando descobrem a verdade, os jovens passam a desconfiar não só dos pais mas também de qualquer figura de autoridade”, completa a especialista.
O melhor seria: Diga ao seu filho que ele ficará com uma boca feia e doente se não escovar os dentes. Caso ele ainda resista, leve-o ao banheiro e induza-o, de forma firme e não agressiva, a fazer o que você pediu.
“Se continuar demorando no banho, vai virar um peixe!”
Quando absorve muita água, as células da epiderme incham. “Mas como essa umidade toda não cabe na pele, esta enruga para aumentar a sua superfície”, explica Moises Chencinski. Entretanto, o corpo seca, e tudo volta normal.
O melhor seria: Estipule regras sem mentir para não pagar mico. “Essa geração já tem acesso à internet e rapidamente irá desmascarar a enrolação”, diz o médico.
“Você ainda não tem idade para assistir a este tipo de filme na TV!”
Para Marina, o erro dessa frase está em não justificar a proibição. “Sem uma explicação plausível, a criança se sente estimulada a desobedecer”, defende.
O melhor seria: Estipular horários para as atividades dos filhos. Dessa maneira, ficará mais fácil monitorar o que ele vê na televisão ou na internet.
“Aposto que os seus amiguinhos estão fazendo a lição de casa!”
Comparar o seu filho aos colegas pode até incentivá-lo a tomar alguma atitude, mas também cria nele uma ideia de que a sociedade é competitiva e que se deve fazer de tudo para ser melhor do que os outros.
O melhor seria: “Valorize sempre as diferenças, mostrando que cada um tem as suas próprias aptidões”, sugere a psicóloga.
“Se comeu agora, tem que esperar uma hora para entrar na piscina de novo!”
A afirmação é verdadeira para qualquer tipo de atividade física mais pesada. Isso porque, após a refeição, todo o fluxo do sangue está “ocupado” com a digestão. Então, se qualquer pessoa resolver se exercitar com intensidade, o organismo se “dividirá” entre estômago e músculos, sem conseguir fazer bem nenhuma das duas coisas.
Viu como é fácil dalar com as crianças? Então, de agora em diante, nada de ameças! Só diálogo claro e verdadeiro.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545