Do site Vida Integral
Cresce incidência de diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. Pediatra orienta prevenção e sugere aumento de impostos para bebidas açucaradas.
11/05/2013
Uma nova pesquisa, publicada no PLoS One, sugere que açúcar pode desempenhar papel muito mais relevante na origem do diabetes do que se pensava. Pesquisadores descobriram que países com mais açúcar em seus suprimentos alimentares têm maiores taxas de diabetes, independentemente da relação do açúcar com a obesidade (ou de outros fatores dietéticos) e de diversos fatores econômicos e demográficos.
Embora o estudo seja centrado nas taxas de diabetes entre adultos de 20-79 anos, o tema também se relaciona com crianças. O diabetes tipo 2, que responde por 90% dos casos de adultos e está vinculado à obesidade, costumava ser raro em crianças. Ao longo das últimas décadas, contudo, crianças e adolescentes têm sido diagnosticados com o problema cada vez mais cedo. Ao mesmo tempo, reduzir a ingestão de açúcar pelas crianças já é foco de vários programas preventivos de saúde no mundo inteiro.
Entrevistado, o pediatra Moisés Chenciski fala sobre o tema.
O que os resultados deste estudo podem significar para a saúde das crianças?
Moises Chencinski - O estudo utilizou dados do consumo de açúcar para países inteiros e não para indivíduos. Isso significa que as crianças e os adultos pesquisados estavam vivendo em países onde os níveis mais elevados de açúcar nos alimentos foram associados com taxas mais elevadas de diabetes.
As potenciais implicações dessa relação são ainda mais fortes para as crianças do que para os adultos. As crianças estão sendo expostas ao maior consumo de açúcar por tempo muito maior. Este é um problema comum, particularmente nos países em desenvolvimento, onde os hábitos alimentares e o peso da população vêm mudando muito rapidamente.
Os pediatras há muito se concentram no que pode ser feito no início da vida, e ao longo da fase de crescimento, para prevenir doenças que têm origem na infância, mas tornam-se mais evidentes na idade adulta. Assim, todo aconselhamento sobre obesidade, atividade física, comportamento sedentário e nutrição em crianças é realmente relevante para a prevenção do diabetes, das doenças cardíacas, muitos tipos de câncer e outras doenças crônicas em adultos.
Quais os fatores de risco identificados no aumento do diagnóstico do diabetes tipo 2 em pacientes pediátricos?
Moises Chencinski - O maior contribuinte identificado é o aumento de peso. Mas a crescente taxa de diabetes tipo 2 em idades cada vez mais jovens, provavelmente, reflete a obesidade crescente no mundo, fruto de mudanças na dieta – como o consumo de mais açúcar e alimentos processados – juntamente com menos atividade física. É por isso que é tão importante orientar as famílias a melhorar suas dietas e acabar com o sedentarismo.
O senhor acha que os pais cujos filhos não são obesos também devem se preocupar com o consumo de açúcar e o risco de diabetes de seus filhos?
Moises Chencinski – O estudo não aborda a questão do diabetes em crianças, mas reforça os conselhos que menciono agora, tanto para crianças com peso normal, como para crianças com excesso de peso. Definitivamente, recomendo que os pais tentem reduzir a quantidade de açúcar na dieta dos filhos. A maioria dos pais sequer sabe quanto açúcar os filhos estão comendo.
Bebidas açucaradas e doces são fontes óbvias, mas também há açúcar nos alimentos processados, incluindo pão, pizza e batatas fritas. Açúcares adicionados aos alimentos são apenas calorias vazias, ou seja, fornecem calorias extras e nenhum benefício adicional nutricional ao alimento. Recomendo que todos os pais tentem ao menos reduzir as fontes óbvias de açúcar, como refrigerantes, doces e sobremesas.
O que poderia ser alterado nas políticas alimentares ou nas políticas de saúde que poderia ser eficaz na redução do acesso das crianças aos alimentos açucarados?
Moises Chencinski - Infelizmente, açúcar está em tudo. Como pais são responsáveis pelo que as crianças comem, podem ser mais cuidadosos eliminando bebidas açucaradas da dieta infantil, incluindo aqui todos os refrigerantes, bebidas esportivas e bebidas energéticas. Políticas para limitar a venda de bebidas açucaradas nas escolas também podem ajudar a limitar o consumo destes produtos. Impostos mais altos para as bebidas açucaradas poderão ser estratégia promissora.
Como no caso do cigarro, impostos podem ajudar a reduzir a demanda por estes produtos, fazendo com que fiquem mais caras. Não é verdadeiro absurdo que um refrigerante seja, hoje, mais barato que um suco de frutas natural?
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545