24/05/2013
Uma publicação recente de estudo realizado pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), pouco divulgado aqui no Brasil, sobre o bem estar infantil compara a qualidade de vida de crianças em 29 países considerados entre os economicamente mais desenvolvidos, no que diz respeito à proteção dos seus direitos. Essa avaliação atualiza o primeiro relatório, que foi publicado em 2007 pela UNICEF.
Vale ressaltar que o gabinete de pesquisas da UNICEF – Innocenti – teve o generoso apoio dos Comitês Nacionais da UNICEF de Andorra e da Suíça e do governo da Noruega.
Os 29 países analisados nesse estudo foram (em ordem de classificação final da pesquisa): Holanda, Noruega, Islândia, Finlândia, Suécia, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Bélgica, Irlanda, Dinamarca, Eslovênia, França, República Checa, Portugal, Inglaterra, Canadá, Áustria, Espanha, Hungria, Polônia, Itália, Estônia, Eslováquia, Grécia, Estados Unidos, Lituânia, Latvia, Romênia.
Pela falta de dados para cálculo de indicadores, não foram incluídos nesse estudo Austrália, Bulgária, Chile, Chipre, Israel, Japão, Malta, México, Nova Zelândia, República da Coréia e Turquia. O Brasil não foi citado nessa pesquisa entre os primeiros 40 países economicamente desenvolvidos, segundo avaliação da UNICEF.
Essa publicação é dividida em 3 partes. Na primeira está uma tabela sobre os resultados gerais e finais dessa pesquisa, com uma explanação sobre cada uma das partes que compõe o relatório. A segunda mostra a opinião das próprias crianças a esse respeito. A terceira e última parte examina as mudanças no bem estar infantil entre 2000 e 2010, apontando o progresso de cada país na área educacional, gestação em adolescentes, níveis de obesidade infantil, prevalência de bullying e o uso de cigarro, álcool e drogas.
PARTE 1 – AVALIAÇÃO DE ITENS SOBRE QUALIDADE DE VIDA INFANTIL
As áreas levadas em conta para essa avaliação foram:
BEM ESTAR MATERIAL
Privação financeira
Privação material
SAÚDE E SEGURANÇA
Saúde ao nascimento
Serviços de prevenção de saúde
EDUCAÇÃO
Participação
COMPORTAMENTO E RISCOS
Alimentação e exercícios
- % de obesidade;
- % de consumo de desjejum diário;
- % de consumo diário de frutas;
- % de exercícios.
Comportamentos de risco
Exposição à violência
MORADIA E MEIO AMBIENTE
Moradia
Segurança do meio ambiente
PARTE 2 – O QUE AS CRIANÇAS DIZEM?
Para essa avaliação foi levada em conta a opinião das crianças sobre sua qualidade de vida, através de um simples questionário com 3 perguntas:
1. Você acha fácil falar com sua mãe?
2. Você acha fácil falar com seu pai?;
3. Você acha que seus amigos de classe são gentis e te ajudam?
A análise desses dados foi feita calculando-se o percentual de respostas positivas.
PARTE 3 – BEM ESTAR INFANTIL – RELATÓRIO DE 10 ANOS.
Foi relacionada uma avaliação sobre as mudanças no bem estar infantil durante o período do estudo (2000 a 2010), apontando o progresso de cada país na área educacional, gestação em adolescentes, níveis de obesidade infantil, prevalência de bullying e o uso de cigarro, álcool e drogas.
Não fomos relacionados entre os 40 países economicamente mais desenvolvidos para essa pesquisa, mas isso não nos impede de fazer uma grande reflexão.
Avaliando esses índices, onde estaríamos aqui no Brasil se tivéssemos sido incluídos nesse estudo?
Nossa situação seria mais animadora do que em países como Chipre, Chile, Malta, México que constavam dessa pesquisa, mas não tiveram seus dados incluídos pela falta de dados enviados?
E se compararmos “nossos resultados” com os dos países que foram incluídos nessa pesquisa, estaríamos mais perto da Noruega, da Grécia ou dos Estados Unidos (que apesar de seu altíssimo nível socioeconômico ostenta o vexatório 26º lugar nessa classificação, no que diz respeito aos cuidados com suas crianças).
Eu analisei. E não gostei do que vi.
Levando em conta alguns índices importantes, apesar da melhora considerável nos últimos 10 anos, não conseguiríamos figurar nem próximos aos índices desses 29 países em nenhum item analisado nessas tabelas.
Na taxa de mortalidade infantil, por exemplo, que segundo dados do IBGE teve uma queda significativa de 50% nos últimos 10 anos (29,7‰ do Censo de 2000 para 15,6‰ em 2010 chegando a16,1‰ em 2011), estaríamos em 30º lugar, abaixo da Romênia que é o 29º (com 11,8‰). Mas o 27º e 28º lugares nessa lista apresentam taxa menor o que 8‰.
Talvez seja no que tange à cobertura vacinal, especificamente contra pólio poderíamos figurar entre os principais países devido à estratégia adotada nas campanhas nacionais nos últimos 34 anos. Em 1994, o Brasil recebeu o Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovirus Selvagem e se manteve assim até hoje.
Mas de uma forma geral, ainda temos muito trabalho a fazer, tanto para que nossas crianças possam ter a sensação de bem estar que elas necessitam e merecem, quanto para que num futuro próximo (ou não) elas consigam fazer com que o Brasil possa figurar nessa lista da UNICEF (economicamente falando).
Dados retirados de:
UNICEF Office of Research (2013). ‘Child Well-being in Rich Countries:
A comparative overview’, Innocenti Report Card 11, UNICEF Office of
Research, Florence.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545