23/06/2013
Quem é mais “experiente” (vovô ou vovó) com certeza se lembra disso. Era um método usado para aconchegar mais o bebê, para aquecê-lo nas noites de frio, para dar mais “segurança” para ele, para ajuda-lo a dormir e até para carrega-lo com mais facilidade.
Estudo publicado no British Journal of Medicine em outubro de 2.009 associava um aumento de 24% do risco de Síndrome de Morte Súbita Infantil (SMSI) ao fato de se embrulhar o bebê, se comparados a um grupo controle (6%). Uma das possíveis explicações para isso seria que a caixa torácica do bebê estaria dificultada ou até impedida de se expandir adequadamente durante o processo respiratório.
Em 2011, o Centro Nacional de Pesquisas para Saúde e Segurança de Cuidados e Educação Precoce da Criança dos EUA fez uma recomendação para que fosse evitado o hábito de embrulhar as crianças.
Mesmo sendo essa uma rotina ainda nas maternidades, logo após o parto e o banho, para manter os recém-nascidos aquecidos, sob supervisão da equipe dos berçários, só isso já deveria ser suficiente para que essa prática fosse vista com mais ressalvas.
Estudos publicados no AAP News (News da Academia Americana de Pediatria) em junho de 2013 mostraram outra faceta prejudicial do hábito do “charutinho” (swaddle – em inglês). Assim, além do risco de SMSI pela excessiva restrição torácica, a Seção de Ortopedia do Comitê Executivo da AAP destaca que embrulhar o bebê precisa também apontar um cuidado com a restrição de quadris e pernas.
Crianças embrulhadas de forma muito firme podem desenvolver problemas nos quadris como deslocamentos, displasia, formação anormal da articulação em que a cabeça do fêmur não fica posicionada na cavidade adequada do quadril.
A AAP ainda não definiu uma posição oficial sobre o “conflito do charutinho”, mas a autora do Guia de Sono Seguro da AAP e membro do Grupo de Estudos sobre SMSI sugere que a criança não seja enrolada após 2 meses de idade (vale lembrar que a SMSI é mais comum nos primeiros 6 meses de vida) e, quando for, que seja mais solto nos quadris (veja foto abaixo).
Figura 1: O “charutinho” tradicional com perninhas juntas e extendidas é associado a um aumento do risco de deslocamentos de quadril.
Figura 2: Em culturas em que se carrega o bebê em posição de perninhas abertas ocorrem taxas muito baixas de deslocamentos de quadril.
Figura 3: O “charutinho moderno” deve permitir um amplo espaço para a flexão dos joelhos e do quadril com livre movimentação das pernas.
Assim, as recomendações atuais sugerem “embrulhar bebês” apenas até os 2 meses de idade. Além disso:
- o cobertor precisa estar firme o suficiente para que a criança não se desenrole e corra riscos de sufocamento
- o cobertor precisa estar frouxo o suficiente a ponto de podermos passar uma mão entre ele e o tórax da criança para que ela não apresente problemas respiratórios
- o cobertor precisa estar frouxo o suficiente para não pressionar quadris e pernas da criança.
O site do Instituto Internacional de Displasias de Quadril alerta para os efeitos de embrulhar as crianças de forma mais firme do que a adequada e em um vídeo mostra formas de embrulhar o bebê de formas mais seguras, se ainda houver esse interesse (dá pra colocar as legendas em inglês e em português – essa última meio sofrível… rsrsrs).
A AAP recomenda que os pais sigam as seguintes recomendações para um sono seguro, sempre que se coloque o bebê para dormir (sonecas do dia ou sono da noite):
- Deitar de barriga para cima e verificar se o bebê não rola quando está “no charutinho”.
- Não deixar nenhum cobertor solto no berço, nem o de enrolar o bebê, por aumentar o risco de sufocamento se ele se desenrolar.
- Não coloque no berço de bebê nem protetores, roupas de cama macias, calços ou encostos, brinquedos, travesseiros ou suportes de apoio para o bebê não rolar.
- Seu bebê está seguro em seu berço ou carrinho, não na sua cama.
- Embrulhar o bebê pode aumentar o risco de superaquecimento. Transpiração, cabelos molhados, bochechas vermelhas, erupção de pele pelo calor e respiração rápida podem indicar um aumento de temperatura.
- Coloque o berço em uma área sempre livre de fumaça de cigarro.
Agora que todos conhecem os riscos e as recomendações, cada um que tire suas conclusões.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545