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Dúvidas e mais dúvidas, quando o assunto é amamentação!

Do site SEGS

Entre os dias 01° e 08 de agosto de 2013, celebraremos mais uma edição da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM 2013)

por Márcia Wirth - MW-Consultoria de Comunicação & Marketing em Saúde

25/06/2013

Apoio às mães que amamentam: próximo, contínuo e oportuno! Este é o tema global da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM 2013), que busca valorizar a importância dos círculos de apoio à amamentação: a família e a rede de apoio social, o sistema de saúde, os locais de trabalho e emprego, os governos e a legislação e as respostas às crises ou situações de emergências.

"Apesar da importância do tema, da evolução da ciência favorecendo pesquisas e novas descobertas e de cada dia mais termos a certeza dos benefícios do aleitamento materno, quase que diariamente temos que travar uma luta para que as mulheres continuem amamentando, e ainda assim, com resultados finais pouco animadores", afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349), defensor da prática do aleitamento materno exclusivo (AME) da primeira hora de vida até o 6º mês, em livre demanda, estendido por até 2 anos ou mais, recomendada pela OMS, pela UNICEF, pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo Chencinski, é muito importante marcar a Semana Mundial de Aleitamento Materno com um debate público sobre o tema, “pois, comumente observo, ao primeiro sinal de dificuldade, mães e profissionais de saúde optarem por complementar ou até mesmo substituir o leite materno por leites artificiais ou fórmulas infantis, em detrimento da promoção da saúde da criança e da prevenção de quadros comuns nos dias de hoje como alergias alimentares, obesidade infantil, anemia dentre outros”, diz o pediatra, que também é autor do Blog Mama que te faz bem.

A seguir, o médico reuniu algumas dúvidas sobre o tema, recolhidas ao longo de mais de três décadas de prática clínica. Confira:
 
01)A amamentação é um presente maravilhoso tanto para a mulher, quanto para o bebê. Muitas mães sentem imensa satisfação e alegria com a comunhão física e emocional que a experiência proporciona. Estes sentimentos são ampliados pela liberação de hormônios como a prolactina, que produz uma sensação de paz e carinho que permite a mãe relaxar e se concentrar no filho, e ocitocina, que promove um forte sentimento de amor e apego entre mãe e filho. Estes sentimentos agradáveis podem ser uma das razões pelas quais tantas mulheres que amamentaram seu primeiro filho optam por amamentar também os filhos que seguem?
 
Dr. Moises Chencinski – Sem dúvida, uma experiência bem sucedida pode gerar um hábito favorável no caminho do aleitamento materno. E, mais do que isso, pensando-se até na Semana Mundial de Aleitamento Materno desse ano, a importância dessas mães na transmissão de suas experiências a outras mães que ainda estão em dúvida ou com dificuldades em amamentar. É muito mais comum e mais fácil ouvirmos as experiências negativas, os problemas e muito pouco se comenta a respeito das boas experiências, dos sentimentos de amor e doação envolvidos no aleitamento.
 
02)Uma das vantagens da amamentação exclusiva - sem água, suco, fórmulas, sólidos ou outros suplementos para o bebê - é que ela reduz significativamente a chance de engravidar novamente durante os primeiros seis meses após o parto porque atrasa a retomada dos ciclos ovulatórios. Se o bebê tem menos de seis meses de idade e a menstruação da mulher ainda não está regularizada, quais são as chances dela engravidar novamente, mesmo sem o uso ativo de métodos contraceptivos?
 
Dr. Moises Chencinski – Essa chance existe, apesar de estar reduzida. É fundamental que se receba a orientação pós-natal ginecológica, assim como a regularidade das avaliações do pré-natal, com aconselhamento de alimentação, vacinação, cuidados e o estímulo ao aleitamento materno. Mesmo amamentando, ainda há o risco de engravidar novamente. Assim, deve-se seguir as recomendações obtidas em consultas pós-parto com o obstetra / ginecologista até mesmo para receber uma orientação anticoncepcional adequada nessa fase.
 
03) É preciso acabar com o mito que o tipo de parto - natural ou cesárea- interfere na produção de leite da mãe. Como é especialmente importante iniciar o aleitamento materno o mais cedo possível, qual a recomendação para as mães que receberam anestesia e medicamentos para a dor, elas podem amamentar logo após o parto?
 
Dr. Moises Chencinski – Qualquer mãe que não tenha tido qualquer tipo de problema em sala de parto que a impossibilite de amamentar pode e deve oferecer os seios para seus bebês recém-nascidos desde a primeira hora de vida. Para isso é importante contar com o apoio do pai, até na sala de parto, para que ele possa, desde esse momento, se envolver no vínculo que será muito favorável ao aleitamento. Há estudos que comprovam a influência positiva do apoio e suporte do pai no aumento da duração do aleitamento materno exclusivo.
 
04)Não é surpreendente que a experiência do parto, seguida de uma quantidade significativa de privação de sono e da vivência de uma nova estrutura familiar possa modificar o relacionamento do casal. Muitos pais são surpreendidos pelas mudanças em seus sentimentos e sobre o seu desejo de contato sexual. Algumas mães que amamentam (e seus parceiros) experimentam diminuição do desejo sexual durante certas fases da maternidade, enquanto outras experimentam mais desejo. Qual a regra para esses casos?
 
Dr. Moises Chencinski – Não há uma regra para esse tipo de situação. Cada uma delas deve ser avaliada e conversada. Nesse momento, o foco da vida da mãe é seu bebê. Se o pai se envolve nessa fase, tanto dando o apoio adequado ao aleitamento, quanto estreitando os vínculos familiares, comparecendo, por exemplo, às consultas pediátricas para se inteirar do crescimento e do desenvolvimento de seu bebê, essa fase poderá ser ultrapassada sem riscos ao relacionamento do casal. Quando ambos estiverem preparados (marido e mulher), e eles com certeza estarão, a volta à atividade sexual será um passo natural.
 
05)Algumas mães acreditam firmemente na amamentação sob demanda e outras acham que a falta de horários apropriados para amamentar pode resultar em bebês mimados. Há certo e errado nesta história? Como uma mãe que opta pela amamentação sob demanda pode conseguir um tempo livre para realizar suas próprias atividades, sem ter que estar 24 horas à disposição do bebê?
 
Dr. Moises Chencinski – A livre-demanda é caracterizada quando o bebê mama sempre que quiser mamar e a mãe oferece os seios sempre que ela quiser também. A questão está em compreender que aos poucos o bebê vai regular suas necessidades e as mamadas se tornarão mais “organizadas” do ponto de vista do “relógio dos adultos”. Para isso é importante que a mãe tenha apoio nos cuidados domésticos e possa se dedicar com mais empenho ao aleitamento materno. Mesmo assim, cada caso é um caso e precisa ser avaliado individualmente. O aleitamento materno exclusivo em livre-demanda é uma prática de promoção à saúde e não uma seita religiosa extremista. Ninguém deixa de ser uma boa mãe se não conseguir amamentar ou seguir essa rotina. O amor pode ser demonstrado de muitas formas. Essa é uma delas, importante sim, mas não exclusiva. Amamentar é um ato de amor, mas não o único.
 
06)Em algum momento durante o curso da amamentação, a mulher pode sentir seus seios doloridos ou notar um pequeno nódulo nas mamas, que dói quando ela o toca. Este nódulo pode ser o resultado de um duto de leite entupido, fruto de uma mudança abrupta na programação de alimentação, da drenagem inadequada da mama ou do uso de roupas ou sutiãs muito apertados. Um duto entupido deve ser tratado imediatamente, pois pode levar a uma infecção da mama. A mãe pode continuar amamentando, mesmo com uma inflamação de duto?
 
Dr. Moises Chencinski – Não só pode como deve porque amamentar é parte do tratamento da obstrução. Mesmo assim, é importante que ela tenha a supervisão de seus médicos (ginecologista e pediatra) para que se possa, precocemente, tomar as atitudes adequadas no sentido de evitar as infecções (mastite, por exemplo) e de proteger o aleitamento.
 
07)Algumas mães continuam amamentando seus filhos, mesmo depois do seu primeiro aniversário. Nesta fase, com o consumo de uma ampla variedade de alimentos sólidos, qual o verdadeiro papel do leite materno do ponto de vista nutricional? Há algum ponto conhecido em que o leite materno torna-se nutricionalmente insignificante?
 
Dr. Moises Chencinski – O leite materno é adequado em qualquer faixa etária. Haverá um momento em que a própria criança deixará de mamar, não terá mais a necessidade do leite materno. Nos últimos 100 anos, a recomendação de aleitamento materno passou da faixa dos 6 meses para 2 anos ou mais. Hoje, se defende a ideia de desmame natural, ou seja, sem especificar uma idade mínima ou máxima para que isso ocorra.
 
08)A Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano destaca a importância dos círculos de apoio à mulher que amamenta. Qual deve ser o papel do pai durante o período de aleitamento materno?
 
Dr. Moises Chencinski – Nas últimas décadas, o pai já está mais próximo de sua família, como parte integrante do processo da gestação, parto e aleitamento, acompanhando o crescimento e o desenvolvimento de seus filhos muito mais de perto, participando da dinâmica do cuidado da criança nas consultas, em casa, na sociedade. Infelizmente, ainda temos a “ridícula e vergonhosa” licença-paternidade de um dia pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho de 1º de maio de 1943) que a Constituição Federal (de 5 de outubro de 1988) “ampliou” para 5 dias, contados a partir do 1º dia útil após o parto, independente de ter sido um ou mais filhos. Para que o pai possa assumir um papel mais determinante e mais ativo no processo, seria necessário que se reconhecesse de fato a sua importância, como acontece, por exemplo, em países como a Alemanha, onde a licença-maternidade remunerada chega a 12 a 14 meses, desde que os 2 últimos meses sejam usufruídos pelo pai.
 
09)Frequentemente, aos seis meses de idade, e em alguns casos, antes, aos quatro meses, alguns bebês perdem completamente o interesse na amamentação. Este período geralmente coincide com a volta da mãe ao trabalho. Existe algo que possa ser feito para reverter esta situação?
 
Dr. Moises Chencinski – Esse é um panorama cada vez menos frequente. O bebê quer mamar. A mãe quer amamentar. O que poderia ser feito? A regulamentação que determina a licença-maternidade de 6 meses após o parto ainda não tem a força e a obrigatoriedade necessárias. Essa licença é facultativa ao empregador e trocada por benefícios fiscais. Até hoje, na maior parte do país, a licença-maternidade é de 4 meses. Mesmo assim, costumamos orientar que a mãe busque um banco de leite ou converse com seu pediatra para poder retirar o seu leite e armazená-lo (congelado) para que possa ser oferecido ao seu bebê quando ela retornar ao trabalho, em copinho (nunca mamadeira). Para isso, seria fundamental que as empresas oferecessem condições de retirada e armazenamento do leite materno. Pouca gente sabe que a Rede de Banco de Leite Humano (RBLH) do Brasil é considerada uma das melhores do mundo e foi citada, por exemplo, em 2012 pelo 2º jornal em circulação em língua inglesa no mundo (The Guardian), como padrão a ser seguido pelos países europeus.
 
10)Mães de primeira viagem se preocupam se seus filhos estão bem nutridos. Com o aleitamento materno, não é possível medir exatamente a quantidade de leite que os recém-nascidos tomam. Nestes casos, como uma mãe pode se certificar que seu bebê está recebendo leite suficiente para seu desenvolvimento?
 
Dr. Moises Chencinski – Se uma mãe fez seu pré-natal adequadamente, teve seu parto bem acompanhado e faz suas consultas pediátricas pós-parto de rotina regularmente (puericultura), esse acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento de seu bebê será avaliado durante as consultas. Sempre é fundamental que a mãe tenha acesso ao pediatra sempre que houver necessidade, especialmente quando o tema é aleitamento materno. O pediatra poderá tranquilizar essa mãe quanto a essa questão.

 

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545