23/06/2013
Sempre aprendo ou relembro muita coisa importante para minha prática em cada curso que vou. E, como sempre, vale a pena repassar essas informações mais filtrada e simplificada para que cada mãe e/ou cada pai possam se preparar para cuidar de seus filhos da forma que julgar mais adequada.
Curso de Gastroenterologia para o Pediatra da Associação Paulista Pediátrica de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição (22/06/2013)
- Em crianças que apresentam otites, quadros catarrais de repetição, sinusites, vale a pena trocar o leite de vaca pelo leite de cabra?
A porção do leite (e de qualquer alimento) que provoca alergia é a proteína. Já tratei desse assunto no meu site. Entre as mais importantes, podemos citar a alfa-lactoalbumina, a beta-gamaglobulina e a caseína.
No quadro abaixo, temos uma comparação entre a composição de leite de vários mamíferos, mostrando que a proporção dessas proteínas é muito, muito, muito semelhante entre os leites de ovelha, cabra, búfala (que são os mais usados na tentativa da substituição do leite de vaca).
Assim, #ficadica (pra ser bem atual mesmo): não adianta trocar de leite de vaca para leite de qualquer outro mamífero, na tentativa de se afastar de uma suposta APLV (alergia à proteína do leite de vaca). Essas proteínas apresentam homologia (guardem esse termo – definição: Semelhança, na estrutura e na origem, de órgãos ou partes de organismos diferentes / Similar; análogo; idêntico; que apresenta estrutura ou função análoga à de outros).
- Existe algum problema, se na maternidade, no berçário, oferecerem uma ou duas vezes uma fórmula infantil à noite para os recém-nascidos?
Trabalhos recentes mostram que a APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca) tem uma incidência de 2,5 a 5% e que o leite humano é um fator de proteção importante. Esses mesmos estudos mostram que as principais proteínas do leite de vaca responsáveis pela alergia são a caseína e a beta-gamaglobulina.
Estudos mais recentes, porém, demonstraram que a alfa-lactoalbumina humana tem uma homologia(lembram-se dela?) com a alfa-lactoalbumina bovina. Esses mesmos estudos mostram que se o recém-nascido for exposto ao leite de vaca (ou fórmula infantil mesmo, na maternidade, por exemplo), o risco de sensibilização aumenta de 3 a 6 vezes.
Com essa exposição, o bebê produz anticorpos (IgE) anti-alfa-lactoalbumina bovina que pela homologia (olha ela aí outra vez) reagem contra a alfa-lactoalbumina humana.
Ficou claro? Resumindo: se um recém-nascido, na maternidade, receber qualquer fórmula infantil que não seja o leite materno, ele tem 3 a 6 vezes mais chance de se sensibilizar com a proteína do leite de vaca e desenvolver alergia à proteína do leite de vaca. E esses bebês podem não se beneficiar da suspensão de leite e derivados da alimentação materna da mesma forma que os que não tomaram fórmulas infantis na maternidade.
Vale lembrar que a tolerância pode ser adquirida entre 12 e 18 meses de vida.
- Tem alguma recomendação ou restrição alimentar que a gestante possa seguir para prevenir alergia alimentar em seu bebê?
Esse é um tema importante, visto que as alergias alimentares, dermatites alérgicas, rinites e asma em bebês estão muito frequentes e com visível tendência crescente. Assim, trabalhos recentes mostram que:
- Diminuir a ingestão de alimentos que provocam alergia na gestação NÃO DIMINUI as chances de alergia no lactente.
- Durante o período de amamentação, não ingerir leite de vaca, soja, ovo, amendoim, trigo NÃO DIMINUI os riscos de atopia (alergia) no lactente.
- A suplementação de ômega 3 (óleo de peixe) na gestação PODE DIMINUIR os riscos de alergia e dermatite atópica no bebê.
- O uso de probióticos na gestante é um campo promissor, em estudos, podendo colaborar na prevenção de alergia à proteína de leite de vaca (APLV) nos bebês. O parto normal tem ação mais importante na colonização do intestino do bebê do que a cesariana, pela passagem através do canal vaginal, com sua flora beneficiando a formação da microbiota (flora bacteriana normal) do bebê.
- Quando o bebê não pode iniciar ou deixa de receber LEITE MATERNO totalmente, a introdução de fórmulas infantis hipoalergênicas (HA) bem como extensamente hidrolisados de caseína apresentam impacto positivo, quando iniciados nos primeiros 4 meses de vida.
Diferente do trabalho publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology de agosto de 2011, no qual não se comprovava o efeito benéfico de fórmulas parcialmente hidrolisadas (HA) na prevenção de doenças alérgicas, um novo estudo publicado no mesmo Journal em março de 2013, realizado pelo GINI (German Infant Nutritional Intervention), demonstrou um efeito protetor significativo no uso de hidrolisados de caseína e fórmulas parcialmente hidrolisadas por 10 anos após sua utilização sem efeito rebote, enquanto fórmulas extensamente hidrolisadas não demonstraram nenhuma diminuição significativa de riscos.
- Só mesmo o LEITE MATERNO tem as condições adequadas e necessárias para a promoção à saúde, prevenção e até proteção contra alergias alimentares. Deve-se introduzir novos alimentos, após os 6 meses de vida, sempre que possível, enquanto a criança está em aleitamento materno. Essa atitude ajuda na prevenção da alergia alimentar induzida por grande parte dos alimentos de risco.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545