Do site Chris Flores
23/07/2013
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Fimose – como agir?
"Etimologicamente, fimose vem do grego phimos que significa focinho, mordaça, focinheira. Deu pra entender a comparação? (risos)", brinca o doutor Moises Chencisnki, médico pediatra e homeopata.
Se acordo com o médico, um dos órgãos que causam mais preocupações aos pais, mesmo que por diferentes razões, é o pênis.
"Questões como higiene, tamanho, formato, ereções, manipulação, performance futura povoam o imaginário dos pais constantemente e muitos deles sentem “vergonha” ao tocar no assunto mesmo durante as consultas, até por peculiaridades individuais, sociais, religiosos ou culturais", conta o pediatra.
Mas afinal, porque o assunto ainda é um tabu para muitas famílias?
"Ainda temos uma imensa dificuldade em tratar de tudo o que se liga à sexualidade de forma natural, especialmente em se tratando de crianças, como se comer, beber, dormir, evacuar, urinar fossem atividades fisiológicas e normais e o prazer sexual não o fosse, inclusive nas crianças, apenas que pensado de uma forma apropriada para cada faixa etária", explica o médico.
Um tema que causa muitas dúvidas noa pais de meninos é a fimose. O que é? É necessário operar? Qual a melhor idade para fazer a cirurgia? E quais os riscos se não for realizada?
A seguir, o dr. Moises Chencinski esclarece todas as questões:
Verdade. A fimose é um problema do prepúcio, que é uma pele que desliza e recobre a glande, que é a porção mais distal do pênis.
A quase totalidade dos meninos nasce com o prepúcio longo que não desliza, não abre e não permite a exposição da glande. Mesmo assim, ela não tem nenhuma influência genética.
Por volta dos seis meses, 30% dos prepúcios costumam abrir sozinhos e ao redor dos 3 anos de idade, perto de 90% dos meninos já não apresentam mais esse quadro.
Quando isso ocorre, estamos diante de uma fimose fisiológica ou de uma aderência ou acolamento bálano-prepucial (bálano = da glande).
Até essa idade, o prepúcio tem a função de proteger a glande e o trato urinário de infecções e do atrito constante com as fraldas. Essa é uma das justificativas de se retirar as fraldas apenas após os 3 anos de idade.
É considerada fimose quando ao final do prepúcio se forma um anel mais fibroso, que não regride com o passar do tempo, não permitindo a exposição da glande, pelo menos após os três anos de idade, impedindo a higiene adequada, favorecendo infecções locais (balanopostites) ou outras mais graves como a infecção urinária, estamos diante da verdadeira fimose.
Apesar de parecer um obstáculo à higiene, de poder provocar infecções o prepúcio tem muitas funções importantes.
É uma primeira barreira de proteção contra infecções (lembrem-se que as crianças evacuam nas fraldas e as bactérias aí presentes têm seu acesso dificultado ao trato urinário dos meninos pela presença do prepúcio).
Enquanto usa as fraldas, o prepúcio protege a glande do atrito que, se constante, pode aumentar a espessura da glande, aumentando risco de inflamações e diminuição de sua sensibilidade.
O prepúcio mantém a sensibilidade da glande, favorecendo, futuramente, as questões vinculadas à sexualidade (prazer, dor, sensibilidade, ejaculação precoce).
Calma. Não é o que vocês podem estar pensando.
Estou me referindo a alguns cuidados com o pênis e o prepúcio que devem ser higienizados como qualquer outra parte de nosso corpo.
Lavar, enxaguar e secar. Esse procedimento, principalmente enquanto as crianças usam as fraldas, previnem infecções (bactérias, fungos) que podem incomodar e requerer tratamentos mais específicos.
Normalmente, durante e após o banho, o prepúcio fica menos resistente e o que antes era feito de rotina (a massagem ou exercícios para “abrir a fimose”) pode ser tentado apenas nos casos de aderência, mas sem forçar de forma alguma. Não há nenhum estudo que comprove qualquer efeito positivo da massagem nos quadros de fimose.
A pele está acolada e grudada. Quando se desgruda ou se descola ou se força a abertura do prepúcio, corre-se o risco de infecções consequentes às fissuras ou lacerações provocadas pelo procedimento.
Além disso, como a “pele” desgrudada fica sem uma proteção, a tendência é que ela “grude novamente” e cicatrize, provocando um estreitamento maior no prepúcio (fibrose), dificultando ainda mais a resolução espontânea do problema que poderia ocorrer aos 3 anos de idade.
Essas manobras, até por causarem desconforto, dor, infecções criam na criança um pavor de que se mexa em seus genitais, dificultando desde uma higiene adequada até mesmo o exame clínico durante a consulta.
A não limpeza adequada pode favorecer as infecções locais que podem agravar os quadros de fimose, levando até a infecções urinárias.
Se aos 3 anos, o prepúcio ainda não permite a exposição da glande, apresenta um anel mais fibrosado em sua extremidade, mostrando que não será fácil sua abertura e se após o tratamento medicamentoso pelo período adequado não houve regressão esperada, a cirurgia de fimose – postectomia – está indicada.
Algumas situações podem antecipar essa indicação:
- Balanopostites recorrentes – são as inflamações da glande e do prepúcio que podem ser provocadas pela dificuldade de higienização adequada;
- Infecção urinária – quando esse quadro pode ser provocado pelo estreitamento do prepúcio, dificultando o adequado fluxo urinário e favorecendo a subida de bactérias do meio exterior para o trato urinário;
- Parafimose – quando se consegue expor a glande através de um esforço exagerado e não se consegue trazer a glande de volta, causando inchaço e dor.
- Malformações congênitas – crianças que apresentem malformações do trato gênito-urinário desde o nascimento podem ter maior tendência a infecções urinárias e a presença do estreitamento do prepúcio pode favorecer essa incidência.
Segundo alguns cirurgiões, quanto antes operar melhor a recuperação no pós-operatório. Quanto mais tarde, o pós-operatório é mais desconfortável, porém os resultados são mais definitivos.
A anestesia deve ser geral, tanto em crianças quanto em adolescentes. Esse é um procedimento corriqueiro (a anestesia geral) e os riscos são realmente mínimos.
Esse sempre foi um tema bem controverso. Não colocamos aqui em questão as opções religiosas.
Quando nasce um menino, não há como se saber se estamos diante de um quadro de fimose com indicação cirúrgica ou se é um quadro de acolamento, aderência ou fimose fisiológica.
Como vimos, até os 3 anos de idade, quando se recomenda a cirurgia, 90% dos meninos já se “livraram de seu estreitamento prepucial” e não necessitam mais desse procedimento.
A própria Academia Americana de Pediatria (AAP) mostra controvérsia em suas recomendações.
Atualmente, a AAP sugere que os benefícios da circuncisão não compensam os riscos do procedimento cirúrgico, diferente do que já foi sua orientação anterior da realização rotineira de sua realização em recém-nascidos.
A prevenção de infecções urinárias, DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e até de câncer de pênis e colo de útero já foram indicações mais decisivas a favor desse procedimento.
Em áreas de endemia de HIV, de baixo nível sócio-econômico-cultural a realização da postectomia neonatal é um procedimento que reduz de forma significativa os problemas importantes de saúde.
Entretanto, essa maior incidência é mais atribuída, hoje em dia, à precária higiene íntima, genital e falta de hábitos sexuais saudáveis como o uso de preservativos de rotina do que à postectomia.
Após a cirurgia, o pênis pode ficar mais inchado e mais sensível, com certo desconforto na hora de urinar. No pós-operatório se forma uma crosta que pode levar até 2 semanas para cair.
Mas, normalmente, a maior dificuldade no pós-operatório é impedir a manipulação e o atrito com as fraldas ou a roupa.
Quando a cirurgia é realizada em adolescentes ou adultos a ereção pode causar dor e desconforto nos pontos, mas sem risco de eles estourarem.
Quanto mais precoce o quadro de fimose verdadeira e quanto mais tempo ficar sem uma correção (clínica ou cirúrgica), maiores são os riscos de desenvolver patologias provocadas pela dificuldade de higienização, cronificação do quadro, acúmulo de secreções (smegma) e riscos de infecções locais (balanopostites) e urinárias.
Quando a fimose está presente desde o nascimento ocorre um maior risco de dificuldade para urinar, aparecimento de parafimose, dor durante a relação sexual, maior incidência de câncer de pênis, câncer de colo de útero nas parceiras de homens com fimose.
Convenhamos: não vale a pena correr esses riscos.
Quando estamos falando da verdadeira fimose, hoje em dia há algumas pomadas à base de corticoides que podem ser usadas para tentar desfazer a fimose, nunca abaixo de três anos de idade.
Independente de qual seja a opção escolhida, a indicação tem que ser médica. A definição do momento adequado para se proceder à tentativa de tratamento clínico, sua duração e a forma de uso são sempre determinadas em consulta com pediatra ou até com um cirurgião pediátrico.
Mais uma vez vale o aviso: NUNCA AUTOMEDICAR, nem mesmo com uma pomada.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545