A especialista em educação e comportamento infantil Cris Poli, que apresenta o programa 'Super Nanny' no SBT, explica que esse ainda é um hábito cultural que vem de muito tempo e que precisa mudar com a entrada da mulher no mercado de trabalho. Ela ressalta que, aos poucos, os pais vão entendendo a necessidade da mudança e da importância da participação deles na educação dos filhos.

'Essa mudança exige um posicionamento com autoridade em diferentes situações do dia a dia e isso não é fácil. Ainda é muito mais fácil para eles chamarem a mãe para resolver os conflitos com as crianças do que colocar limites, organizar uma rotina ou trocar uma fralda e levantar durante a noite quando a criança chora', avalia.

A autoridade, destaca a 'Super Nanny', é conquistada com atitudes firmes, com convicção, prestígio e influência adquirida ao longo dos tempos. Assim, um pai não deve ser nem tão autoritário e nem tão permissivo. 'Um pai autoritário é arrogante, violento, impõe sua autoridade pela força e, como consequência, não consegue a obediência desejada. Crianças precisam de pais com autoridade legítima conquistada e que colocam limites com amor, paciência, firmeza, convicção e demonstrações de carinho', defende Cris Poli.

Cris Poli explica que um pai presente é aquele que, entre outras coisas, organiza sua vida para poder ter momentos de interação com os filhos. Cris aponta como um dos principais erros que os pais costumam cometer durante a formação dos filhos é fazer todas as vontades deles ou participar apenas nos momentos de brincadeiras sem se posicionar como educador nesse processo de formação do caráter das crianças.

'Um pai presente e dedicado é aquele que organiza sua vida para poder ter momentos de interação com os filhos, que participa da educação junto com a mãe, que tem tempo de qualidade com toda a família e que entende que sua família e a educação dos filhos são prioridades em sua vida', destaca a especialista em educação infantil.

O pediatra Moises Chencinski, membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, ressalta que é importante a criança sempre ter dois tipos de padrão de referência e destaca que ambas são complementares. 'Até certa fase da vida, a referência é da mãe e, passada essa fase, a criança vai ter como referência o pai também. São experiências que se complementam. O pai tem um jeito de pegar, de falar e de abordar diferente que faz um diferencial para essa criança inclusive dependendo de cada faixa de idade', explica Moises.

Uma ressalva que o pediatra faz é em relação à cultura de que o homem não consegue cuidar de uma criança. Ele explica que muitos pais não têm familiaridade com a criança porque não se abre espaço para que este pai participe. Embora hoje já haja maior contribuição do homem em todos os processos da família.

'Uma estatística minha aqui no consultório é que, até um ano de idade, o pai vem junto com a mãe em cerca de 80% das consultas. Na maior parte, ela fica conversando comigo e o pai é quem troca a criança para eu examinar. Assim que termino a consulta, esse pai veste a criança, põe a fralda, roupa, essas coisas. O pai também está se interessando mais por essa possibilidade. Ele já se permite chorar com seu filho, rir, brincar, sem que isso levante qualquer questionamento sobre sua masculinidade. Esse é o espaço', explica o pediatra.

'Há estudos, por exemplo, que mostram que a presença do pai junto da mãe desde o parto até os primeiros meses de vida aumenta a duração e o estímulo ao aleitamento materno', observa o pediatra MoisesChencinski.

Um estudo nesse sentido foi feito Tereza Lais Menegucci Zutin, doutora em Enfermagem e professora da Universidade de Marília (Unimar). O estudo 'A posição do homem no processo de amamentação: um ensaio sobre a produção de sentidos', apresentado na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) em fevereiro de 2013, observou que a participação do processo de amamentação dos filhos, além de ser importante na preparação dos homens para a paternidade, constrói um ambiente doméstico colaborativo.

O pediatra observa que há cursos para gestante que incluem o pai, livros à disposição para estudo, familiares que já tiverem filhos e até mesmo a internet. Moises recomenda ainda que, se não dá para estar com os filhos todos os dias por 3 horas seguidas, que se passe ao menos 15 minutos de total dedicação ao lado deles.

'Há pais que vêm sozinho à consulta. Quando termino e pergunto se sobrou dúvida, ele tira um papel do bolso com as dúvidas que a mãe mandou para checar se perguntou tudo. Tem consultas onde a mãe para de perguntar e o pai continua. Há estudos que mostram o quanto as crianças ganham em autoconfiança e respeito ao próximo quando vem de lares em que os pais passam segurança e carinho para elas. Por isso a qualidade do tempo juntos e do exemplo são tão importantes quanto a quantidade', completa o pediatra.