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Cantinas saudáveis: restrição de alimentos não é suficiente, diz médico

Do site do Jornal Santuário

A venda de refrigerantes e alimentos gordurosos nas cantinas escolares é um tema polêmico no Brasil. Tanto que iniciativas para barrar a prática vêm sendo discutidas há anos pelas classes políticas, sem que haja qualquer tipo de decisão.

por Deniele Simões

10/09/2013

No dia 21 de agosto, o Senado Federal concluiu a votação de um projeto de lei do senador Paulo Paim (PT-RS) que proíbe cantinas e lanchonetes existentes em escolas públicas e privadas de comercializar bebidas com baixo teor nutricional, como refrigerantes, ou alimentos com altos níveis de açúcar, gorduras saturadas e trans, assim como sal.

A matéria, que tramita no Congresso Nacional há mais de seis anos, ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados e pela presidência da República para virar lei. A ideia é garantir uma alimentação mais saudável nas escolas.

De acordo com o Manual de Cantinas Saudáveis, editado pelo Ministério da Saúde, o conceito de alimentação saudável deve enfocar o resgate dos hábitos alimentares regionais, estimulando o consumo de alimentos como frutas, legumes e verduras, grãos integrais, leguminosas, sementes e castanhas.

Porém, não é bem esse tipo de alimento que se encontra nas cantinas escolares. Refrigerantes e salgados como coxinhas, empadinhas e pizzas enroladas são os itens que mais despertam o paladar da galerinha.

Para o médico pediatra e homeopata, Moisés Chencinski, a proposta é controversa, mas tem como ponto positivo a intenção de contribuir para a redução dos níveis de obesidade infantil.

Outra vantagem, segundo ele, é que a matéria propõe que o Estatuto da Criança e do Adolescente, através da atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), seja modificado com o desenvolvimento de ações que promovam a alimentação saudável.

O foco é a prevenção de doenças comuns nos adultos e que atingem cada vez mais as crianças e adolescentes, como diabetes, hipertensão, dislipidemias e obesidade.

Mudança exige adaptação

O Colégio Renovação, em São Paulo (SP), já trabalha o conceito de cantinas saudáveis antes mesmo de qualquer mudança na lei. A lanchonete da escola só comercializa alimentos e bebidas consideradas menos prejudiciais à saúde. “São produtos para uma alimentação saudável, que inclui alimentos sem frituras, como salgados assados, muitas frutas e vitaminas”, explica a diretora mantenedora e psicopedagoga da escola, Sueli Conte.

Dentre os itens servidos, ela destaca saladas de frutas, lanches naturais, saladas, milk shakes, sucos naturais e almoço, que tem como base muitas verduras, legumes e alimentos integrais.

Segundo a diretora, a escola optou pelo modelo porque muitos alunos estavam acima do peso e possuíam índices de glicemia muito altos. “Procuramos sempre fazer substituições por salgados e lanches integrais e trabalhamos de forma a mostrar para as crianças, através de trabalho pedagógico, como esses alimentos ricos em gorduras, açúcar e farinhas brancas fazem muito mal à saúde.”

Para Sueli, mudar os hábitos das crianças e adolescentes não é tarefa fácil. No caso do Renovação, a mudança na cultura tem acontecido aos poucos, para que os pais vejam a diferença do alimento oferecido, sempre enfatizando a relação custo-benefício. “Observe o preço de um refrigerante comparado com um suco natural de laranja feito na hora”, pontua. A psicopedagoga destaca que a intenção é conscientizar pela escolha do saudável, estimulando os alunos a consumirem qualidade e não quantidade.

Só lei não resolve

Na opinião do médico Moisés Chencinski, o projeto aprovado no Senado tem muito mais pontos negativos e duvidosos do que positivos, apesar de estar focado na melhoria da saúde infanto-juvenil. “Atualmente, nas escolas, tão ruim quanto o tipo de alimentação oferecida nas cantinas e lanchonetes é o ‘cardápio escolar obrigatório’ promovido pela nossa legislação, que oferece cerca de 75 a 100% das necessidades calóricas diárias a uma criança que frequenta creches, berçários, escolinhas públicas e privadas”, diz.

Segundo o especialista, outras questões estão em jogo, quando o assunto é obesidade infantil. Ele questiona, por exemplo, se as gestantes possuem acompanhamento adequado de pré-natal. “Estudos mostram 30% a mais de chances de uma criança nascida de parto cesariana ter sobrepeso aos três anos de idade.” O médico aponta que, no Brasil, o índice de partos do tipo cesariana é de 41% “No SUS, esse índice atinge 37% e na rede particular chega a 85%”, acrescenta.

Outra questão diretamente relacionada ao risco de obesidade, de acordo com ele, é a alimentação inadequada dos bebês até os seis meses de idade, que pode ser comprovada pelos baixos índices de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês. “Atualmente, nossos índices são de 54 dias”, alerta.

Além disso, o médico acredita que, quando a lei for aprovada, as crianças já estarão em sobrepeso e a reversão do quadro será muito mais trabalhosa, difícil e onerosa para a família e a sociedade.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545