Do site Difundir
Apesar de conhecer pouco sobre o problema e ter noção de que o consumo de álcool começa desde mais cedo do que imaginamos, não posso negar que fiquei perplexo diante das constatações.
por Márcia Wirth - MW-Consultoria de Comunicação & Marketing em Saúde
02/10/2013
É fato que quanto antes se inicia o hábito do uso do álcool, maiores os riscos de dependência química no futuro. Porém, os dados apresentados pela PeNSE - 2102 (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012), chegam a ser preocupantes.
Essa é a segunda edição da PeNSE (a primeira foi em 2009), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Ministério da Saúde, com o apoio do Ministério da Educação, sobre os fatores de risco e proteção à saúde dos adolescentes, pesquisados entre os escolares do 9º ano do ensino fundamental (antiga 8ª série).
Foi escolhido o 9º ano por ser considerado o mínimo de escolarização considerada necessária para responder ao questionário e a proximidade da idade de referência preconizada pela Organização Mundial da Saúde - OMS (World Health Organization - WHO), que é de 13 a 15 anos.
Dessa maneira, o cadastro de seleção da amostra foi constituído por 42.717 escolas que informaram possuir turmas do 9º ano do ensino fundamental, sendo 7.519 destas distribuídas pelos 26 municípios das capitais e o Distrito Federal, o restante, 35.198, pertencentes aos demais municípios do País.
Já sabemos que:
• O consumo de bebida alcoólica é um dos principais fatores de risco para a saúde no mundo;
• O álcool pode alterar o desenvolvimento do cérebro nos adolescentes, influenciando o desenvolvimento cognitivo, emocional e social;
• O uso precoce do álcool está associado a problemas de saúde na idade adulta, além de aumentar significativamente o risco de se tornar consumidor em excesso ao longo da vida;
• O consumo excessivo de bebida alcoólica na adolescência está associado a insucesso escolar, acidentes, violências e outros comportamentos de risco, como tabagismo, uso de drogas ilícitas e sexo desprotegido, segundo a OMS.
Tanto na PeNSE de 2009, quanto no de 2012, a experimentação de bebida alcoólica foi avaliada com as seguintes perguntas (e seus respectivos resultados):
Alguma vez na vida, você já experimentou bebida alcoólica?
• Em 2012, esse indicador correspondeu a 70,5% para o conjunto dos municípios das capitais, mantendo-se estável em relação a 2009 (71,4%);
• 66,6% dos escolares já haviam testado a bebida alcoólica, sendo esse indicador maior nas regiões Sul (76,9%) e Centro-Oeste (69,8%) e menor nas regiões Norte (58,5%) e Nordeste (59,6%).
Alguma vez na vida, você tomou uma dose de bebida alcoólica?
(Uma dose corresponde a uma lata de cerveja, uma taça de vinho, uma dose de cachaça, ou uísque)
• 50,3% dos escolares responderam positivamente, variando de 56,8%, na região Sul, a 47,3%, na região Nordeste;
• Meninas (51,7%) apresentaram uma proporção maior nesse indicador do que os meninos (48,7%).
Que idade você tinha quando tomou a primeira dose de bebida alcoólica?
• Entre os adolescentes com idade de 15 anos, 31,7% tomaram a primeira dose com 13 anos ou menos.
Consumo atual de bebida alcoólica
O consumo atual de bebida alcoólica entre os escolares, avaliado pelo consumo feito nos 30 dias que antecederam a pesquisa, foi de 26,1% no Brasil e não apresenta diferenças relevantes entre os sexos masculino (25,2%) e feminino (26,9%). Escolas privadas (23%) e públicas (26,7%).
Os dados da PeNSE para os municípios das capitais, em 2009 e 2012, não mostraram diferenças de grande magnitude. Em 2009, o consumo de bebida alcoólica nos últimos 30 dias foi de 27,3% e, em 2012, 26,8%.
Local de obtenção da bebida alcoólica
Entre os escolares que consumiram bebida alcoólica 30 dias antes de responder ao questionário da PeNSE, a forma mais comum de obtê-la foi:
• Em festas (39,7%) – Meninas (44,4%) / Meninos (33,9%);
• Com amigos (21,8%) – Meninas (23%) / Meninos (20,4%);
• Comprando no mercado, loja, bar ou supermercado (15,6%) - Meninas (10,5%) / Meninos (21,9%);
• Em casa (10,4%) – Meninas (11,2%) / Meninos (8,8%).
Episódio de embriaguez
• 21,8% dos escolares já sofreram algum episódio de embriaguez na vida (27,4% - Região Sul a 17,3% Região Nordeste);
• Escolas públicas (22,5%) com episódio de embriaguez / Escolas privadas (18,6%) com episódio de embriaguez.
Com relação ao consumo de álcool, 10,0% dos estudantes relataram ter tido problemas com suas famílias ou amigos, faltaram às aulas ou se envolveram em brigas, porque tinham bebido. A proporção de escolares que declararam problemas com o consumo de álcool variou de 11,5%, na região Centro-Oeste, a 8,4%, na região Nordeste. O percentual de escolares que declararam problemas com o consumo de álcool foi discretamente maior entre as meninas (10,4%) do que entre os meninos (9,5%).
Estudo recente, publicado em junho de 2013, no Journal of Adolescent Health também mostra resultados estarrecedores. Foram avaliados alguns fatores relacionados ao primeiro envolvimento com o álcool entre crianças e adolescentes, no Condado de Allegheny, Pennsylvania.
A pesquisa verificou a idade em que as crianças tomavam o primeiro gole ou experimentavam pela primeira vez o álcool, em que beberam, em que beberam 3 ou mais doses seguidas, 5 ou mais doses na sequência, se embriagaram ou tiveram problemas decorrentes do abuso do álcool entre 8 anos e meio e 18 anos.
O estudo mostrou que:
• Entre 8 anos e meio e 12 anos e meio havia dois subgrupos: abstêmios e experimentadores. Aos 12,5, os experimentadores chegavam a 67% da amostra;
• Entre 13 e 18 anos já havia 3 subgrupos: abstêmios, experimentadores ou consumidores leves e consumidores com quadros de embriaguez. Nesse último grupo (embriaguez), entre 13 anos e meio e 15 anos e meio, o uso era de 3 a 4 drinks por ocasião;
• Aos 18 anos, experimentadores / consumidores leves eram 55% da amostra e consumidores com embriaguez chegavam a 38% da amostra.
Concluiu-se que a experiência com álcool na infância está surpreendentemente difundida, desde os 12 anos de idade. 25% da amostra já haviam bebido antes dos 15 anos de idade, sendo que a embriaguez aumentou com a adolescência, mesmo após o consumo de 3 a 4 drinks em uma ocasião.
Outras pesquisas sugerem que quanto mais precoce a experimentação do álcool, mais cedo se adquire o hábito de beber, já por volta dos 14 anos de idade.
• Aos 14 anos, 75% já tinham experimentado bebidas com álcool, 19% relataram que beberam, 3% haviam bebido 3 ou mais doses em uma ocasião e 2% relataram embriaguez;
• Aos 18 anos, 96% já tinham testado ou bebericado álcool enquanto cerca de 78% já relatavam o hábito de beber e cerca de 30% já relatavam dois ou mais problemas relacionados ao álcool.
O estudo sugere que:
• Quanto mais tarde a exposição ao álcool, menos os riscos de problemas com álcool posterior;
• Adolescentes cujos pais permitiram experimentação em casa tinham riscos mais significativos de abuso e problemas com álcool na adolescência;
• Crianças que bebericaram aos 10 anos tinham 2 vezes mais possibilidade de começarem a beber aos 14 anos ou menos. Essa experimentação tão precoce aumentava a probabilidade de envolvimento com outros problemas comportamentais na adolescência e como jovens adultos.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545