Do site Minha Vida
A técnica prega que as mães não usem fraldas e interpretem quando as crianças querem fazer suas necessidades
29/10/2013
Em meu último artigo eu discuti o que é a Higiene Natural ou "Comunicação de Eliminação" (EC, na sigla inglesa), conceito divulgado pela alemã Tamara Hiller. Hoje, a ideia é discutir quais as vantagens e desvantagens desse método, que tira as fraldas dos bebês e faz os pais buscarem conhecer os sinais fisiológicas das crianças.
Pontos favoráveis
Há algumas preocupações da autora que são muito válidas. A questão ambiental, por exemplo: cada bebê pode evacuar em média de 6 a 8 vezes ao dia, em seu primeiro mês de vida. Isso significa de 180 a 240 fraldas por mês. Em um prédio com 5 desses bebês teremos de 900 a 1.200 fraldas em 30 dias. Segundo dados do jornal The New York Times, a maioria dos americanos prefere fraldas descartáveis. São enviadas para aterros sanitários cerca de 22 bilhões delas por ano. A outra opção seria usar fraldas de pano, que requerem mais tempo, mais gasto de água, sabão, energia elétrica. Assim, através desse método, essa situação se tornaria menos grave em algum tempo.
Além disso, para que a mãe possa adaptar bem esse método, a média de tempo seria um ano. Isso significa que uma mãe deveria ter um contato mais próximo com seu filho, observá-lo mais, prestar mais atenção a ele. Quem sabe dessa forma não teríamos um aumento em taxas de aleitamento materno exclusivo? Por outro lado, como a licença-maternidade ainda é de 4 meses, quando a mãe retorna ao trabalho, tem que delegar essa proximidade para avós, parentes, babás que estejam de acordo e adaptados à metodologia.
Pontos questionáveis
Porém, a higiene natural pode ser questionada. O primeiro ponto é que, quer a autora queira admitir ou não, a sua tentativa é de um método de condicionamento, usando sons, locais e métodos.
Esse método deve ser iniciado logo nas primeiras semanas de vida e a autora parte do princípio de que nessa idade a criança já tem consciência e atitudes voluntárias. Mas, até pelo menos os 3 meses de vida, o bebê tem um ciclo biológico conhecido como ultradiano, o que significa que ele tem ciclos menores de 24 horas, fazendo com que, por exemplo, ele mame de dia e à noite e durma de dia e à noite, ou seja, sem um ritmo determinado. E isso acontece também com suas eliminações. Não há nenhuma comprovação científica que esses dados podem ser levados em conta como conscientes.
Hiller sugere que os pais se atentem a sinais como começar a se agitar nos braços, ficar quieto e com olhar fixo, fazer caretas... Em resumo, qualquer movimento ou ruído do bebê pode ser considerado como sinal de eliminação. O que faltou? Chorar, mamar e dormir. Quantos bebês urinam ou evacuam enquanto estão mamando (reflexo gastro-cólico), dormindo ou chorando? Na minha experiência, muitos. Se for assim, toda hora é hora.
Bebês em aleitamento materno exclusivo podem evacuar a cada mamada (de 6 a 12 vezes ao dia) fezes líquidas, bem como passar até 2 a 3 dias sem evacuar, fazendo então fezes pastosas. Chegando em um ano de idade, eles podem evacuar uma vez a cada 1 a dois dias. Eles são individuais e cada um deles tem seu ritmo. Não há nenhuma evidência científica que aponte para um controle de qualquer função fisiológica nessa idade.
Para que o bebê aprenda a controlar seus ritmos de eliminação, ele passa por várias fases de evolução neurológica e psíquica. Assim, não há como se querer um controle natural de fezes e urina antes dos 2 a 3 anos de idade.
Não há vantagem nenhuma em se desfraldar tão cedo. Ao contrário, pelas características de desenvolvimento, o controle esfincteriano não ocorre antes dos 18 meses. É quado se inicia a fase anal que mostra a consciência, mas não o controle. A criança começa primeiro avisando que fez (está se sentindo incomodada com as fezes e a urina nas fraldas), depois entende que está fazendo (consciência de que as mucosas da bexiga e do reto estão sendo estimuladas ? isso acontece entre os 18 a 24 meses) e por fim dizer que quer fazer (tem a sensação de plenitude de bexiga e do reto e consegue segurar). Simples assim. Sem nenhum sacrifício ou necessidade de condicionamento, apenas com o acompanhamento.
Uma das acusações da alemã é que as fraldas causam infecção urinária, o que não é verdade. Quanto às assaduras, elas podem acontecer com ou sem fraldas e, atualmente, são menos frequentes e dependentes de certos cuidados a mais em observação e higiene dos filhos. Além disso, a fralda determina um conforto dos dias de hoje. Imagine-se com seu bebê de 6 meses em um restaurante, em uma festa, no meio de uma viagem. Mas ele está sem fraldas e ele dá sinais de que vai evacuar? Vivemos em sociedade e é nossa obrigação, como seres sociais, reconhecermos os limites dos outros. Alguém se sentiria confortável em uma viagem observando mães colocarem seus filhos de 3 meses para evacuar no acostamento de uma estrada assim que eles dessem o sinal?
Atualmente, observamos que tudo se baseia em performances. A criança que anda antes, fala antes, sabe contar até 10, fala as cores em inglês, entre outros, parece ser mais valorizada. Estamos impedindo as crianças de serem crianças e de terem seus próprios ritmos de desenvolvimento. Onde estão o brincar, o lúdico, a irresponsabilidade, o descompromisso, o prazer e o lazer e a diversão que sempre caracterizou e ainda deveria ser fundamental para o saudável desenvolvimento?
O nosso ex-presidente Juscelino Kubitscheck dizia que nós não temos compromisso com o erro. Diferente do que muitos pensam, se retiramos as fraldas de um bebê precocemente e observamos que não foi adequado, devemos retroceder sim e respeitar o ritmo de cada um. É menos prejudicial esse comportamento do que obrigar uma criança despreparada a executar funções para as quais ela não está preparada, causando mais frustrações e desapontamentos do que fatores favoráveis à sua evolução e crescimento como um ser saudável em formação
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545