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Não há controle da obesidade infantil sem controle da sociedade

06/10/2013

Quando falamos sobre o grave problema que representa a obesidade infantil hoje em dia, muitas vezes nos esquecemos da atribuir a responsabilidade a quem realmente a merece.

Nenhuma criança (pelo menos até seus 4 anos de idade) come o que não lhe é oferecido ou não está ao seu alcance. Assim, grande parte dos kilos a mais ganhos pela criança deveria ser direcionado a quem, de fato, é o facilitador para essa doença crônica que pode começar desde a época de recém-nascido.

O ambiente familiar, primeiro nicho social do qual a criança faz parte, além de prover um teto, boas condições de saúde, amor e segurança deve cuidar de toda a alimentação. 

Dessa forma, o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida deve ser a meta, a base para uma vida saudável. Depois disso, a introdução de outros alimentos deve seguir uma orientação adequada, fornecida nas consultas pediátricas de rotina e seguida por todos no ambiente familiar (em casa e na casa de parentes), escolar e social.

É muito difícil colocar na criança a obrigação de não se alimentar de foma inadequada, se as ofertas são praticamente constantes, quer seja através do apelo da mídia, quer seja pelos amigos, pela escola ou pela própria família.

Com a colaboração da comunidade que cerca essa criança, esse objetivo terá mais condições de ser atingido de forma eficaz e duradoura.

Isso pode ser comprovado por trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition. Entre 2004 e 2008, foram avaliadas e acompanhadas 12.000 crianças com idades de 0 a 5 anos, em uma comunidade da Austrália.

Foram instituídas alterações nessa comunidade (políticas, físicas e socioculturais) visando melhorar a qualidade da alimentação e da atividade física dessas crianças, com participação fundamental das escolas e creches e apoio financeiro no valor de 112.000 dólares australianos (cerca de R$ 172.000,00). 

O programa contou com suporte de universidades (para treinamento e avaliação dos projetos), parceiros nas áreas psicológicas, dentais entre outros, mobilizando a sociedade em prol dessa meta.

Os resultados foram uma redução significativa no peso e IMC dessa população entre 3 a 5 anos e redução significativa do sobrepeso e obesidade em crianças entre 2 a 3 anos e meio, após redução significativa da oferta e consumo de sanduíches e refresco.

O que falta para que haja uma conscientização nacional da gravidade da situação de crianças com doenças de adultos (diabetes, hipertensão arterial, obesidade, entre outros)?

Quantos kilos extra e quantos dólares mais precisaremos dispender para que a sociedade se mobilize em prol de uma infância saudável, gerando adolescentes e adultos produtivos e equilibrados?

Até quando continuaremos a cobrar apenas dessas crianças o controle de sua saúde, eximindo os familiares, a escola, a mídia, o governo e a sociedade dessa responsabilidade?

De verdade? Demorou...

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545