Do site Guia do Bebê
Os hormônios do sono
04/11/2013
Nosso organismo não consegue se livrar dos hormônios nem para adormecer, nem quando está dormindo e nem para acordar. Se essas substâncias produzidas pelas nossas glândulas não funcionarem adequadamente, nosso sono não será reparador.
E isso vale não só para nós, adultos, mas principalmente, também para as crianças. Então vamos iniciar nosso caminho hormonal. No meio do caminho aparecerão alguns nomes estranhos, complicados, mas nada que tire o sono da gente.
Sabemos que, em longo prazo, não dormir direito pode comprometer seriamente a saúde, uma vez que é durante o sono que são produzidos alguns hormônios que desempenham papéis vitais no funcionamento de nosso organismo.
Vamos conhecê-los?
A melatonina é um neuro-hormônio relacionado à regulação do sono, produzido por uma pequena glândula que se chama pineal, que fica atrás dos olhos.
Sabe-se que essa glândula pineal não é bem desenvolvida em bebês e isso faz com que a sua melatonina seja fabricada de forma muito irregular. Assim, seu sono é muito imprevisível e os bebês podem dormir de dia e ficar acordados durante grande parte da noite (o que não faz parte do sonho de ninguém, não é mesmo?).
A melatonina é produzida no escuro, ou seja, à noite e sua liberação começa logo que fechamos os olhos. O adolescente e o adulto jovem têm o ápice da produção da melatonina e vai caindo depois dos trinta ou quarenta anos, chegando à terceira idade no seu mais baixo nível. Isso pode explicar porque as pessoas mais idosas podem apresentar mais dificuldade para adormecer.
Se a luz atrapalha o sono por inibir a liberação de melatonina, colocar uma lampadinha ou uma luz para que a criança durma pode interferir de forma negativa, dependendo da sensibilidade da criança.
Mas vejam como a natureza é sábia e nós é que demoramos a desvendá-la. Recentes descobertas mostram que o leite materno contém melatonina, em grandes quantidades à noite e em menores concentrações durante o dia. Assim, achamos mais uma função interessante do aleitamento materno. Como os bebês não têm a produção de melatonina de forma regular, a amamentação supre essa deficiência e induz o sono dos bebês. Assim, amamentar à noite pode fazer com que os bebês durmam com mais facilidade do que se tomarem fórmulas infantis.
Comer uma refeição rica em carboidratos, tomar um banho quente pode aumentar também a secreção de melatonina e favorecer o sono. Assim, após aquela macarronada do sábado na hora do almoço e do bolo de sobremesa... dá um soninho, não dá?
Quem nunca ouviu as frases:
- As crianças crescem enquanto dormem.
Na infância cerca de 90% do hormônio do crescimento é liberado durante o sono e crianças que têm dificuldade para dormir têm mais chance de ter problemas no seu desenvolvimento físico.
O GH é liberado nas fases 3 e 4 do sono NREM e para de ser liberado no início da manhã.
Ele é o hormônio responsável não só pelo crescimento da criança, mas também ajuda a manter tônus muscular, evita o acúmulo de gordura e a fragilidade de ossos, dando mais disposição.
Como os estudos provam que as pessoas que dormem pouco reduzem o tempo de sono profundo (fases 3 e 4 do sono NREM), a fabricação do hormônio do crescimento cai.
Apesar de exercícios físicos poderem ajudar a estimular a secreção de GH diminuída por problemas neste período, não se recomenda que as crianças sejam muito estimuladas antes de dormir. Essa agitação, ao contrário do que imagina, não cansa, mas excita mais ainda as crianças, dificultando seu sono.
Esse é um hormônio que é liberado pela hipófise e que avisa para a nossa tireoide quando ela deve produzir ou suspender a fabricação dos hormônios dessa glândula (T3 e T4). Seu pico de liberação ocorre no início do sono. Crianças que apresentam dificuldade em adormecer podem ter alterações na liberação do TSH com consequente repercussão na função tireoideana.
Sem esses hormônios nossa vida não seria possível. Eles estimulam o metabolismo de nossas células em todo nosso corpo, produzindo proteínas. Sem essas proteínas ficamos fracos, com câimbras, menos massa óssea, os cabelos e as unhas não crescem e caem, ficando mais quebradiços.
Sem o T3 e o T4 adequados, nosso organismo é bem mais lento, com diminuição do ritmo intestinal (prende o intestino) e renal (urinamos pouco), movimentos mais lerdos e nosso pensamento, nossa memória, a fala podem falhar.
Assim, até o crescimento da criança também fica prejudicado, apesar de o metabolismo funcionar bem devagar e não gastar energias, levando, assim, a um aumento de peso e inchaço.
Entre suas principais características, uma das principais funções da prolactina produzida pela hipófise (olha ela aí de novo) é a produção de leite pelas mamas de mulheres em fase de gravidez e aleitamento materno.
Qualquer cochilo de dia ou à noite aumenta a produção desse hormônio.
Assim, para que uma mãe possa se dedicar de corpo e alma ao aleitamento materno desde a primeira hora de vida, exclusivo até o 6º mês em livre demanda, estendido até 2 anos ou mais, além de se alimentar bem, se hidratar adequadamente, ela precisa dormir, tanto à noite, mas também aproveitar quando seu bebê dorme de dia e recuperar a prolactina necessária para a produção do leite.
Nesse momento também é importante o auxílio, a compreensão e a participação da família, colaborando para que, mesmo durante o dia, a mamãe possa dormir mais adequadamente, aumentar sua taxa de prolactina, aumentar a produção de leite e nutrir de forma adequada seu bebê.
Nosso apetite pode ser controlado por muitos fatores. Hormonalmente falando, são dois os responsáveis por esse equilíbrio: a leptina (saciedade) e a grelina (fome).
A palavra leptina vem do latim (leptos) que quer dizer magro e grelina vem do inglês (grow) que quer dizer crescimento.
A produção da leptina se dá durante a noite (fases 3 e 4, do sono profundo) e principalmente no começo da manhã. Sua função é controlar o apetite e aumentar o gasto energético, controlando metabolismo de glicose e gorduras.
Não dormiu direito? Não libera leptina.
Não liberou leptina, a grelina vence a batalha, aumenta nossa fome, aumenta o apetite, comemos mais, sem limites. Resultado indireto: obesidade infantil (e nos adultos também).
Assim, todos precisam de uma boa noite de sono (quantidade e qualidade) para que possam ter um controle maior sobre o apetite e consequentemente sobre o peso.
Está cada vez mais provado que a falta de sono inibe a produção da insulina (hormônio ligado ao diabetes, que é fabricado pelo pâncreas) e aumenta a liberação de cortisol que tem ação contrária à da insulina e age aumentando a taxa de glicose.
O cortisol é nosso “despertador” e tem seu pico de liberação de manhã. Quando não dormimos, o seu ritmo é alterado e pode gerar efeitos semelhantes ao estresse (ansiedade, atividade excessiva).
Assim, pouca insulina e muito cortisol podem favorecer quadros de obesidade e diabetes.
Um trabalho realizado por médicos da Divisão de Medicina do Sono do Departamento de Medicina de Harvard e do Women´s Hospital de Boston, publicado em abril de 2012 no Science Translational Medicine, mostrou que existe uma influência direta da restrição de sono prolongada com a alteração de nosso metabolismo aumentando o risco de obesidade e diabetes. Esse mesmo trabalho mostra que quando os participantes da pesquisa voltaram a dormir adequadamente, esses quadros normalizaram.
Na semana que vem, vamos começar a atacar o X da questão (ou o S do SONO). Até lá.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545