Do site Tempo de Mulher
A Academia Americana de Pediatria (AAP) defende que crianças com menos de 2 anos não deveriam ser expostas à TV e, acima disso, até os 5 anos, podem ficar no máximo uma hora ao dia.
Madson Moraes
28/02/2014
O dado é de 2013: 90% das crianças assistem TV todos os dias. A constatação é de uma pesquisa divulgada em novembro do mesmo ano pelo Instituto Ipsos, que fez 2.500 entrevistas em várias capitais brasileiras. A Academia Americana de Pediatria (AAP) defende que crianças com menos de 2 anos não deveriam ser expostas à TV e, acima disso, até os 5 anos, podem ficar no máximo uma hora ao dia.
O que, então, os pais devem fazer? Pode colocar o aparelho no quarto das crianças? TV em excesso faz mal à saúde? Para o pediatra Moises Chencinski, autor do livro 'Gerar e nascer - um canto de amor e aconchego' (2008), tudo em excesso é prejudicial e assistir televisão não foge a essa regra.
Moises relata ainda que problemas na atenção, no aprendizado e o sobrepeso podem ser algumas das consequências mais comuns no que diz respeito ao tempo de exposição dos pequenos diante da TV. 'Quando a criança come e não presta atenção no que e no quanto está comendo, são grandes as chances de desequilíbrio alimentar, gerando, não raro, problemas posteriores associados ao apetite', ressalta o especialista.
Proibir, então, é a melhor alternativa? 'Proibir nunca é o ideal', defende o pediatra. O mais recomendado é que os pais possam se programar melhor para suprir seus filhos do contato, do vínculo e da atenção tão necessárias na fase de formação da criança. 'Brincar com eles, contar histórias, desenhar, cantar ou dançar são atividades que geram muito mais interesse e desenvolvem mais a imaginação, bem como o lúdico e o vínculo familiar dessa criança em desenvolvimento', aconselha.
Para Renata Barrozo Moraes, pedagoga e coordenadora do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, assistir a programas na TV em excesso pode ser prejudicial ao desenvolvimento da criança. Isso porque pode limitar a interação com outras pessoas, o que dificulta a construção de conceitos e valores importantes.
'Os pequenos aprendem e se desenvolvem interagindo com outras crianças e adultos que convivem com ela. Essa construção de valores só acontece quando há prática significativa por meio do convívio: a troca de opiniões, o ouvir, o respeito às diferenças, a construção de valores sociais, etc', opina Renata.
No entanto, ressalta Renata, não há receita ou tempo indeterminado para ver TV. 'A criança precisa ter tempo para brincar e interagir com os amiguinhos. A TV pode entrar na rotina da criança, mas desde que seja com moderação. É importante que a televisão não prejudique as outras atividades diárias como tarefas da escola, esportes, aulas extras, refeições em família, entre outras situações', opina a pedagoga.
Já a psicóloga e psicopedagoga, Cynthia Wood Passianotto, tem a mesma opinião da Academia Americana de Pediatria: a criança deve assistir, no máximo, a duas horas de TV por dia. 'Menores de dois anos nem deveriam assistir a TV', defende.
Para a psicóloga e psicopedagoga, Cynthia Wood Passianotto, a TV em excesso pode fazer com que a criança tenha prejuízos escolares físicos e sociais. Nas aulas, os pequenos podem ter a capacidade de concentração reduzida e apresentarem ainda dificuldades na escrita e matemática.
"A criança que passa muito tempo em frente à TV se torna sedentária e come por ansiedade. Muitas vezes acaba com sobrepeso e baixa autoestima. Também tem prejuízos sociais como medo, ansiedade, agressão e depressão devido às emoções negativas passadas pelos programas assistidos", explica.
Cynthia destaca que a TV, assim como os outros eletrônicos - computadores, tabletes e celulares -, não devem ser usados em excesso por crianças e adolescentes.
"Realmente causa danos e faz com que os mesmos não tenham concentração e foco nas atividades do dia a dia. Com isso, tornam-se cada vez mais introspectivos e com problemas emocionais, como impulsividade, confusão mental, impaciência e irritação", esclarece a especialista.
Para Renata Barrozo Moraes, pedagoga e coordenadora do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, a televisão pode existir no quarto desde que sejam estabelecidos limites estejam entre a criança e a família.
"É importante que os pais saibam quais programas são adequados para a faixa etária de seus filhos e estabeleçam limites de horários, por exemplo: assistir um capítulo de um desenho após realizar a lição de casa, ou assistir a um ou dois programas que goste após o jantar", explica Renata.
Já para Cynthia Passianotto, o aparelho deve ser evitado no quarto das crianças, pois os pais não conseguem controlar o que estão assistindo e por quanto tempo. Além disso, não é possível saber quais programas os pequenos estão assistindo e se são apropriados à faixa etária.
"Também causa perda de sono, problemas para dormir e, muitas vezes, a criança acaba apresentando pesadelos. Tal situação resulta ainda em outro problema: os filhos dormem um número de horas insuficiente para o crescimento saudável, o que também os deixam mais irritadas no dia seguinte", opina.
Para que as crianças não fiquem reféns da TV, o pediatra Moises Chencinski recomenda uma estratégia aos pais. No momento em que não estiverem em casa, peçam às avós e babás para estabelecerem uma rotina que não incluia a TV, pelo menos, até os 2 anos. Após essa idade, deve haver limitação do uso!
A escolinha ou berçário podem ser uma opção para quando houver dificuldade de deixar essas crianças com alguém da família ou com babás. "A TV não pode ser uma razão para que as crianças não queiram sair de casa, se privem do contato social, da atividade física saudável e regular, bem como da alimentação equilibrada e do ambiente de refeições calmo para que o alimento possa ser apreciado e não engolido", explica o pediatra.
Pais com uma rotina intensa e que deixam os filhos diante da TV enquanto resolvem outras questões erram nesse comportamento? "Sim! Os pais não devem usar a TV como babá eletrônica", defende Cynthia. Mesmo que tenham outros afazeres, eles devem ocupar as crianças com atividades que desenvolvam seu desempenho cognitivo e emocional.
"O ideal é que as crianças brinquem mais com atividades que representem seu dia a dia. Entre elas brincar de casinha, carrinho, fantoches, pintar e desenhar, ouvir músicas, ouvir histórias etc", ressalta a psicopedagoga.
Ter uma rotina intensa é comum entre muitas famílias e, nesse caso, o importante é se planejar para que a criança não sofra por isso.
"Há diferentes rotinas e soluções de administração de tempo. Garantir que os pequenos leiam livros, brinquem com objetos educativos, façam desenhos ou interajam com colegas da mesma idade são soluções que podem ser estimuladas. Assim, é possível, inclusive, evitar que a criança assista TV por muito tempo", garante a pedagoga Renata Barrozo Moraes.
Como os pais podem ajudar os filhos a terem uma experiência mais positiva vendo TV? "Escolher juntos o que irão assistir é um bom caminho. Temas de interesses comuns são importantes para estreitar a relação entre família e criança. Isso, inclusive, pode ser um ótimo meio de ampliar a conversa entre pais e filhos", recomenda Renata Barrozo.
Outra dica positiva é a família apontar comportamentos que não concordam em personagens. Maso motivo deve ser explicado. "A televisão pode ser utilizada como fonte de reflexão sobre comportamentos sociais, tanto negativos quanto positivos. Programas que circulam informações sobre outras culturas, países e vida animal também são modos de utilizar a TV a favor da família", assinala Renata.
"Os pais devem assistir aos programas que seus filhos assistem para ver se é adequado a idade. Além disso, comente e discuta sobre o assunto fazendo com que a criança entenda o que está por trás da história e obtenha o próprio senso crítico", pontua a psicóloga e psicopedagoga Cynthia Wood Passianotto.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545