Pela confusão de bicos, tanto uma quanto a outra "obrigam" a criança a posicionar língua para trás e para baixo.

Essa posição expõe a gengiva e o bebê, quando voltar ao seio, vai querer mamar assim, diferente do que é habitual com a língua para baixo e para a frente, cobrindo a gengiva.

Mais uma razão para não oferecer mamadeira e/ou chupeta.

A pega adequada do seio precisa ser aréola e não bico (mamilo). Se a mama está muito cheia, a pega fica mais dificultada e é mais fácil "abocanhar" o mamilo, o que não é adequado pois facilita a "mordida".

Assim, se você perceber essa situação, tente amaciar a mama, tirando um pouco do leite (guarde por 24 horas na geladeira ou 15 dias no freezer para oferecer para ele se necessário ou para doar para algum banco de leite) e facilitando a pega na aréola.  

Imagine-se como um bebê que está com fome, está no colo de sua mãe e faz a pega adequada. O aumento do volume da mama pode pesar no rostinho do bebê, cobrindo nariz, boca, fazendo uma pressão e aumentando a potência do jato de leite. Para se "defender" ele morde.

Você pode sentar um pouco mais reclinada (escorregue o bumbum... - lindinho né? rsrsrs) para frente na hora de amamentar, e seu seio vai se posicionar de forma mais natural, sem pressionar o rosto dele. Nessa posição o comando é do bebê. Ele vai estar por cima e vai sugar para receber o leite, sem necessidade de se "defender" da pressão do seio.

O bebê estava dentro do útero, tranquilo, sem nenhum problema. Ai ele nasce e tem que aprender, de uma hora para outra, a respirar, se alimentar, evacuar, urinar, sente frio, calor, cólicas, solidão... ufa, eu fiquei tenso só de escrever. Imaginem o bebê que nem sabe o que está acontecendo.

O que fazemos quando estamos tensos? Apertamos os dentes.

E o bebê? Aperta a gengiva e trava a boquinha... algumas vezes com seu seio dentro (afffeee).

Tente relaxar: respire, alimente-se, hidrate-se, vá ao banheiro antes de amamentar, coloque uma música que te acalme.

Tente relaxar o bebê: um banho morno antes de dar de mamar, uma massagem, uma conversa, um carinho podem ajudar.

O contato pele-a-pele (o bebê sem roupinhas em contato com o seu seio e seu corpo sem uma blusa) pode ajudar nesse encontro. O bebê mamou e adormeceu em seu colo? Espere um pouco. Quando ele acordar para mamar novamente, deixe que ele procure pela mama. Pode encostar seu mamilo no ângulo da boquinha do bebê e esperar que, pelos reflexos de busca e sucção, ele encontre seu seio e mame novamente, sem você "forçar" seu seio pra dentro da boquinha dele, de frente.

Nessa época, o bebê pode morder tudo o que encontrar pela frente, inclusive seu seio. Não encare como pessoal. Apesar de estudos não demonstrarem e de alguns pediatras não "acreditarem", na época da erupção dos dentes, é comum observarmos algumas reações nos bebês. Mudança de humor, irritabilidade, alterações no sono, no apetite (prefere mamar a comer porque o seio ou a mamadeira, quando é o caso, coçam a gengiva enquanto que a colher pode incomodar), diarreia e até febre (que é um diagnóstico de exclusão, ou seja, após uma consulta com o pediatra em que não se encontra outra causa possível para o quadro).

Algumas manobras que aprendi como fonoaudiólogas podem ser tentadas com sucesso, de preferência fora da hora da mamada, sem que o bebê já esteja chorando e com fome.

1) Antes de iniciar a mamada, coloque um dedo seu (pode ser o dedo médio) de comprido, com a palma das mãos para baixo e a unha para cima (no fundo da gengiva, para evitar machucar o bebê), nas laterais da bochecha, entre as gengivas para que o bebê "morda" toda a extensão desse dedo. Assim, ele pode morder esse dedo algumas vezes até parar. Pode fazer dos dois lados (um de cada vez).

2) Você pode fazer essa manobra, com o bebê de bruços. Assim, a língua cai para frente, naturalmente, e ele suga o dedo assim. Se perceber que o bebê fica mais confortável nessa posição, pode até tentar amamentar com ele de bruços, sobre você mais reclinada.

3) Com o seu dedo mínimo (mindinho), tentar puxar a língua dele algumas vezes, tentando esticar e puxar para frente, cobrindo, dessa forma, a gengiva. Isso feito antes da mamada pode ajudar. Mas essa manobra requer cuidados porque o bebê pode chorar e ficar mais irritado. Não puxe o queixinho do bebê para baixo porque isso pode trazer efeito oposto do que se espera (ele fecha a boca). Pode ser melhor deixar uma fono fazer essa manobra inicialmente até que você compreenda melhor o mecanismo.

4) É importante estimular o reflexo de busca para uma boa pega e para minimizar os riscos da mordida. Toque o mamilo ao redor dos lábios, no ângulo da boca, ou entre o nariz e o lábio superior. Essas manobras fazem com que o bebê abra a boca bem grande e até ponha a língua para fora. Assim, com uma pega adequada, as chances de mordida são bem menores. 

5) Enquanto o bebê mama, pode-se tentar fazer movimentos circulares suaves na sua bochecha (dele), perto da articulação têmporo-mandibular (ATM), em direção à boca.

Vale lembrar que, em algumas situações (com meu filho mais velho - hoje com 32 anos, foi assim), o morder pode significar um aviso do bebê para o desmame. Você oferece e ele morde. Você insiste e ele morde outra vez, insistentemente. Há alguns sinais que o bebê dá nessa fase. Esse pode ser um deles.

Caso você tenha tentado tudo isso e não tenha obtido os resultados esperados, seria interessante conversar com o pediatra que pode te ajudar e até indicar uma avaliação fonoaudiológica para observar questões de estrutura e função dos órgãos envolvidos na mamada - freio de língua, palato, lábios, nariz entre outros.