Do perfil do facebook Convivendo com Alergia
O que mostram nossos estudos no Brasil ainda é uma prevalência de 2 a 6% de alergia alimentar na infância com 85% dela sendo atribuída à proteína do leite de vaca (APLV).
25/02/2015
Os casos aumentaram, estudos foram desenvolvidos e a evolução das alergias alimentares faz parecer que essa estatística precisa ser atualizada, tanto a geral quanto a específica.
O Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar da ABRAN de 2007 apontava em um quadro (Revista Brasileira de Imunopatologia, volume 31, Nº 2, 2008 – pg. 68) os principais alimentos responsáveis pelos quadros de alergia e sua composição proteica.
Leite de vaca, Ovo de galinha, Peixe, Crustáceos, Leguminosas, Trigo, Soja, Amendoim faziam a lista dos principais alimentos a se cuidar.
Segundo a ASBAI, em matéria de 2009, informava que “qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. A sensibilização a estes alimentos (formação de anticorpos IgE) depende dos hábitos alimentares da população. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que com maior frequência provocam reações graves (anafiláticas).”
Em agosto de 2014 a PROTESTE e a equipe da campanha “Põe no rótulo” (criada em fevereiro de 2.014), lançaram uma Cartilha da Alergia Alimentar com o “propósito de conscientizar a população sobre a alergia alimentar, auxiliando alérgicos e aqueles que zelam por eles a identificar nos rótulos dos produtos os ingredientes que possam acarretar problemas à saúde.” Vale a pena baixar e imprimir para conhecer melhor o que deve ser evitado.
Segundo dados dessa cartilha, “No Brasil, não há legislação que obrigue os fabricantes a expor em destaque, nos rótulos dos produtos, a presença de alergenos, nem a se referir ao risco de contaminação cruzada no processo de produção. Devido a essa lacuna legal, os consumidores interessados no assunto se obrigam a consultar os serviços de atendimento ao cliente, bem como a compartilhar informações com grupos de alérgicos, para checar se determinado alimento ou bebida oferece algum risco à sua saúde ou de seus familiares e amigos.”
A cartilha traz as informações gerais sobre alergia, cita os alimentos mais comumente causadores de alergias (leite, ovo, amendoim, oleaginosas, crustáceos e frutos do mar, peixe, soja, trigo e glúten) e dá dicas de como “decifrar” os rótulos, mostrando como estão “disfarçados” os componentes desses alimentos que podem causar reações das mais simples às mais severas e até a morte.
Não quero me ater aos mais comuns entre nós (leite, ovo) e aproveito para citar um estudo recente, publicado no Archives of Diseases in Childhood em agosto de 2014, com o título: “O manejo da alergia ao amendoim” (The management of peanut allergy), sobre dados no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Por questões culturais, o amendoim é muito mais consumido nesses países, mas não há restrições ao consumo desse alimento em crianças também no Brasil, quer seja em sua forma natural, quer seja fazendo parte de receitas e de outras preparações. E as conclusões não diferem das relacionadas à alergia a qualquer outro tipo de alimento.
Segundo esse estudo, a alergia ao amendoim, que já foi rara, agora está sendo considerada como a maior causa de reações alérgicas alimentares fatais. A sua prevalência tem aumentado de forma importante no mundo ocidental. No Reino Unido, entre 1 a 2% das crianças são afetadas, sendo que alguns estudos apontam para um aumento de duas vezes na alergia, de três vezes na sensibilização nos últimos 7 anos.
Outros dados vindos dos Estados Unidos mostram que os relatos de alergia ao amendoim saíram de 0,4% em 1977 para 0,8% em 2002 e 1,4% já em 2008.
O estudo é interessante, mas gostaria de ressaltar o resumo final e mostrar que amendoim poderia ser substituído, quase que na sua totalidade por qualquer outro alimento alergênico entre nós:
- A alergia ao amendoim é comum e pode causar reações severas e ameaçadoras. Tem um efeito significativo na qualidade de vida.
- Evitar o consumo de amendoim durante a gestação e o aleitamento falhou na tentativa de redução da prevalência do risco de alergia ao amendoim. A introdução precoce* pode realmente promover tolerância e reduzir o risco de alergia ao amendoim.
- A abordagem atual consiste em evitar estritamente o amendoim, aquisição de medicação de emergência e educação das famílias sobre como reconhecer e tratar reações alérgicas onde quer que elas aconteçam.
- Evitar o amendoim é um desafio e reações acidentais são comuns.
- A rotulagem dos alimentos, embora já melhorada, ainda pode ser confusa e ambígua para crianças alérgicas ao amendoim e seus cuidadores.
- O futuro desenvolvimento do manejo ativo da alergia alimentar inclui imunoterapia oral.
*Introdução precoce: Estudo de 2008 do The Journal of Allergy and Clinical Immunology mostrando que crianças judias de Israel, que consumiam amendoim no primeiro ano de vida (a partir dos 8 meses), tinham 10 vezes menos quadros de alergia ao amendoim do que as crianças judias da Inglaterra, que consomem o amendoim após essa idade. Os autores ressaltam que esses dados levantam um ponto a ser melhor avaliado.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545