Do site Guia do Bebê
A idade correta para inicio da natação deverá levar em conta a segurança e a saúde da criança
05/03/2015
Pelas perguntas aqui e no meu site (através dos e-mails que recebo de pacientes e não pacientes) e na minha página e em um grupo com mais de 4.000 mães que eu tenho no facebook (FILHOS: CADÊ O MANUAL DE INSTRUÇÕES), frustrei algumas mães e agucei a curiosidade em pais.
Nem sei se a matéria acaba hoje e nem se vou satisfazer a curiosidade e esclarecer todas as dúvidas a respeito do tema.
Então vamos lá, tentar responder a pergunta deixada na parte-1 da matéria.
Então não seria melhor ensinar as crianças mais cedo para elas não se afogarem?
Se colocarmos um bebê submerso na piscina ele pode sair “nadando” ou aprender a “nadar”? Sim isso pode acontecer.
A questão não está em ensinar um bebê a nadar pela sua capacidade.
A questão está nos riscos envolvidos e nas consequências imediatas e tardias possíveis à saúde desse bebê.
E uma das nossas “missões” como pediatras é a prevenção dos problemas.
Segundo matéria publicada no blog da Sociedade Brasileira de Pediatria, pelo Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP, em crianças menores de 4 anos, o afogamento está entre as principais causas de óbitos externos no Brasil.
“Crianças menores que 4 anos de idade devem ser afastadas de qualquer reservatório de líquidos (baldes, banheiras, vaso sanitário, tanques e piscinas) que deverão ser esvaziados após uso. Nesta mesma faixa etária aulas de natação não são a prova de submersão e nunca deverão permanecer sozinhas na banheira. A criança maior deve aprender a nadar e conhecer regras de segurança de piscinas, assim como, de parques e esportes aquáticos.”
A conclusão da matéria aponta que “crianças pequenas podem se afogar em camadas líquidas de 5 cm. A presença de um adulto responsável sempre será fundamental. Embora não se comprove a eficácia das lições de natação em prevenir afogamentos, todo esporte é saudável e deve ser incentivado.”
Até 2010, a posição oficial da Academia Americana de Pediatria (AAP) era para evitar aulas de natação antes dos 4 anos de idade.
Essa posição era baseada em alguns pontos:
♦ Falta de dados necessários para determinar se os programas de natação para crianças e bebês aumentavam ou diminuíam as chances de afogamento;
♦ Preocupação que esses programas causassem nos pais uma falsa sensação e segurança e os induzissem a uma supervisão inadequada quando a criança estivesse perto da água;
♦ Evidências de que iniciar aulas de natação precocemente não resulta em desenvolvimento mais precoce nas habilidades da natação.
♦ Preocupação que os programas de natação pudessem diminuir o medo da criança de água e involuntariamente as encorajasse a entrar na água sem supervisão.
E cá pra nós, essas são preocupações justificadas. Ou não?
Um estudo publicado no Injury Prevention, realizado na China (2007) e outro publicado no JAMA Pediatrics (2009), nos Estados Unidos, fizeram a AAP rever sua posição, publicada em 2010, porém com ressalvas importantes.
O estudo na China, que incluiu os pais e crianças de 1 a 14 anos que morreram afogadas entre 2002 e 2004 em 20 distritos rurais, comparando-os com grupos controle, concluiu que as causas principais dos afogamentos foram:
- Entre 1 e 4 anos: saúde pobre do cuidador, não estar com equipamento de flutuação (boias) e não ter recebido aulas apropriadas de natação
- Entre 5 e 14 anos: criança não tinha experiência em brincar regularmente próximo ou dentro da água e falta de supervisão próxima.
Assim, concluíram que programas educacionais seguros (foco em supervisão constante do adulto e o uso de aparelhos de segurança de flutuação) poderiam prevenir o afogamento.
Já nos Estados Unidos, análise de 611 crianças que morreram afogadas entre 2003 e 2005, de 1 a 4 anos, mostrou que só 3% dessas tinham recebido aulas formais de natação contra um grupo controle de crianças (26% tinham recebido aulas).
Assim, atualmente, de acordo com a nova posição da AAP, a idade recomendada para iniciar a prática de aulas de natação é 1 ano de idade (pronto, já matei a curiosidade da maioria. Mas continuem a leitura porque ela é muito importante).
Ainda segundo a AAP, as evidências desses estudos não são suficientes para recomendar que todas as crianças entre 1 e 4 anos de idade recebam aulas e natação. Deve ser enfatizado que, mesmo uma grande habilidade em nadar nem sempre previne o afogamento, e que as aulas de natação devem ser consideradas apenas no contexto de ampla segurança com supervisão constante e capacitada.
Além disso, deve-se pesar muito cuidadosamente os benefícios de uma instrução de natação precoce contra os possíveis riscos como hipotermia, doenças infectocontagiosas, problemas pulmonares, alergias, otites e até afogamentos, mesmo com conhecimento das técnicas de natação.
Nos últimos anos, criou-se a informação e a habilitação de crianças menores de 12 meses, com a popularização de cursos para esse fim, tanto nos Estados Unidos como em outros países, inclusive o Brasil, através de filmes de bebês que foram ensinados a mergulhar e nadar embaixo da água e outras situações. Apesar desses relatos até de crianças se “salvando de morrerem afogadas”, não há nenhum estudo científico reconhecido que demonstrou claramente a segurança e a eficácia de programas de treinamento para bebês nessa faixa etária (abaixo de um ano de idade).
Mas eu moro no Brasil e não na China e nem nos Estados Unidos.
Qual a posição oficial aqui, entre nós?
Já está muito comprido esse aqui. Semana que vem eu trago essa posição aqui. Até lá.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545