Do site Guia do Bebê
Alguns conceitos muito difundidos sobre os benefícios da natação colocam em risco a vida das crianças
07/03/2015
Conforme combinado na semana passada (e na retrasada), vamos chegar aqui no Brasil e ver quais as posições médicas e de instituições voltadas à segurança das crianças oficiais e reconhecidas por aqui?
Massss... dessa vez sem massss. Rsrs
Na parte 3 dessa matéria pudemos apresentar uma conversa saudável com uma profissional conscienciosa na área e recebemos participações de outros tantos.
Infelizmente essa não é a nossa realidade mais comum, mesmo aqui no Brasil.
Frases como essas abaixo demonstram desconhecimento sobre o real desenvolvimento neurofisiológico de uma criança e, se mal interpretadas, trazem uma ideia errada sobre as capacidades que um bebê até um ano de idade pode desenvolver.
“A partir dos 6 meses de idade o bebê já pode iniciar as aulas de natação, devido ao fato de estar com o sistema imunológico mais preparado para conviver com um número maior de pessoas.”
O sistema imunológico de um bebê de 6 meses é absolutamente imaturo. Essa é uma das razões que fazem com que um bebê, nessa idade, quando entre em um berçário ou uma creche, tenha tatas doenças respiratórias.
“Pedimos, por exemplo, que elas tragam uma camiseta para sentirem como é difícil nadar de roupa e aprenderem a tirá-la se algum dia acontecer o acidente de caírem na piscina.”
Sabe com que idade uma criança começa a tirar e colocar sua própria roupa em casa, sem dificuldades? Entre 3 e 4 anos. Imagine fazer isso dentro da água. Algum de vocês, pais, já tentou fazer isso em uma piscina funda para vocês, sem apoiar os pés?
“Nas aulas, uma criança com menos de 1 ano já pode aprender habilidades de sobrevivência que podem ser úteis em casos extremos, como conseguir segurar a respiração sem engolir água por alguns segundos ou até mesmo realizar uma flutuação na posição dorsal.”
Nenhuma criança consegue com toda certeza segurar a respiração por mais de 30 segundos quando dentro da água. Crianças se afogam em 5 cm de água. Engolir água não traz nenhum problema para ninguém, mesmo para crianças. “Respirar” água sim.
Assim como não me atrevo a comentar sobre técnicas de aprendizado de natação, até por não ser especialista na área, acredito que essas informações não deveriam ser passadas por quem, de fato, não conhece o desenvolvimento de uma criança.
Como já foi citado anteriormente nessa série, o afogamento é um dos principais responsáveis em casos de óbitos ou sequelas graves em menores de 4 anos de idade, em grande parte das vezes em casa, geralmente de forma silenciosa, sem “testemunhas”, ou seja, sempre que a criança não está sob supervisão de um adulto.
O Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP tem como recomendação que até os 4 anos de idade, “as aulas de natação não são à prova de submersão e nem na banheira elas devem permanecer sozinhas”.
Muitas regras de segurança devem ser seguidas para evitar acidentes em piscinas (ou lagos, rios, praia), mesmo em crianças que “tenham aprendido e saibam nadar”. Algumas delas podem ser simples de se transmitir e nem sempre dependem da compreensão das crianças:
Respeitar as placas de proibição nas praias, os guarda-vidas e verificar as condições das águas abertas;
Mas talvez a mais difícil de avaliar e de controlar seja:
A partir de que idade uma criança consegue entender que ela não consegue fazer? Pergunta difícil e de resposta impossível. Afinal, no mundo moderno, a questão está em se transpor constantemente os nossos próprios limites. E o que seria de diferente em uma criança, que nem tem, na imensa maioria das vezes, a noção exata do perigo, não é mesmo?
Muitos casos de afogamentos aconteceram com pessoas que achavam que sabiam nadar. Não se deve superestimar a habilidade de crianças e adolescentes.
E as medidas de segurança não acabam por aqui, e são tantas, e muitas vezes não tão simples, que fica difícil entender qual a necessidade de correr tantos riscos para oferecer algo, antes do que seja realmente necessário.
Frase que eu tenho usado com grande frequência ultimamente:
ANTES e MAIS, em relação a crianças, na maior parte das vezes NÃO É MELHOR.
Acho que essas informações que estão no site da ONG merecem atenção.
Assim, sempre lembrando que a nossa função é informar e alertar sobre os riscos, só recordando que em 2012, no Brasil, 3 crianças morreram afogadas por dia.
Segundo a ONG Criança Segura, a idade recomendada para iniciar as aulas de natação é aos 4 anos de idade. Antes disso, os riscos pela imaturidade da criança e pelas necessidades de medidas de controle de riscos são grandes, não justificando a antecipação.
Aulas de natação, sem submersão (cabeça fora da água), com escola e professores qualificados, com a presença dos pais, podem começar antes.
Mesmo assim, nunca se deve assumir que a criança seja “à prova de afogamento” porque, supostamente, sabe nadar. Supervisão constante é a chave.
A natação é um dos esportes mais completos, porém dos mais complexos também.
Ainda mais nos tempos atuais em que o sedentarismo interfere definitivamente na maior incidência de obesidade infantil e a piscina, associada ao esporte e ao lazer, pode ser tão útil, mesmo que, em crianças pequenas, não tenha essa influência tão marcante.
Mas só o fato de estarem “brincando” na piscina e não “comendo salgadinhos” já é altamente positivo, não é?
Semana que vem termino essa matéria, trazendo ainda mais algumas informações médicas a respeito do assunto.
Até lá dá para tentar “digerir” essas novidades de hoje.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545