Do site da Revista Crescer
Cientistas do National Health and Medical Research Center, da Austrália, afirmam que não há evidências suficientes para sustentar a efetividade da prática. Homeopata defende que os critérios científicos não são adequados para avaliar a especialidade
por Vanessa Lima
16/03/2015
Para alguns, o tratamento homeopático significa uma esperança. Não é raro encontrar depoimentos de mães afirmando que foi essa a única solução para problemas de saúde dos filhos, que elas já haviam tentado resolver de todas as outras formas. No entanto, há também quem o considere apenas um método alternativo sem muita credibilidade. Os cientistas do National Health and Medical Research da Austrália (NHMRC) fazem parte do segundo grupo. Uma análise de 225 estudos realizada pelo centro concluiu que não existem evidências científicas suficientes para comprovar que a homeopatia é efetiva.
"Quem escolhe a homeopatia pode colocar sua saúde em risco se rejeitar ou adiar tratamentos para os quais há evidências de segurança e efetividade", disse o professor Warwick Anderson, um dos responsáveis pela pesquisa. A equipe de especialistas avaliou alguns dos maiores estudos disponíveis no país. "Embora alguns deles reportem a eficiência da homeopatia, a qualidade desses estudos foi considerada pequena e/ou pobre", diz uma nota oficial divulgada pelo NHMRC.
O pediatra José Luiz Setúbal, do Hospital Infantil Sabará (SP), concorda com o resultado da análise. "Não uso nem para mim nem para os meus pacientes, porque a homeopatia não me convence.” Para ele, a falta de evidências científicas sobre a funcionalidade da prática é determinante. "Não posso recomendar para os meus pacientes um tratamento em que não acredito."
Na opinião do pediatra e homeopata Moises Chencinski, a homeopatia não é uma questão de crença. "Não é religião. As pessoas não precisam acreditar. Precisam fazer o tratamento", pondera. O especialista concorda com o estudo em um ponto: "Não dá para negar que existem poucos estudos para atestar a eficácia". No entanto, de acordo com ele, isso não significa que a homeopatia não funcione. "É muito difícil comprovar, pelo método científico usado nas pesquisas relacionadas à medicina alopata, a efetividade da homeopatia", diz. Isso porque os tratamentos homeopáticos se baseiam na individualidade do paciente. "Posso receber duas crianças que apresentem exatamente os mesmos sintomas e receitar a elas tratamentos totalmente diferentes", exemplifica. "Por isso, é difícil demonstrar que um medicamento funciona da mesma maneira em uma grande quantidade de pessoas e situações. E esse é um dos principais critérios das pesquisas científicas.”
Rubens Dolce Filho, diretor da Associação Médica Homeopática Brasileira (ABMH), acredita que a falta de estudos também pode ser uma consequência da falta de interesses econômicos nos resultados. "Quem patrocina a maior parte das pesquisas científicas é a indústria farmacêutica. Para eles, comprovar que a homeopatia funciona não trará nenhum tipo de resultado", aponta. "Não temos trabalhos suficientes, mas a maior prova de que a homeopatia é eficiente é que ela já existe há mais de 200 anos e continua sendo usada. Se não funcionasse, já estaria descartada", ressalta.
Na nota de divulgação do estudo, o NHMRC compara a homeopatia aos placebos, medicamentos sem princípios ativos que acabam tendo efeito pelo simples fato de os pacientes acreditarem em sua possível eficácia. "Parte do tratamento médico exige confiança do paciente. Pode funcionar só por conta disso", diz Setúbal. O ponto de vista de Chencinski é diferente. "Se os tratamentos homeopáticos fossem placebos, eles não fariam efeito em pacientes recém-nascidos ou na área da medicina veterinária, por exemplo", lembra.
A homeopatia é reconhecida como uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980. No Brasil, os profissionais que trabalham com a prática precisam se formar em cursos tradicionais de medicina antes de se especializar. Todo homeopata, portanto, conta com o conhecimento alopata. O alopata, por outro lado, nem sempre conhece a homeopatia. "O que acontece é que o profissional homeopata deve saber de seus limites e quando outras intervenções são necessárias. Se um paciente tem uma fratura, tomar somente as medicações de homeopatia provavelmente não vai funcionar. Ele talvez precise de uma cirurgia, colocar um pino...", exemplifica Chencinski. "O compromisso do médico – seja ele homeopata ou alopata – é colocar à disposição do paciente o que ele conhece de melhor para tratá-lo", completa.
Outro mito que ronda a homeopatia e faz com que ela seja alvo de críticas, principalmente por parte dos alopatas, é a ideia de que o sistema rejeita recursos considerados um avanço pela medicina, como as vacinas. Vale esclarecer que rejeitar as vacinas não é uma conduta aprovada pela AMHB. No site da associação, há um texto em destaque que alerta: "(...) a recomendação desta entidade é que se cumpra o calendário oficial de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde".
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545