Do site Sempre Materna
Sim, sim e sim... Aponta um novo relatório da Academia Americana de Odontopediatria (AAPD), embora muitos pais possam não saber disso. De acordo com o documento, a cárie dentária é um problema comum nas crianças e sua prevalência está crescendo. A entidade sugere que a negligência em relação à primeira consulta dentária pode estar contribuindo para o aumento do problema.
por Márcia Wirth
07/04/2015
O relatório, elaborado com base em diversas fontes científicas, concluiu que a cárie está em ascensão entre as crianças. Quando ocorre em crianças muito pequenas (chamadas cáries da primeira infância), seu desenvolvimento pode ser especialmente rápido. O documento aponta que a taxa de prevalência de cárie em dentes de leite de crianças com idades entre 2-5 anos aumentou quase 17% de 1988-1994 para 1999-2004.
Segundo os dados mais recentes, estima-se que aos 3 anos, entre 5-10% das crianças, nos EUA, tenham tido uma cárie dentária, um número que aumenta para cerca de 60% aos 5 anos de idade.
O problema da cárie dentária parece ser pior entre as crianças que vivem na pobreza. De acordo com o relatório, crianças pobres entre as idades de 2-9 anos são duas vezes mais propensas a ter cáries do que seus pares em outros grupos econômicos, e é mais provável que essas cáries não sejam tratadas. A entidade alerta que cárie dentária não tratada pode levar a novas infecções e, em alguns casos, à internação.
De acordo com a entidade americana, uma das principais razões pelas quais uma doença evitável, como a cárie, está se tornando uma ameaça cada vez mais importante para a saúde, o bem-estar e o futuro dos membros mais jovens da sociedade é que as crianças não estão indo ao dentista no momento certo.
De acordo com a AAPD, as crianças devem ter sua primeira consulta odontológica quando seu primeiro dente aparecer (o que geralmente acontece entre 6-12 meses de idade) e que o primeiro exame pode ser retardado, no máximo, até quando a criança completar um ano de idade.
A recomendação, no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Odontopediatria e da Sociedade Brasileira de Pediatria, é que seja feita uma primeira consulta com o odontopediatra a partir da erupção do primeiro dente, o que acontece por volta do 6º mês de vida.
"O trio : consulta odontológica no tempo certo + bons hábitos alimentares + higiene bucal adequada pode retardar ou mesmo reverter a epidemia de cáries entre as crianças", afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
A cárie dentária ainda é uma doença oral infantil das mais prevalentes. O uso de antibióticos (especialmente a tetraciclina), que era, no passado, considerado um dos principais fatores desencadeantes dessa patologia já não pode mais ser acusado de vilão, visto já não ser mais recomendável para crianças abaixo dos 7 anos de idade.
“Atualmente, a alimentação inadequada, o uso de mamadeiras, mas, principalmente, a não prevenção adequada são aos principais fatores causadores das cáries em crianças. A avaliação da cavidade oral pelo pediatra deve contemplar a análise adequada dos dentes e das gengivas, bem como orientações que privilegiem os cuidados preventivos também no que diz respeito à dentição. Além disso, deve haver a recomendação de uma primeira consulta com o odontopediatra assim que nasça o primeiro dente (por volta do 6º mês, em média)”, explica Chencinski.
O Departamento de Saúde Oral da Academia Americana de Pediatria emitiu recentemente (novembro de 2014) uma diretriz a respeito da melhoria e da manutenção da saúde oral das crianças. Vale a pena conhecer o teor desse documento. Muitos aspectos interessantes foram abordados, tais como cáries, uso do flúor, uso de mamadeira e o aleitamento materno.
• Incentivar a redução da ingestão de açúcar pelas crianças (sabidamente, um dos maiores causadores de cáries);
• Promover o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês;
• Desencorajar as crianças a dormirem com a mamadeira (mamando);
• Ensinar quem usa mamadeira a suspendê-la com 1 ano de idade;
• Limitar a ingesta de sucos de frutas 100% naturais a não mais do que 120-180 ml por dia;
• Encorajar a criança a beber apenas água entre as refeições;
• Incluir as recomendações de prevenção de saúde oral nas consultas;
• Estimular a escovação dos dentes, assim que eles erupcionarem, pelo menos duas vezes ao dia, com pasta de dente com flúor, na quantidade do tamanho de um grão de arroz cru até os 3 anos e do tamanho máximo de um grão de ervilha depois disso;
• Supervisionar a escovação dos dentes até os 8 anos de idade.
“A cárie dentária é uma das doenças crônicas mais comuns na infância. O estímulo à saúde oral é de responsabilidade inicial do pediatra. Juntamente com os odontopediatras, temos o desfaio de eliminar esse mal, que começa pela boca, mas pode afetar outros órgãos e sistemas do organismo, algumas vezes de forma fatal”, alerta o pediatra.
Menos de 1% das crianças abaixo de um ano de passa em consulta com o odontopediatra
Pesquisa realizada em Toronto, entre setembro de 2011 e janeiro de 2013, com 2505 crianças, mostrou que o atendimento odontopediátrico abaixo de um ano é muito precário, apesar da recomendação da Canadian Dental Association.
“Mesmo com a recomendação da primeira consulta 6 meses após o aparecimento do 1º dente ou com 1 ano de idade, o estudo mostra que após 2 anos de idade, menos de 2% das crianças passaram em avaliação odontológica”, aponta Moises Chencinski.
Segundo os autores do estudo, o aumento da incidência de cáries está relacionado à renda familiar baixa, ao uso de mamadeira durante o dia ou à noite, além dos 15 meses de idade, e ao alto consumo de bebidas doces.
Para eles, há um erro de conceito a respeito de cáries em dentes de leite, “pois como eles vão cair não precisam ser tratados”. “Ao contrário do que se imagina, as cáries nos dentes de leite podem sim levar a quadros dolorosos, a dificuldades de alimentação, a interferências na nutrição e consequente crescimento inadequado, bem como a dificuldades de sono e alterações comportamentais”, informa o médico, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545