Do blog Ser mãe é padecer na internet - Estadão
Pelo leite materno a mãe está passando anticorpos para o seu bebê. Isso é muito mais proteção do que qualquer leite em qualquer mamadeira poderia oferecer
por Rita Lizauskas
22/04/2015
A professora de inglês Floriana Pacheco Fernandes, 24 anos, procurou o Hospital Santa Helena no bairro da Liberdade, em São Paulo, com febre alta, manchas pelo corpo, tosse e falta de ar. Chegou ao pronto-socorro às 11:24 da última segunda-feira, 20/04, e pegou a senha preferencial porque estava com o filho de três meses, Raul, que ela amamenta em livre demanda. A espera pelo atendimento foi de três horas.
Na sala de medicação reclamou da demora a um enfermeiro e explicou que tinha direito ao atendimento preferencial, já que estava com um bebê de colo no hospital. “Ouvi que eu não era prioridade ali”, conta. Quando lembrou o funcionário que tal atendimento é lei ouviu: “não aqui dentro”. Floriana afirma que depois da reclamação o atendimento piorou. O filho dela, Raul, que estava na recepção com a avó, começou a chorar de fome. Quando foi dar o peito para o filho, afirma ter sido constrangida. “Disseram que eu tinha de sair de lá, que era um ambiente contaminado. Eu expliquei que tinha que alimentar meu filho e me disseram que eu devia ter deixado uma mamadeira pronta”, conta. Raul nunca tomou mamadeira porque mama exclusivamente no peito.
O pediatra Moisés Chencinski, membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, contesta essa orientação do profissional de enfermagem. Para ele transportar uma mamadeira para o pronto-socorro é que poderia oferecer perigo de contaminação e não amamentar no peito. “Pelo leite materno a mãe está passando anticorpos para o seu bebê. Isso é muito mais proteção do que qualquer leite em qualquer mamadeira poderia oferecer”, afirma. “Infelizmente, profissionais de saúde não vinculados ao atendimento à criança desconhecem as informações a respeito da importância do aleitamento materno”, completa.
Segundo a advogada Ana Lucia Keunecke, diretora jurídica da ONG Artemis, o atendimento preferencial e o direito à amamentação são garantidos por leis municipais. “A mulher ofendida em seu direito deverá procurar o Ministério Público para denunciar o ocorrido”, garante. Nos dois casos, segundo a Artemis, o estabelecimento pode ter de pagar multa. A lei que garante o aleitamento materno em qualquer estabelecimento de São Paulo foi sancionada no último dia 14 de abril pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Floriana foi diagnosticada com dengue e nem a doença a impedirá de amamentar, segundo o pediatra Moisés Chencinski. “O que pode determinar a continuidade do aleitamento é a condição de saúde da mãe, pelo quadro de dengue”, afirma.“A doença não é transmitida pelo leite materno e sim pela picada do Aedes aegypti. Estudos mostraram que os bebês recebem, durante a amamentação, anticorpos contra o vírus e, quanto mais a criança puder mamar, menores serão suas chances de ter a dengue, mesmo não tendo ação de vacina”, completa. Se a dengue não impede a mulher de amamentar, o preconceito muitas vezes sim. “Eu me senti muito desprezada. Como se amamentar fosse algo dispensável e desnecessário. Como se fosse um capricho meu”, afirma Floriana. A assessoria de imprensa do hospital Santa Helena foi procurada, mas não se manifestou até a publicação deste post.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545