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Males da privação de sono para os estudantes adolescentes

Do site DeFato online

Adolescentes amam e precisam dormir. Nós amamos nossos adolescentes. Vamos defender o que eles merecem: uma boa noite de descanso

por Márcia Wirth

30/05/2015


Adolescentes necessitam de aproximadamente
9-10 horas de sono todas as noites

Não é nenhum segredo que os adolescentes amam dormir. E que a rotina matinal em diversas residências não é um ritual muito agradável: despertador, uma, duas, três vezes, pai e mãe gritando de manhã, logo cedo: “Levanta, menino!”.

Esse é um quadro muito comum, pois muitas escolas de ensino médio começam suas atividades às 07:00 ou mais cedo. Para os alunos, isso significa acordar antes do que a maioria dos adultos para ir ao trabalho. “E para os adolescentes em crescimento, esta marcha diária é mais do que um aborrecimento. Inúmeros estudos e especialistas estão soando o alarme: o sono insuficiente está colocando em risco a saúde dos alunos e a própria aprendizagem”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

No mês passado, nos EUA, a Associação Nacional dos Enfermeiros Escolares e a Sociedade de Enfermeiros Pediátricos se uniram à Academia Americana de Pediatria e emitiram uma recomendação vital para que as escolas de ensino médio não iniciem sua atividades antes de 08:30, visando acomodar os ciclos de sono naturais dos adolescentes. Eles são biologicamente programados para dormir e acordar mais tarde. Segundo as entidades de saúde, 87% dos estudantes do ensino médio são cronicamente privados de sono. “E essa privação de sono regular coloca os adolescentes em maior risco de depressão, ansiedade e obesidade, bem como de acidentes e lesões relacionados à fadiga. As horas a menos de sono também estão minando a concentração e o desempenho na escola”, diz o médico.

Confira alguns dados que serviram para embasar a recomendação das entidades de saúde

  • Os adolescentes necessitam de aproximadamente 9-10 horas de sono todas as noites (Carskadon, 2011);
  • O desenvolvimento e as alterações fisiológicas no sono do adolescente contribuem para mudanças no tempo de sono noturno, mas não necessariamente numa diminuição da necessidade de sono (Carskadon, 2011);
  • O início do uso de mídia eletrônica por adolescentes antes de dormir afeta a qualidade do sono (Fundação Nacional do Sono, 2014);
  • Os pais / encarregados de educação não têm conhecimento das necessidades de sono de adolescentes e / ou a duração do sono dos adolescentes (Academia Americana de Pediatria, 2014);
  • A imposição do pai / responsável do horário de dormir durante toda a adolescência está associada com a maior duração do sono (Short et al., 2011);
  • Começar o horário escolar antes de 08:25 está associado com mais sono durante o período escolar (Boergers, Gable, e Owens, 2014);
  • Adiar o horário de início escolar está associado à melhora do humor e redução da sonolência diurna (Boergers, Gable, e Owens, 2014);
  • Sono insuficiente e padrões de sono / vigília irregulares estão associados com um risco aumentado de sonolência durante o dia, dificuldades acadêmicas e emocionais, riscos de segurança e doenças cardio-metabólicas (Academia Americana de Pediatria, 2014).


A Academia Americana de Pediatria sugere que a razão para a privação de sono dos adolescentes é complexa. O fato é que a maioria dos alunos do ensino médio, que estuda pela manhã, não termina o seu dia quando as aulas terminam. Muitos deles estão envolvidos em atividades extracurriculares promovidas pela escola ou indicadas pelos pais e diversos trabalhos escolares que os obrigam a se manter acordados até tarde da noite. Os adolescentes, em muitos lares, concluem o seu "dia de trabalho" muito tempo depois que os adultos. “Por tais razões, corrigir o problema do esgotamento do aluno também é complexo. As entidades de saúde sugerem reexaminar a validade das demandas extracurriculares”, conta o pediatra, que também é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Mudanças além do horário...

A escola é um bom lugar por onde começar essas mudanças porque os potenciais benefícios estão bem documentados. Um estudo de três anos revelou que as escolas que começaram suas atividades mais tarde viram um aumento no desempenho e na frequência dos alunos, além de uma diminuição no atraso dos estudantes, nos abusos de substâncias tóxicas e nos sintomas de depressão.

Os profissionais de saúde não são o único grupo nos EUA pedindo horários de início tardio para as escolas. Os parlamentares estão atentos ao tema também. A deputada Zoe Lofgren apresentou um projeto, em março deste ano, com o objetivo de estudar se o adiamento das aulas para mais tarde provocaria efeitos sobre a saúde dos estudantes do ensino médio e sobre o seu desempenho acadêmico. Ela irá apresentar as conclusões ao Congresso.

Nos EUA, muitos passos estão sendo dados no mesmo sentido: defender o direito dos adolescentes dormirem um pouco mais. Um documentário Race to Nowhere revelou, recentemente, como a “cultura da educação” está cobrando um pedágio caro demais sobre o bem-estar dos alunos e das comunidades. “O filme deu origem a uma plataforma digital destinada a advogar por políticas escolares que coloquem a saúde do aluno em primeiro lugar, incluindo práticas saudáveis em casa e reformas no horário escolar. A equipe do filme envolveu-se realmente com o tema e lançou uma campanha em favor do sono do adolescente, que inclui um kit de ferramentas, fichas técnicas e outras informações para ajudar as pessoas a defenderem junto às escolas os benefícios do horário tardio”, conta Moises Chencinski.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545