Do facebook de Convivendo com Alergia
O antibiótico é um medicamento útil, fundamental e vital para o tratamento de infecções bacterianas. Antibióticos matam “bichos sensíveis” e não só “bichos ruins”.
24/06/2015
Cada vez que aparece algum feriado prolongado e, por eu não estar no consultório, muitas crianças acabam em longas filas de espera nos prontos socorros de São Paulo, recebo mais e-mails, mais telefonemas, mais contatos via redes sociais questionando as condutas nessas avaliações.
Invariavelmente, mais de 75% dessas crianças recebem, em sua saída, receitas contendo antibióticos pelas mais variadas razões (tosse com catarro, chiado no peito, com ou sem febre, catarro verde, entre muitas outras).
Antibióticos são excelentes medicamentos, porém têm sua indicação precisa. Antibióticos são medicamentos usados para combater infecções bacterianas que existem. Ou se tem a certeza da necessidade do uso do medicamento, ou a sua indicação como “prevenção”, para que o catarrinho no pulmão “não vire uma pneumonia”, está inadequada.
Já abordei esse tema recentemente em dois artigos que escrevi e recomendo a leitura (Antibióticos: a prescrição está adequada? e Antibióticos: prescrição e resistência bacteriana), com base em estudos publicados internacionalmente (CDC, Healthy Children, Pediatrics e The Lancet, entre outros).
Mas, parece que a cada dia que passa, mais e mais doenças recebem, de forma inadvertida, o tratamento à base de antibióticos.
Vale fazer um alerta. Antibióticos matam “bichos sensíveis” e não só “bichos ruins”. Isso quer dizer que independente da razão pela qual ele foi receitado, de forma adequada ou não, os antibióticos matam as bactérias que provocam as doenças e também “bactérias do bem”, que temos dentro de nosso corpo e que são parte integrante de nossas defesas.
Essas bactérias existem na boca, no intestino e na flora vaginal e quando são eliminadas favorecem o aparecimento de infecções secundárias como aftas (estomatite – que é viral) e fungos (sapinho), diarreias e prisão de ventre e corrimento, em meninas.
Se o medicamento foi receitado e essas reações apareceram por uso absolutamente necessário desse tratamento, esses são “males necessários”. Mas e quando não era necessário o uso do antibiótico?
Um estudo recente (“Antibióticos, Disbiose Pediátrica e Doenças”), realizado por pesquisadores da Universidade de Minnesota, foi publicado no jornal Cell Host & Microbe, demonstrou a influência do uso de antibióticos na infância, levando a doenças infecciosas, alergias, outras doenças autoimunes e até obesidade na vida adulta, pela sua ação provocando mudanças na flora bacteriana intestinal.
Segundo esse estudo, os antibióticos correspondem a 25% de todos os medicamentos receitados para crianças e pelo menos um terço deles desnecessários.
De acordo com os autores, estudos anteriores mostraram uma ligação entre o uso de antibióticos e o desequilíbrio da flora bacteriana intestinal, enquanto outros mostravam a relação entre o desequilíbrio da flora intestinal e doenças no adulto. Nos últimos anos, foram demonstradas fortes evidências da ligação entre o uso de antibióticos, desequilíbrio da flora intestinal e doenças de adultos.
No caso das alergias, por exemplo, o uso de antibióticos erradicaria bactérias intestinais chave para ajudar a maturação do sistema imunológico. Essas células seriam essenciais para manter o sistema imunológico em alerta quando confrontado com alergenos. E mesmo que essas bactérias retornassem, o sistema imunológico permaneceria inadequado.
Para concluir, é importante afirmar que o antibiótico é um medicamento útil, fundamental e vital para o tratamento de infecções bacterianas, quando prescrito de forma adequada, seguindo as fundamentações básicas de sua aplicação.
Esse estudo apenas aponta mais algumas consequências danosas do amplo uso de antibióticos precocemente na infância e recomenda novos estudos a respeito da formação, composição e restabelecimento da flora bacteriana intestinal.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545