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O impacto social das alergias alimentares

Do site JorNow

Sem glúten, sem frutose, sem lactose, livre de soja, etc., etc., etc... Essas são palavras de ordem na indústria de alimentos nos dias de hoje, não são? Para muita gente, elas soam como “caprichos”, “privilégios”, “frescuras”...

por Márcia Wirth

20/08/2015

“Essas coisas não existem, essas pessoas são apenas muito sensíveis, certo? Basta dar-lhes um pouco do que eles rejeitam e eles vão ficar bem!”

Bem, na verdade, não!

Você sabia que até 15 milhões de pessoas nos Estados Unidos têm uma alergia alimentar? O que significa que quase 5% da população americana pode apresentar reações graves e potencialmente fatais à comida? Quando adicionamos todas as pessoas com intolerâncias alimentares e doenças que exigem mudanças na dieta, como a doença celíaca, percebemos que são muitos os que precisam comer de forma diferente apenas para que se manterem saudáveis. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, ASBAI, as reações alimentares de causas alérgicas verdadeiras acometem cerca de 6-8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2-3% dos adultos.

Claramente, esta é uma questão legítima. Mais de 200 mortes ocorrem anualmente, nos EUA, simplesmente porque alguém come algo a que é alérgico. Isto é, mais do que 200 devem ocorrer...

Mais crianças diagnosticadas com alergia alimentar?

Os pais estão relatando mais problemas de pele e mais alergias alimentares em seus filhos, segundo uma pesquisa do governo americano, realizada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDCs.

“A pesquisa sugere que cerca de 1 em cada 20 crianças, nos Estados Unidos, sofre de alergia alimentar. Isso é um aumento de 50% desde o final da década de 1990. Para eczema e outras alergias da pele, o número é de 1 em cada 8 crianças, um aumento de 69%. Não foi registrado aumento, no entanto, em outras alergias respiratórias”, informa o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Nos EUA, quem está mais familiarizado com esta tendência de aumento das alergias alimentares são as enfermeiras escolares, que têm tentado banir o amendoim das festas e armazenar medicamentos de alergia para atendimentos de emergência nas escolas.

“As alergias alimentares tendem a ser mais temidas. Casos graves podem causar choque anafilático ou até mesmo a morte de quem comer, digamos, um amendoim. Tem sido difícil obter números exatos para as alergias infantis, a nova pesquisa também não é precisa”, diz o médico.

Os pais foram questionados se - no ano anterior - o filho teve qualquer tipo de alergia digestiva ou a um alimento, qualquer alergia ou eczema na pele ou qualquer tipo de alergia respiratória. Os pesquisadores não perguntaram se o médico tinha feito o diagnóstico ou verificado os registros médicos. Assim, alguns pais podem ter afirmado uma opinião pessoal e não necessariamente um diagnóstico preciso.

O relatório do CDC também encontrou

• Alergias a alimentos e respiratórias são mais comuns em famílias de renda mais alta do que as pobres;
• Eczemas e alergias de pele são mais comuns entre as famílias pobres;
• Mais crianças negras têm problemas de pele, 17%, em comparação com 12% das crianças brancas e cerca de 10% das crianças hispânicas.


Sobre alergia alimentar, veja também:

Alergia Alimentar
https://www.youtube.com/watch?v=MCYDmNHoMEA

Alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é o novo vilão?
https://www.youtube.com/watch?v=_YgkAK-2ubM

Pergunta necessária

“Diante dos números que coletamos, podemos afirmar que a alergia alimentar é uma doença. Então, por que se tornou comum dizer que as alergias alimentares, intolerâncias e dietas médicas são ‘privilégios’, ‘caprichos’, ‘frescuras’? Claro que existem dietas da moda e seus praticantes, que comem de forma particular, na esperança de perder peso, mas isso não significa que seja bom agrupar todas as pessoas em um grande e único grupo. Na verdade, esse ato intencional de não se colocar no lugar de alguém que precisa evitar certos alimentos ou na posição de alguém que tem que comer de forma diferente da nossa para se manter saudável pode ter algumas consequências sociais e pessoais seriamente negativas”, destaca Moises Chencinski, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Muito sofrimento, muita exclusão

Um estudo na Itália mostrou que, de uma coorte de crianças com alergias alimentares, um quarto delas raramente comparecia a eventos sociais. Isto é parcialmente devido ao medo de comer um alergeno, mas em grande parte devido ao estigma social de ser diferente. “Se as crianças com alergias chegam a ir aos eventos sociais, elas são mais propensas a levar comida de casa e, em seguida, comer separadamente de todos os outros. Estas mesmas crianças que são deixadas de lado não são capazes de se envolver e de manter as mesmas interações significativas que outras crianças da sua idade estão estabelecendo”, conta o pediatra.

Isto provoca efeitos colaterais muito prejudiciais. Um estudo americano aponta esse fato claramente. Das crianças com alergias alimentares que participaram do estudo, 45% delas relataram intimidações, o que é um número quase 20% maior do que estudos semelhantes têm revelado para crianças que não têm alergia alimentar. Estas crianças também passam a ter taxas estatisticamente mais elevadas de ansiedade, depressão e transtornos alimentares.

O sentimento de ser intimidado e estigmatizado não termina quando essas crianças crescem e viram adultos: o bullying e a sensação de solidão são onipresentes nas vidas das pessoas com restrições alimentares. “O problema atinge mais pessoas do que apenas amigos e colegas de escola dos nossos filhos. Ele está em toda parte. O julgamento social dos que têm dietas diferentes não termina quando o programa ou a entrevista acabam. Ele se estende em cada momento da vida dessas pessoas. E perpassa cada interação social da nossa cultura, que gira em torno do ato de sentar para uma refeição juntos e compartilhar nossas vidas, saboreando uma boa refeição. Um ato simples, que exclui muita gente”, defende Chencinski.

O que pode ser feito para remediar esta questão?

“Educar e comunicar. Você já deu o primeiro passo ao ler ou compartilhar este texto e ao assistir os meus vídeos sobre o tema. Você está espalhando a dúvida em favor do réu, em último caso... A sensibilização em torno do perigo de não aceitar todas as dietas medicamentosas é de extrema importância. Se pudermos mudar a cultura em torno dos alimentos e das alergias alimentares, não teremos que nos preocupar muito sobre a nossa segurança ou a segurança dos nossos filhos. Nós não teremos que nos preocupar se o pequeno João ou a pequena Maria estarão em perigo ou se eles vão se sentir excluídos no ambiente escolar”, afirma o pediatra.

Quando as pessoas pararem de dizer que a alergia alimentar é “privilégio” e/ou “frescura”, o paciente finalmente vai se livrar da ideia de que é um fardo para todos. “Não confunda um alérgico com um praticante de ‘dietas da moda’ porque você está negando a existência de uma doença. A maneira como a sociedade trata as doenças, intolerâncias e alergias alimentares é mais negligente do que pensamos. Então, por favor, eduque-se, preste atenção, e faça a sua parte”, destaca o médico.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545