Do site da revista Viva Saúde - Edição 149
Sejam vocês pais de primeira viagem ou não, há muito o que aprender com as últimas descobertas científicas para ajudar na criação dos filhos, mas com moderação
por Marília Alencar
27/10/2015
Filhos
(Foto: Shutterstock)
Choro, quantidade de leite, muita roupa, pouca roupa, quando dar fruta, sopa ou banho, como fazer o curativo do cordão umbilical. As dúvidas em relação aos cuidados que se deve ter com um bebê são inúmeras. Trata-se de outra vida totalmente dependente dos pais e que requer muita atenção a qualquer choro ou sinal de desconforto.
Na hora do problema, a melhor consultoria diante das hesitações deve vir de ajuda especializada, no caso, o mais indicado é o médico pediatra. E com orientação extra: escolha o profissional antes de o bebê nascer, já na 32ª semana de gestação, aconselha Moises Chencinski, membro dos Departamentos de Aleitamento Materno e de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
“Sempre acaba sendo uma orientação de alguém, da internet, tudo em cima da hora. Nasceu o bebê, não é hora de escolher o pediatra, é melhor escolher antes. Já nascendo com o pediatra ‘no bolso’, é melhor e mais tranquilo para a mãe”, diz o médico.
Dúvida comum
Entre as dúvidas mais comuns, a campeã disparada é sobre aleitamento. “Até por conta da má orientação que a mãe recebe na maternidade e no pré-natal”, diz Chencinski. “As maternidades dão alta em 48 horas, é difícil aprender algo nesse período”, explica Francisco Lembo Neto, coordenador do Centro de Especialidades Pediátricas do Hospital Samaritano (SP).
Fora do consultório
Em um mundo em que somos bombardeados de informações a todo momento, fica difícil não recorrer à internet para esclarecer alguma dúvida imediata. Muitos pediatras oferecem o celular e o e-mail para que os pais entrem em contato, no entanto, a resposta pode demorar a vir.
Nesse caso, os médicos orientam que as pessoas procurem dados em sites de instituições oficiais, como das sociedades de pediatria, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde. Chencinski fazuma ressalva à busca por grupos de mães na internet, já que ali circulam informações de fontes diferentes, nem sempre confiáveis, que podem mais atrapalhar do que ajudar. “Com várias orientações, os pais acabam se perdendo”, aponta Lembo Neto, que comenta as orientações familiares: “Os hábitos do passado acabam tentando influenciar a conduta atual. Um exemplo é a amamentação. Muitas avós não amamentavam, e estimulavam a ingestão do leite de vaca, pois havia a crença deque o leite materno não funcionava”.
Ciência como processo
Chencinski concorda e acrescenta que “quando se trata de compreender a saúde das crianças, muita informação pode chegar por meio do conhecimento das últimas pesquisas científicas, com o entendimento de que a ciência é um processo e que os estudos precisam ser replicados muitas vezes antes de se tornarem realidade nos lares”. A seguir, listamos descobertas recentes que podem ser de grande valia para os pais. Confira!
Uma pesquisa do Centro Médico Langone (Nova York), mostrou que o uso repetido de antibióticos afeta o desenvolvimento das crianças. Outro levantamento, feito em 2014, com base no Sistema Nacional de Dados sobre Envenenamento dos Estados Unidos, mostra que a cada oito minutos uma criança com menos de 6 anos é vítima de um erro de medicação. “Se os pais são bem orientados, dá para medicar em casa, sem exagero. Hoje há procura excessiva dos hospitais, e isso é fruto de má orientação na área privada e pública”, afirma Lembo Neto
Um estudo publicado na revista Pediatrics investigou os fatores ligados às mortes dos bebês durante o sono e constatou que a criança dormir na mesma superfície que a mãe foi o maior fator de risco para aqueles com idade de quatro meses ou menos. “A cama compartilhada é uma realidade útil, mas tem riscos. A criança pode ter febre, dificuldade respiratória, mas pode ser uma opção interessante para a mãe sentir-se mais confortável ao amamentar, por exemplo”, explica Chencinski. Já o médico do Samaritano não aconselha o compartilhamento do colchão com os pais, e indica que é melhor a criança ficar no berço ou no carrinho ao lado da cama.
Nos EUA, mais da metade dos pais coloca seus bebês para dormir com cobertores ou outros objetos soltos, de acordo comum relatório oficial do governo. “A porcentagem de pais que coloca seus filhos para dormir com outros objetos na cama caiu desde a década de 1990. E aqueles que não adotaram as recomendações da Academia Americana de Pediatria podem estar sendo confundidos por revistas e catálogos de decoração, que retratam bebês em berços com objetos desnecessários – e potencialmente inseguros –, como cobertores e almofadas de pelúcia”, alerta Chencinski.
“Protetor de berço deve sempre ter porque a criança pode entrar na grade. Não há necessidade do travesseiro até os 5 meses de idade. Se a casa tem boa temperatura, não há necessidade de cobertor, e se houver, tem que estar preso no colchão. A criança se movimenta muito e pode se enrolar”, explica Lembo.
Muitas famílias tratam os pets como filhos. A relação funciona de modo semelhante ao que se dá entre mãe e filho, segundo um estudo publicado pela revista Science (abril de 2015). Comprovou-se que a troca de olhares entre o cachorro e seu dono dispara os níveis de ocitocina no cérebro de ambos. O hormônio é conhecido como "hormônio do amor" e é relacionado à conduta paternal e maternal. A ocitocina tem papel importante no reconhecimento e estabelecimento de vínculos sociais, assim como na formação de relações de confiança entre as pessoas. Mas será que faz bem ao bebê conviver desde pequeno com animais? “A não ser que a criança tenha alergia ao pelo. Do contrário, ter animal de estimação em casa é um estímulo”, fala Lembo Neto. “A convivência é ótima e pode ser feita. Já há dados que indicam uma incidência menor de quadros respiratórios em quem convive com animais”, explica Chencinski.
Um estudo que se concentrou nos dados de um hospital de Oregon (EUA), descobriu que mais de 90% das mães, pais ou cuidadores cometeram pelo menos um erro importante na forma como instalaram o assento de carro do recém-nascido quando deixaram o hospital após o nascimento. “Os resultados demonstram a necessidade de mais informações para que os pais mantenham seus filhos em segurança”, afirma o médico da SPSP. Segundo a ONG Criança Segura, os sistemas de retenção reduzem a probabilidade de lesões fatais em cerca de 70% entre bebês e de 54% a 80% entre as crianças menores. Há diversos tipos de sistemas de retenção de acordo com o peso e a faixa etária. Em comparação aos cintos de segurança, estima-se que o uso de assentos de elevação reduz em 59% o risco de danos em crianças de 4 a 7 anos.
A Califórnia (EUA) teve um surto de sarampo em 2015, quando 99 pessoas contraíram a doença. Autoridades americanas disseram que isso ocorreu porque muitas famílias não vacinam os filhos por acreditar que a imunização faz mal ou por alguma crença religiosa, o que resultou em uma lei rigorosa que obriga a população a vacinar suas crianças, sob pena de não poderem frequentar escolas públicas. Em 1995, um pesquisador declarou que quem tomava a vacina de sarampo tinha maior incidência de autismo. Uma jornalista foi investigar e descobriu que os dados tinham sido falsificados.
Em 2010, uma retratação foi publicada. “Aí você tem uma informação inadequada gerando pânico. As vacinas são seguras e estudadas. Uma revisão de estudos sustenta a segurança das vacinas, revelando que as reações adversas graves com 11 vacinas comuns geralmente dadas a crianças com menos de seis anos são raras”, conta Chencinski. Já Lembo Neto é mais enfático: “Não vacinar é quase uma ignorância e falta de informação. Vacina é um avanço da medicina”.
“Mãe, conta de novo.” Essa típica frase dita pelos pequenos faz bem à saúde. Em junho de 2014, a Academia Americana de Pediatria emitiu sua primeira declaração sobre a promoção da alfabetizaçãoinfantil, incitando os pediatras a falar com os pais, durante as consultas, sobre a importância da leitura em voz alta para seus filhos. “Os benefícios da leitura em conjunto vão além da promoção da alfabetização. A leitura para crianças ajuda a alimentá-los emocionalmente e fortalece laços familiares”, destaca Chencinski.
Um recente estudo publicado no Jornal de Estudos da Religião informa que quem brinca ao ar livre fica mais sensível, realizado e espiritualizado. Os pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan (EUA) observaram os participantes para medir essa sensibilidade e descobriu-se que quem passa mais tempo fora de casa possui mais conexão espiritual com o planeta. As crianças que passaram de cinco a dez horas por semana brincando ao ar livre demonstraram ter mais imaginação, criatividade e curiosidade, e ainda uma estima maior pela natureza. Tais atividades previnem a obesidade infantil, um problema que já afeta 7,3% das crianças com menos de 5 anos no Brasil. Entre 5 e 9 anos, o percentual chega a 33,5%; na adolescência, o quantitativo é de 20,5%.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545