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Crise dos dois anos: Mito ou Realidade?

Do site do Dr. Drauzio

De repente, aquele bebê sossegado, carinhoso, que só faz caretas e os pais se derretem… muda. Gritos, birras e choros incessantes passam a fazer parte do comportamento da criança. Tal fase é chamada pelos pais e pediatras como “crise dos dois anos” ou “terrible two” (“terrível dois”, em tradução livre). Não é mito e faz parte da continuidade do desenvolvimento do bebê. Uma dose de paciência dos pais é requerida neste momento.

por Juliana Conte

09/10/2015

Para entender por que isto ocorre, pense no seguinte: nos primeiros anos de vida, o bebê só engatinha e é totalmente dependente do outro. Não consegue comer sozinho, tampouco falar. Dos 10 meses em diante, ele já está apto a andar e começa a surgir autonomia no ir e vir. A partir dos dois anos, a criança já consegue se expressar e tem bom arsenal vocabular. Frases como: “eu quero” ou “é meu” passam a ser constantes, além do comportamento de modo opositivo às solicitações dos pais. Na prática, ele passa a verbalizar aquilo que deseja (ou não). E é aí que começam os choques entre pais e filhos. Uma espécie de “adolescência do bebê”.

“Os pais precisam ter paciência, porque é neste momento que começa o processo de educação. Ensinar o que pode ou não, o que é certo e errado. Isso demanda tempo para a criança assimilar e botar em prática. Não é de um dia para o outro que ele vai saber que jogar comida no chão, por exemplo, é errado. Ela aprende pela repetição. Gritar ou fazer birras é um jeito de o bebê demonstrar insatisfação. Afinal, é uma criança em processo de desenvolvimento, que mal fala e anda”, explica a pediatra comportamental Ana Lucia Balbino Peixoto.

Além disso, uma criança de dois, três anos, não entende muito o significado da palavra “não”. Por isso, não estranhe se ele fizer o contrário do “não corre”, “não pula”, “não come isso”. Ele, na prática, vai entender que é para correr, pular ou comer.

Dicas

Uma dica fundamental para os pais de plantão: não adianta chamar a atenção do filho no momento da crise. Ou seja, falar mais alto, bater, colocar de castigo ou algo do gênero. O ideal é ter sangue frio e esperar a criança parar de chorar, gritar, se debater. Logo em seguida, retire-o daquele ambiente e pontue o que foi errado. Ignorar o comportamento do pequeno que se joga no corredor do shopping pode ser bem difícil e angustiante no começo, mas a boa notícia é que funciona. Peixoto explica que quando não há atenção dos pais, elas param automaticamente. Mas lembre-se: isso demanda tempo e o aprendizado vem de anos de repetição.

“A família tem papel fundamental nesse processo de aprendizagem, porque os filhos refletem os hábitos, as atitudes deles, como se fossem um espelho. Então, se o pai ou a mãe grita demais, fala palavrão, ele vai assimilar aquilo como sendo correto e repetir nos ambientes que convive, como escola, clube, parques”, complementa a médica.

O pediatra Moises Chencinski, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo, complementa dizendo que não se deve punir o filho por erros, como por exemplo se ele deixa cair sem querer um copo no chão. Mas deve-se punir por pequenas transgressões, como a criança que joga comida no chão, bate nos colegas etc.

“Na hora, o pai ou a mãe deve se abaixar na direção do filho, falar olhando diretamente nos olhos e explicar. Por exemplo: ‘olha, a gente te ama, mas o que você fez foi muito feio e nos deixou triste. Espero que isso não se repita’. É importante ter palavras de carinho junto com a advertência. É preciso conversar e explicar. Demora, mas a criança vai aprender, com certeza”, esclarece Chencinski.

Outra sugestão para quem tem filhos pequenos. Se por exemplo, você vai ao supermercado ou a uma loja, antes de sair de casa converse com a criança sobre o programa e já adiante que não poderá comprar nada, pois isso ajuda na assimilação da mensagem, do que pode e o que não pode.

Também não faça trocas por um bom comportamento. Algo do tipo “se você ficar quieto eu te dou um doce/brinquedo”. Segundo Moises, com esse tipo de atitude ele vai sempre ficar condicionado a associar boas atitudes a prêmios, e isso não é nada bom.

A educação demanda tempo, esforço e paciência, mas é uma responsabilidade dos pais. “Eu entendo que tem pais que chegam esgotados do trabalho e ficam sem tempo e energia para cuidar dos filhos. E aí, ao invés de tentar contato, dão um jogo, um celular para eles ficarem entretidos. Bom, eu digo que a partir do momento em que você tem filhos, não dá para eles sempre se adaptarem a sua rotina. É importante estimular um vínculo”, pontua Moises.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545