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Prescrição de leitura para crianças: Sociedade Brasileira de Pediatria lança campanha “Receite um livro”

Dos sites JorNow e Portal Hospitais Brasil

Crianças hospitalizadas por longos períodos também merecem ser beneficiadas com a prescrição da leitura.

por Marcia Wirth

27/10/2015

Durante o 37º Congresso Brasileiro de Pediatria, no Riocentro, evento organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os pediatras foram convidados a se engajar na campanha “Receite um livro”, uma iniciativa da entidade médica em parceria com outras organizações sociais. O objetivo é estimular o aumento das conexões cerebrais das crianças por meio da leitura, que pode ser feita pelos pais ou por pessoas próximas. Esta recomendação médica já é uma tendência no exterior e começa agora a ser difundida no Brasil.

A SBP fortalecerá a ação dos pediatras nesse sentido, distribuindo a publicação “Receite um livro: fortalecendo o desenvolvimento e o vínculo”, que reunirá conteúdo atualizado e baseado em evidências científicas sobre os impactos da leitura no desenvolvimento infantil, bem como orientações de como incluir o estímulo à leitura na prática clínica. Os pediatras também ganharão um kit de livros infantis.

“A campanha tem o mérito de despertar os pediatras e a sociedade para a importância do tema. Mas, assim como em muitas ações de saúde, precisamos mais do que uma campanha, que tem caráter sazonal e passageiro. Precisamos que a recomendação seja incorporada à prática pediátrica e que todas as crianças possam ter acesso aos benefícios da leitura”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Em junho de 2014, a Academia Americana de Pediatria adotou medida semelhante, destacando que "prestadores de cuidados pediátricos devem promover o desenvolvimento da alfabetização das crianças, pois essa ação é um componente essencial na prática da atenção primária às crianças”. A declaração dessa política posiciona a leitura para as crianças como elemento relevante do projeto de alfabetização precoce e das relações que os bebês estabelecem com seus pais e cuidadores.

Desenvolvimento do cérebro infantil

Há quase meio século, a observação científica dos recém-nascidos e das crianças pequenas levou à conclusão de que o desenvolvimento do cérebro não é apenas rápido e extenso no início da vida, mas que é altamente sensível aos cuidados e estímulos que os pais e outros fornecem. Com o advento posterior da tecnologia da imagem cerebral, esses achados finalmente começaram a atrair a atenção dos formuladores de políticas públicas, em meados dos anos 1990.

“No entanto, apenas começamos a considerar seriamente essas descobertas no desenvolvimento infantil. Ainda pode ser uma surpresa ou uma novidade para alguns que a leitura para bebês, nos primeiros seis meses de vida, contribui para o desenvolvimento do cérebro e do sucesso escolar posterior”, diz o pediatra.

Embora a leitura possa ser uma força poderosa para o desenvolvimento inicial do cérebro, a natureza das conversas entre pais e bebês, durante a leitura e durante outras interações importa tanto quanto o próprio ato de ler. Mesmo nas primeiras semanas de vida, pais e crianças, no momento da leitura, estão exercitando características extremamente sutis de vocalizações, gestos e expressões faciais. Estas são as interações que estimulam o desenvolvimento inicial do cérebro.

“Os bebês têm períodos curtos de atenção, são facilmente distraídos, por isso a leitura inicial deve ser de textos curtos. Porque o mais importante é o prazer que eles sentem em ouvir a leitura, observar o contador e suas expressões faciais e apontar para as imagens da página, o que também serve de recompensa para os pais, pois reforça e perpetua este tempo de aprender juntos”, explica Moises Chencinski.

Importância da leitura

A leitura é apenas um exemplo das interações sociais ricas relacionadas à linguagem, que podem começar no início da vida e até durante a gestação. Ela é responsável por grande parte da diferença na velocidade de processamento entre as crianças de 15 meses e o tamanho do vocabulário das crianças de quatro anos. A leitura prepara o cérebro das crianças para a aprendizagem e o sucesso escolar posteriores.

“É por meio dessas interações com os pais e cuidadores que as crianças desenvolvem as funções executivas que precisarão ser utilizadas na escola, como por exemplo, a capacidade de se concentrar e de prolongar a atenção e a motivação para continuar concentrado. E tudo isso começa no colo de pais amorosos. Um livro pode despertar a curiosidade, antes mesmo que uma criança seja capaz de formular perguntas. Uma história compartilhada pode levar a uma vida de amor e de aprendizagem. Os livros são uma ótima ponte para que pais e bebês falem uns com os outros. Além disso, mesmo sem perceber, quando os pais estão lendo para seus bebês, eles estão incutindo habilidades necessárias para a pré-alfabetização, como por exemplo, o entendimento de que o que está escrito numa página ‘representa algo’ e que as páginas de um livro têm uma sequência particular”, explica o médico.

Leitura para crianças

Tempo para leitura

Pais que leem para seus filhos, desde o início da vida, precisam de muito mais do que livros. Eles precisam de tempo para estar com os filhos e de proteção contra o estresse diário para serem capazes de não apenas ler para os filhos, mas como também para conversar intimamente com eles. “Por isso é tão importante ampliarmos as discussões sobre a licença maternidade e paternidade”, diz o médico, que também é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo. A maioria dos pais tem que trabalhar, assim, a maioria dos lactentes e crianças pequenas passam muitas horas sob os cuidados de outros. Os bebês e as crianças pequenas precisam de leitura e de outras interações sociais permeadas pela linguagem durante todo o dia, sempre que eles estiverem prontos, onde quer que estejam. 

“Durante as primeiras semanas, meses e anos de vida, não há soluções rápidas ou balas de prata para o desenvolvimento do cérebro. Precisamos investir não apenas em livros, mas também em crianças, em seus pais e naqueles que cuidam deles, enquanto os pais estão no trabalho. Precisamos capacitar os profissionais de saúde que tomam conta das crianças internadas por longos períodos, para que a leitura faça parte de sua formação. Precisamos pensar nas crianças que vivem em abrigos e orfanatos, pois os responsáveis por essas instituições também precisam ser sensibilizados sobre a importância da leitura. Hoje, precisamos pensar nas crianças refugiadas que chegam ao Brasil. A leitura pode ser a ponte para a adaptação e a formação de laços com a nova pátria. Os responsáveis pelos abrigos precisam ser sensibilizados para essa situação. Como pediatras, não podemos excluir nenhuma criança”, defende Moises Chencinski.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545