Drauzio – Que critério a mãe deve adotar para estabelecer o ritmo das mamadas? Ela deve obedecer a um horário rígido ou guiar-se pelo choro da criança?
Keiko Teruya – Livre demanda é o critério a ser adotado. Os bebês não nascem conhecendo relógios nem horários, mas a mãe sempre percebe quando chegou a hora de amamentar. Não é preciso que a criança chore. Sua irritabilidade ou agitação bastam para que ela saiba que o filho necessita de seu peito.
Drauzio — Existem instruções para orientar a mãe no que se refere à troca de peito?
Keiko Teruya – A criança deve mamar num peito até soltá-lo espontaneamente e só então lhe deve ser oferecido o outro. Há um teste simples que demonstra a eficácia desse procedimento. Antes de iniciar a mamada, pede-se à mãe que retire um pouquinho de leite e reserve. Em seguida, o seio é oferecido ao filho. Quando ele o soltar, ela tira mais um pouco de leite desse mesmo seio e compara as duas amostras. O primeiro é ralo e bem clarinho, pobre em gorduras, mas rico em açúcar e água. O outro é escuro.
Essa diferença é uma prova de que a natureza é sábia. A criança tem necessidade dos dois leites: o anterior e o posterior. O primeiro serve para matar a sede; o segundo, para matar a fome e fazê-la engordar.
Nós, pediatras, estávamos errados quando apregoávamos 15 minutos num peito, 15 minutos no outro. Geralmente, a mãe que tem num único peito leite suficiente para alimentar a criança, deve começar a mamada seguinte pelo seio menos solicitado e deixar que o primeiro e esgote.
Drauzio – Na hora da amamentação, qual deve ser a atitude da mulher?
Keiko Teruya – Bem relaxada e com as costas apoiadas, de preferência com o pé todinho no chão, a mãe deve olhar para a criança, o que nela é uma reação quase automática, instintiva. Esse carinho, o cheiro que a mãe exala, essa dança entre mãe e filho ao amamentar são fundamentais para o desenvolvimento harmônico da criança. Por isso está certo quem diz que, se a criança receber amor, dificilmente devolverá violência.
Não faz muito tempo, entrou em contato comigo uma procuradora de justiça que estudou a criminalidade nas crianças que viviam em instituições. Ela concluíra que o desmame era a causa mais importante desse desvio comportamental. Essas crianças nunca haviam sido amamentadas e mãe que amamenta, não maltrata o filho. Não o espanca, não o queima nem quebra seus ossos e não o abandona.
Drauzio – Resumindo, quais as orientações da Organização Mundial de Saúde em relação ao aleitamento materno?
Keiko Teruya – A OMS aceitou uma proposta brasileira e recomenda o aleitamento materno por seis meses. A partir dessa idade até os 2 anos, outros alimentos serão introduzidos observando as etapas do desenvolvimento infantil. O branco do leite é substituído pelo colorido dos sucos de frutas, por exemplo; o líquido, pelo pastoso e depois pelo sólido. A recomendação é oferecer à criança o que a família come e não mais as sopinhas elaboradas de antigamente.
Drauzio — Sem usar a mamadeira?
Keiko Teruya — Sem a mamadeira e sem chupeta, que também deixou de ser recomendada. O ideal é não utilizar a mamadeira, porque a dinâmica de sucção é totalmente diferente da do peito. Para demonstrar a diferença, peço às mães que suguem seu dedo e depois seu punho. Ela vai notar que para sugar o dedo usa muito pouco a estrutura da boca. Praticamente só usa a língua. O mesmo ocorre com a criança e a mamadeira porque o leite sai quase por gravidade. Mamar no peito pressupõe muito mais esforço e empenho. E quem não gosta de sombra e água fresca?