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Antecipar ou adiar a vacinação do seu filho é um problema

Do site Ig - Saúde

Quando o pediatra recomenda que os responsáveis levem o filho para se vacinar dentro de um período, não é excesso de zelo; criança pode ficar desprotegida ou anula o efeito

Por Elioenai Paes

05/11/2015

Dados epidemiológicos mostram que a melhor maneira de proteger uma criança de doenças infecciosas específicas é praticando a vacinação. Com um calendário amplo e de fácil acesso no Brasil, imunizar uma criança não só a protege, mas também evita que bebês que ainda não estão na idade certa para se vacinar, contraiam doenças dos irmãos ou colegas mais velhos.


Arquivo Agência Brasil

Muitos responsáveis, no entanto, acabam tentando “passar a conversa” no médico para aplicar todas as vacinas em um só dia ou antecipar uma vacina por causa de uma viagem ou até mesmo adiá-la, acreditando que não haverá mal algum nessa atitude. Quando o profissional é firme na opinião e diz que é importante respeitar os prazos, os pais se questionam a razão de isso ser perigoso.

É simples: a criança ficará desprotegida, seja por antecipar ou adiar a vacinação. A pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações — Regional RJ, Flávia Bravo, explica que o intervalo recomendado e ideal entre uma dose e outra de uma mesma vacina é de dois meses. O intervalo mínimo para uma vacina funcionar, no entanto, é de um mês. Se aplicar a segunda dose em um tempo menor que esse, ela simplesmente é inútil.

Centro de vacinação é uma dor de cabeça

“É preciso respeitar o intervalo mínimo entre doses de vacinas, sendo que a maioria das vacinas infantis tem um intervalo de dois meses. É um intervalo ideal, permite fazer mais vacinas juntas, para não precisar ir ao posto a cada 10 dias ou de 15 em 15 dias”, conta ela. “Uma população mais privilegiada não se incomoda em ir toda semana, mas para a maior parte da população, ir a um centro de vacinação é uma dor de cabeça danada, é um dia perdido de trabalho”, conta.

Segundo ela, é possível usar o intervalo mínimo, mas esse intervalo deve ser respeitado. “De modo geral é um mês entre doses da mesma vacina, porque o nosso sistema imune precisa de um tempo para responder todo o processo dele. Se encurtar para menos de um mês, simplesmente temos de esquecer que a primeira dose foi feita. Se a criança tomou a segunda dose da vacina para difteria, tétano e coqueluche dentro de 15 dias da primeira dose, vamos simplesmente ignorar essa segunda dose, porque o intervalo mínimo é quatro semanas. O sistema imune não consegue responder com um intervalo pequeno”, explica a médica. Logo, a criança está desprotegida e a segunda dose não trouxe eficácia.

Vacinas perdem a ação

O pediatra e homeopata Moises Chencinski conta que também há um problema nessas adaptações quando se tratam de vacinas pagas, não disponíveis na rede pública. Para algumas vacinas, basta uma dose. Mas quando são mais doses, há a questão financeira de querer “adiar” para aplicar depois. Enquanto todas as doses não forem completadas, a criança não fica protegida. Se de três doses ela recebeu apenas duas, ela não está protegida contra o vírus ou bactéria.

Chencinski conta que hoje se sabe que algumas vacinas perdem a ação antes do que se imaginava. “E aí voltam os surtos. Analisamos esses surtos e, depois da avaliação, resolvemos revacinar em uma idade ou época da vida”, conta. “Foi o que aconteceu com a tosse comprida, o coqueluche. Essa vacina é aplicada junto com a tríplice, que é dada em três doses e dois reforços. Essa vacina, depois de cinco anos de idade, perde 50% da potência de imunização 10 anos depois. E aí crianças de um ano de idade começaram a adoecer, as de seis meses a ficarem internadas e as menores de dois meses, morrer. Quem foram considerados os vetores? As mães”.

É importante vacinar no período certo
Thinkstock/Getty Images

Vacinação em gestantes

Ele conta que, por isso, a ordem hoje é vacinar todas as gestantes entre a 27ª e 35ª semana de gestação, em todas as gestações que ela tiver. “Não estamos imunizando a mãe, mas sim o bebê por meio dela, já que assim ele não nasce totalmente desprotegido”, conta o pediatra. “Além disso, se eu não for vacinado mas todos à minha volta estiverem imunizados, não corro o risco de adoecer. É o chamado efeito rebanho”.

Reações são comuns e esperadas

Flávia conta que não há problema em receber muitas vacinas no mesmo dia, desde que elas sejam compatíveis. “Muita vacina no mesmo dia não sobrecarrega o sistema imune. As vacinas atualmente são muito purificadas e simples, carregam apenas o antígeno que desperta a resposta imune”, explica ela. “Fazer várias vacinas juntas pode aumentar um pouco mais de risco de eventos adversos, mas não é preocupante. Pode dar um pouco mais de febre, mas faz parte da resposta imune”.

Ela diz, no entanto, que é preciso prestar atenção na harmonia entre vacinas. “No calendário de vacinação já está considerado quais vacinas podem ser aplicadas no mesmo dia, de modo em que não interfira na resposta da outra. Por exemplo: a vacina da febre amarela junto com a tríplice viral não é indicada, pois existe uma certa interferência nos anticorpos produzidos”.

Evite aplicar essas vacinas juntas

Flávia explica que a vacina contra meningite B junto com a tríplice bacteriana ou pneumocócica tende a dar febre alta, então os médicos evitam aplicar no mesmo dia. “Os calendários de vacinação nem colocam no mesmo dia”, conta ela, ressaltando então a importância de obedecer a recomendação do médico e não insistir que tudo seja feito em um dia só.

Em casos específicos, como o de um bebê que vai ter de passar por um transplante de órgão, medula, fazer quimioterapia ou alguma cirurgia em que vai ficar em recuperação por um tempo longo, as vacinas são antecipadas, pois ele precisa estar o mais protegido possível. “Assim usamos os intervalos mínimos entre uma vacinação e outra, que é de um mês, em vez dos dois meses ideais. Mesmo assim não adianta a fazer a vacina com 15 dias, pois não vai funcionar”, diz.

Estudo falso ligou a vacina ao aparecimento de autismo

O pediatra e homeopata cita o caso de um estudo britânico publicado em importantes periódicos científicos no início dos anos 90 que ligou uma maior incidência de autismo por causa da vacinação. Posteriormente foi descoberto que o estudo era falso, ele foi retirado dos periódicos e o autor se retratou e foi proibido de exercer medicina no Reino Unido. No entanto, o estrago já estava feito. Até hoje, mais de uma década depois, há pais que decidem não vacinar seus filhos por causa desse estudo mentiroso.

Com isso, recentemente aconteceu um surto de sarampo na Califórnia, nos Estados Unidos. O sarampo é facilmente prevenido por meio da vacina. Como muitos não haviam sido vacinados por causa de movimentos anti-vacinas, eles pegaram o sarampo. E sarampo pode matar.

Pais ainda decidem não vacinar os filhos por causa de estudo mentiroso
Thinkstock/Getty Images

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545