Do blog "Ser mãe é padecer na internet - Estadão"
Quando a empresária Joana Ciampolini, 33, levou o filho Pedro ao pronto-socorro do Hospital Santa Catarina no sábado, 14/05, não imaginava que o menino ficaria internado na UTI e muito menos que seria impedida de amamentar ou dar seu leite materno para alimentá-lo.
por Rita Lisauskas
24/05/2016
Pedro, 2 meses, internado há mais de uma semana
com bronquiolite com a mãe, Joana, e a irmã Marina, 3 anos
Quando a empresária Joana Ciampolini, 33, levou o filho Pedro ao pronto-socorro do Hospital Santa Catarina no sábado, 14/05, não imaginava que o menino ficaria internado na UTI e muito menos que seria impedida de amamentar ou dar seu leite materno para alimentá-lo. Pedro tem um quadro de bronquiolite, inflamação nos bronquíolos causada na maioria das vezes pelo vírus sincicial respiratório que atinge principalmente os bebês menores de 2 anos. No pronto-socorro e com o peito cheio de leite, Joana avisou que o menino precisava mamar. Foi impedida inicialmente porque, segundo os médicos, havia risco de broncoaspiração.
Na manhã de domingo o pediatra da UTI do hospital avisou que o menino precisava ser alimentado e que prescreveria leite artificial. Joana disse não, queria ordenhar o leite materno do peito para oferecer ao filho. Foi aí que começou uma série de negativas que impediu Pedro, que só tinha contato com leite materno até então, recebesse o alimento vindo da mãe. “A maioria dos médicos que tratou o meu filho foi gentil, disse que sabia que o leite materno era melhor, mas afirmava não poder permitir que eu oferecesse por uma decisão administrativa”. A proibição ocorria, segundo a administração do hospital, porque a sala de ordenha foi fechada no início de 2015 junto com a maternidade do Santa Catarina. Desde então não há como manipular com segurança o leite materno que seria oferecido ao menino por sonda. “Eu disse a eles o quanto aquilo era absurdo. Se eles tem uma técnica em nutrição que mistura o leite artificial em água, por que seria mais arriscado oferecer o leite que sai pronto do meu peito?”, questiona.
Ativistas em frente ao Hospital Santa Catarina pedindo explicações:
há mais de uma semana mãe tenta oferecer leite materno ao filho internado na UTI
Começou então uma queda de braço perdida por Joana há mais de uma semana. Ela afirma que além de não poder oferecer o leite materno ao filho, ninguém veio procurá-la ou orientá-la sobre a importância de ordenhar e estocar esse leite para que ela volte a amamentar assim que possível ou mesmo checar se havia risco de mastite, inflamação nas mamas que pode ocorrer quando os peitos estão cheios de leite e não são esvaziados. “Se eu não tivesse informação prévia minha amamentação poderia ter acabado aqui”, afirma, preocupando-se com o fato de a sua produção de leite ter baixado drasticamente já que passa o dia na UTI com o filho e não consegue ordenhar e estocar o leite materno dentro do hospital.
Segundo o médico Moisés Chencinski, membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o leite materno é uma das principais armas para que Pedro se recupere da bronquiolite. “O leite materno não é apenas nutrição. Ele representa, junto com as vacinas, a mais importante defesa do organismo contra infecções digestivas e respiratórias. O leite materno tem anticorpos, imunoglobulinas, entre as quais a IgA, que interferem na ação de vários vírus, inclusive do vírus sincicial respiratório, responsável pela bronquiolite”, afirma. “A mãe deveria ser orientada para manter a coleta adequada, preservando a produção, até doando a bancos de leite, para que, assim que a criança esteja extubada e em condições, possa mamar diretamente do seio materno, não correndo riscos de dificultar a manutenção da amamentação”, completa.
Antônio ficou 15 dias internado na UTI do Samaritano também com bronquiolite:
O leite materno foi importante na recuperação dele, afirma a mãe, Letícia Fagundes.
Foto: Bianca Vasconcellos
Antonio, 1, filho da jornalista Letícia Fagundes, 33, também foi internado com bronquiolite quando tinha apenas 7 dias de vida. Ficou na UTI do Hospital Samaritano por 14 dias. “Não foi um balde de água fria. Foi um tsunami emocional. E uma das coisas que me deixava melhor era poder ordenhar e saber que ele, embora hospitalizado e dependente de alimentação por sonda, recebia meu leite. Em todo o período da UTI ele recebeu exclusivamente o meu leite”, conta. O quadro era grave mas Antonio reagiu muito bem, melhor do que o esperado. “Lembro muito da equipe médica e das enfermeiras sempre falando da importância do leite materno nessa melhora”, afirma.
Em nota, o Hospital Santa Catarina afirma que “a sala de ordenha, na qual serão realizados os procedimentos referentes à coleta de leite humano (LHO), já constava no plano diretor de investimento do hospital, e deve ser aberta nos próximos seis meses”. Para o pediatra Moisés Chencinski, uma eternidade. “Um mês é tempo suficiente para isso. Uma vez escolhido o local adequado, não haveria necessidade de tanto tempo para montar uma sala. Até porque o hospital já teve uma. E ‘know how’ eles devem ter”, conclui. “Mas a questão é: melhor ter uma sala bem montada do que não ter”, completa.
Segundo o Santa Catarina, “o prazo para implantação acontece porque – para os hospitais que se propõem a oferecer o espaço – é necessário atender exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Resolução RDC Nº de 171, de 4 de Setembro de 2006, onde constam as recomendações técnicas capazes de garantir a manutenção das características imunobiológicas e nutricionais dos produtos. O não atendimento dessas premissas, segundo a literatura científica, resulta em infecções associadas ao leite materno, em geral, relacionados ao processo (incluso bombas de sucção contaminadas e manipulação). A Instituição ressalta, no entanto, que todas as crianças que não estão em ventilação mecânica e sedação, mesmo dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica, recebem amamentação natural. Por fim, o Hospital Santa Catarina reforça que preza pelo atendimento humanizado, pela segurança de seus procedimentos e de seus pacientes e que não descumpre qualquer norma vigente.”
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545